Sobre cleptomania, caráter e o desejo irresistível de furtar

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 22/07/2018, 09:55 - Atualizado em 22/07/2018, 11:55
Imagem Ilustrativa livre de direitos autorais/Shutter Stock A cleptomania ou roubo patológico é um transtorno caracterizado pela impossibilidade repetida de resistir aos impulsos de roubar objetos. Classificada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DMS IV), a sua característica mais marcante é a incapacidade em resistir ao impulso de furtar, mesmo que o objeto furtado não seja útil, necessário ou de qualquer valor. Silvia Helena Cardoso, psicobióloga, fundadora e editora-chefe da revista Cérebro & Mente, explica que os objetos não são roubados por sua utilidade imediata ou seu valor monetário. “O sujeito pode, ao contrário, querer descartá-los, dá-los ou acumulá-los”. Ainda de acordo com Silvia, este comportamento se acompanha habitualmente de um estado de tensão crescente antes do ato e de um sentimento de satisfação durante e imediatamente após sua realização. A cleptomania tem sido mencionada pela história dos homens durante séculos. Jean-Étienne Esquiro, um notável psiquiatra francês, que cunhou o termo "alucinação", notou em 1838 que o indivíduo frequentemente se esforça para evitar este comportamento, mas por sua natureza, isto é irresistível. Sobre o transtorno ele escreveu que "o controle voluntário é profundamente comprometido: o paciente é constrangido a executar atos que não são ditados nem por sua razão, nem por suas emoções. Atos que sua consciência desaprova, mas que ele não tem intenção”. Silvia Cardoso ressalta que os indivíduos afetados frequentemente têm outros distúrbios mentais, tais como transtorno bipolar, anorexia, bulimia ou distúrbio da ansiedade. “Adultos com cleptomania roubam porque isto oferece alívio ou conforto emocional. Poucas pessoas procuram tratamento até que são pegas roubando”. O ladrão comum e o cleptomaníaco Embora não existam estudos controlados da psicopatologia da cleptomania, numerosos relatos de casos descrevem uma ampla extensão de sintomas psiquiátricos e distúrbios com aparente cleptomania. Silvia Cardoso aponta que os sintomas mais comuns associados parecem estar relacionados ao distúrbio do humor. A maioria dos estudos de "ladrões anormais" (pessoas que foram apreendidas roubando e encaminhadas para avaliação psiquiátrica) têm descrito taxas elevadas de sintomas depressivos e depressão em seus sujeitos. Dos 57 pacientes cleptomaníacos descritos na literatura, 57% mostraram sintomas afetivos e 36% provavelmente encontrariam um critério diagnóstico para depressão ou distúrbio bipolar. “Alguns pacientes com cleptomania e distúrbio do humor têm descrito uma relação entre seus sintomas afetivos e cleptomaníacos, declarando que seus impulsos de roubar ocorrem quando eles estão deprimidos”. Cleptomania e caráter No artigo “A cleptomania como causa excludente de culpabilidade”, a psicóloga Juliana Ferrari aponta que os indivíduos com cleptomania descrevem o impulso para furtar como "incongruente com o caráter", "incontrolável," ou "moralmente errado". Ainda que um sentimento de prazer, gratificação ou alívio seja vivenciado no momento do furto, os indivíduos descrevem sentimentos de culpa, remorso ou depressão logo após. A citação acima é importante, no sentido de demonstrar o nível de crueldade do transtorno. Julgar ou condenar moralmente um portador ou portadora do transtorno reflete apenas falta de alteridade e compaixão, pois em alguns casos quando a pessoa se dá conta do ato ilícito que cometeu, pode passar a ter um quadro de depressão, remorso, sentimento de culpa e etc. Além disso, conforme afirma o próprio DSM, no geral, o cleptomaníaco tem problemas familiares, profissionais e pessoais. Tratamento Não existem estudos controlados de tratamentos somáticos ou psicológicos em cleptomania. Relatos de casos individuais, entretanto, sugerem que várias formas de terapia comportamental podem ser efetivas em alguns pacientes. Ainda de acordo com a pesquisadora, existem também relatos isolados do sucesso do uso de psicoterapia psicanalítica, mas existem também muitos relatos negativos. “Outros relatos de caso sugerem que medicamentos antidepressivos ou com propriedades estabilizadoras do humor podem ser efetivos na cleptomania”, explica Silvia.

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