Contra a Cultura do Estupro, mulheres saem às ruas, em Ouro Preto-MG

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Por João Paulo Silva Publicado em 03/06/2016, 21:21 - Atualizado em 05/06/2016, 00:29
Por João Paulo Silva Fotos-João Paulo Silva Veja dezenas de fotos abaixo do texto. O Ligue 180 foi criado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em 2005, para servir de canal direto de orientação sobre direitos e serviços públicos para a população feminina em todo o país (a ligação é gratuita). A Adolescente de 16 anos, estuprada por 33 homens no Rio de Janeiro, foi o estopim das manifestações 'Não dói o útero e sim a alma'. A frase é da adolescente Beatriz, de 16 anos, que no dia 23 de maio foi vítima de um estupro cometido por 33 homens no Rio de Janeiro. O fato ganhou ampla repercussão na mídia nacional e internacional e culminou no I Ato Contra o Fim da Cultura do Estupro. Diversos protestos ocorreram, concomitantemente, nas principais capitais e cidades do país na última quarta-feira (1°). Repudiando a violência contra a mulher e lembrando que, de acordo com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, em Ouro Preto, o ato teve início às 17h na Praça Tiradentes com forte adesão de mulheres. Após se concentrarem na Praça Tiradentes, onde confeccionaram cartazes, as participantes desceram a Rua Conde de Bobadela (Direita), sentido ao Largo do Rosário, realizando uma pausa a cada 11 minutos em referência aos dados do FBSP. A PM (Polícia Militar) não soube informar o número exato de participantes. Centenas de mulheres, a maioria delas muito jovens, empunharam cartazes e entoaram palavras de ordem repudiando a cultura do estupro e lamentando o fato ocorrido com a adolescente carioca. “Não podemos deixar que aquela jovem de 16 anos, estuprada por 33 homens, seja apenas mais uma na estatística da barbárie do machismo e do patriarcado, funcional a essa sociedade que explora e desumaniza as relações sociais”, lembraram os organizadores do ato em seu panfleto distribuído aos participantes. A professora da UFOP - Universidade Federal de Ouro - Sara Martins, foi uma das organizadoras do evento. Ela concorda que o “lamentável acontecimento” com a adolescente carioca foi o estopim para as manifestações ocorridas Brasil afora. “Esse crime de extrema violência e crueldade trouxe à tona a importante discussão sobre a cultura do estupro. Ele reascendeu em todas as mulheres, militantes diretas ou não, a indignação e a vontade de lutar”. A professora ainda destacou a necessidade urgente de se ter uma delegacia especializada na região, pois de acordo com ela “a questão do estupro é muito velada por aqui. Temos vários relatos de abusos e estupros coletivos ocorridos em repúblicas universitárias. Essa é uma questão que sempre deve estar em pauta, sempre deve ser discutida”, destacou. Aida Anacleto, ex-vereadora de Mariana, citou a importância do manifesto. De acordo com ela “esse ato de extrema legitimidade reforça a importância de se discutir a cultura do estupro, tão enraizada no Brasil onde se faz até humor com essa violência tão cruel que causa tanta dor e danos às mulheres. São essas mulheres, a maioria delas muito jovens, que estão mostrando à sociedade que podemos ter voz e falar por nós mesmas”, declarou. No final do ato foi acordado entre a organização e as participantes que os cartazes trazendo dizeres como “Meu útero é laico”, “Somos todos Beatriz”, “Não é culpa da mulher, a culpa é do estuprador”, seriam afixados pelas ruas da cidade, inclusive em repúblicas estudantis onde foram registrados casos de abuso sexual contra mulheres. O ato chegou ao fim mantendo o mesmo tom politizado e engajado do começo. Várias mulheres pediram a palavra e relataram casos particulares de abusos e violência. No dia seguinte, quem passou pelas ruas da cidade, pode perceber que a chuva da manhã levou embora a cor dos cartazes, alguns, desbotados, eram impossíveis de serem lidos. Mas a voz das mulheres, essa continua ecoando por cada canto das seculares ruas de Ouro Preto, lembrando que juntas elas são fortes.

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