Ligações para o CVV passam a ser gratuitas, além de abranger todo o território nacional

Por JornalVozAtiva.com Publicado em 02/07/2018, 18:24 - Atualizado em 03/07/2018, 08:55

“Estamos todos numa multidão e numa solidão ao mesmo tempo”. A frase, no mínimo contraditória, é de Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês que morreu ano passado e utilizou o conceito de “Modernidade Líquida” como forma de explicar os processos das relações sociais na atualidade. Nessa sociedade, pós-moderna e líquida, emergem o individualismo, a fluidez e a efemeridade das relações. Em um mundo cada vez mais conectado, é enorme a solidão que experimentamos. Numa época onde é tão raro o dom de ouvir, e escutar, há momentos em que tudo o que precisamos é de um ombro amigo. Alguém que nos ouça, preste atenção em nossos sentimentos e seja capaz de aceitar a dor que nos assola, sem julgamentos ou críticas. Depressão Presas em suas próprias redomas de vidro e diante da dificuldade de encontrar um refúgio, as pessoas estão adoecendo, e pior, morrendo “sufocadas”. Tanto que em março de 2017, com a depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha “Vamos conversar”. Mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, um aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015. Ainda de acordo com dados divulgados pela OMS, o índice de suicídios cresceu entre 2011 e 2015 no Brasil. Segundo a pasta, esta é a quarta maior causa de mortes entre jovens de 15 e 29 anos. Em 2011, foram 10.490 mortes: 5,3 para cada 100 mil habitantes. Já em 2015 o número chegou a 11.736: 5,7 a cada 100 mil. Prevenção ao suicídio Por isso, agendas estratégicas de prevenção ao suicídio estão sendo rigorosamente implantadas. O Brasil está entre os países que assinou o Plano de Ação em Saúde Mental 2015-2020 lançado pela OPAS com objetivo de acompanhar o número anual de mortes e o desenvolvimento de programas de prevenção de saúde pública no mundo. Várias iniciativas se unem ao plano da Organização Mundial da Saúde (OMS), que visa diminuir o número de suicídios em 10% até o ano de 2020. Atualmente, 800 mil pessoas cometem suicídio anualmente. O Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Ministério da Saúde, a partir deste domingo (1), passa a atender gratuitamente, através do número 188, a todo o território nacional. Há mais de 50 anos, voluntários se dedicam a ouvir a dor alheia 24 horas por dia durante todos os dias da semana. De acordo com o CVV, a meta de atender os mais de 5.500 municípios brasileiros foi concluída com quase dois anos de antecedência. A previsão inicial era de que a expansão, realizada em fases, aconteceria somente em fevereiro de 2020, dada a sua complexidade técnica. Porém, em um esforço dos voluntários do CVV e das operadoras de telefonia fixa e móvel, o serviço já está disponível. Quero conversar O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. Se você quer ser atendido pelo Programa de Apoio Emocional, além de ligar para o 188, você também pode acessar o site do CVV e escolher uma das formas de contato no rodapé da página ou acessar a opção “Quero Conversar”. Mesmo que você não tenha certeza de que precisa de ajuda, não tenha receios em entrar em contato com o CVV. Um de seus voluntários estará à sua disposição. Nos atendimentos o anonimato é sempre garantido. Os voluntários não têm qualquer tipo de contato com quem liga a não ser o próprio atendimento. Ele se restringe ao contato feito no momento do plantão. Não há conversa depois, troca de perfis de redes sociais ou números de telefone. Você também não precisa necessariamente sofrer de depressão para entrar em contato com o CVV, algumas pessoas ligam simplesmente porque sofrem de solidão e procuram alguém para compartilhar o que acontece no dia.  A arte de perder Perder dói, mas também, como quis a poeta americana Elizabeth Bishop, perder pode ser uma arte. Há também aqueles, como Ricardo Campolim, que descobrem na perda mais um motivo para seguir adiante. O geólogo e produtor cultural, após vivenciar a perda de seu filho, decidiu mergulhar ainda mais na causa pró-vida e tomou a frente da implantação do “Programa Como Vai Você”, criado pelo Centro de Valorização Vida, em Ouro Preto. O Núcleo de Apoio à Vida de Ouro Preto (NAVIOP), mantenedora do Centro de Valorização da Vida de Ouro Preto, foi lançado em fevereiro de 2018.  A criação da ONG foi o primeiro passo para o requerimento do posto CVV na cidade e recebe apoio de voluntários, moradores e associações diversas. Em Ouro Preto, o posto do CVV está em funcionamento no Prédio da Estação, realizando atendimentos pelo 188 (24 horas, todos os dias da semana) e também conta com atendimentos presenciais de quarta a domingo, das 8h às 11h, com previsão de atendimento em todo o horário comercial. Para o psicólogo e voluntário do CVV, Luiz França, a gratuidade e expansão do serviço de prevenção ao suicídio é um marco da saúde pública. “O Centro de Valorização da Vida já está há um bom tempo na estrada, lutando pela vida e muita gente ainda não encontra um apoio ou  oportunidade de conversar e se abrir. Diante da impossibilidade de, muitas vezes, se abrir com alguém mais próximo, muitos optam pelo CVV, pois sabem que não serão julgadas, além de ser atendidas de forma sigilosa”. França ressalta ainda a importância da gratuidade em todo o território nacional, já que o suicídio não é uma realidade apenas nas grandes cidades. “Em muitos lugares esquecidos no país existe uma grande carência e muitas pessoas não têm acesso ao básico”, finalizou.