De estresse à demência: como a homofobia compromete a saúde mental

LGBTQIA+ possuem maior propensão a desenvolver declínio cognitivo na terceira idade

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 08/05/2023, 16:37 - Atualizado em 08/05/2023, 16:37
Imagem ilustrativa. Crédito – Reprodução / Divulgação. Siga no Google News

Em 17 de maio é celebrado o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia, ou LGBTfobia, (International Day Against Homophobia, em inglês), criado pelos movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos em memória à data em que a homossexualidade foi excluída da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 17 de maio de 1990.

“Também conhecida como Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, a data visa conscientizar a importância da luta contra a discriminação da sexualidade ou identidade de gênero”, frisa Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexologia Clínica, membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana) e especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).

Um estudo conduzido por pesquisadores da UNESP e da USP, publicado na revista científica Nature Scientific Reports, mostrou que o percentual de brasileiros adultos declarados assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero é de 12%, ou cerca de 19 milhões de pessoas, levando-se em conta os dados populacionais do IBGE.

Os resultados da pesquisa apontaram que, dentre os 12% considerados LGBTQIA+, 5,76% são assexuais, 2,12% são bissexuais, 1,37% são gays, 0,93% são lésbicas, 0,68% são trans e 1,18% são pessoas não-binárias.

Como a homofobia afeta a saúde mental?

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de agressões contra LGBTQIA+ registradas no ano de 2021 foi de 1.719, um aumento de 35,2% em relação a 2020, quando foram registradas 1.271. Já o número de estupros passou de 95 para 179.

“Em pleno século 21, mesmo após anos de esforços dos movimentos em prol dos direitos humanos, a identidade transgênero e a afeição por indivíduos do mesmo sexo/gênero continuam sendo encaradas como uma anormalidade por alguns segmentos da sociedade”, afirma Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

Segundo Claudia Petry, a comunidade LGBTQIA+ passa diariamente pela sensação de não pertencimento à sociedade, de não se enquadrar no espectro binário de orientação sexual e identidade de gênero, sendo fortes gatilhos para desencadear transtornos comportamentais.

Confira alguns deles:

Distúrbios mentais

Vários estudos realizados pela Mental Health Foundation, instituição no Reino Unido voltada à promoção da saúde mental, confirmam que homossexuais e transexuais têm maior suscetibilidade a transtornos psiquiátricos em comparação aos heterossexuais.

Já o pesquisador Ilan H. Meyer, do Departamento de Ciências Sociais e Médicas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, também examinou a prevalência de distúrbios mentais em indivíduos LGBTQIA+.

O autor considerou fatores como preconceito, falta de apoio familiar, exclusão dos espaços públicos, discriminação no ambiente de trabalho, isolamento e, consequentemente, as experiências diárias de rejeição e hostilidade.

“O estudo concluiu que estes fatores contribuem para o desenvolvimento de estresse crônico, ansiedade generalizada, depressão, pensamentos suicidas, automutilação, abuso de álcool e substâncias, entre outras condições”, pontua a psicóloga Monica Machado.

De acordo com Claudia Petry, também é muito comum desenvolver a chamada homofobia internalizada. “A pessoa começa a criar uma negação da própria orientação sexual, gerando enfrentamento para aceitar a si mesma. Esse quadro costuma ocorrer devido à sobrecarga emocional que vai sendo internalizada ao longo da sua vida”.

Declínio cognitivo

Uma pesquisa da Universidade do Estado de Michigan, liderada por docentes de Sociologia da instituição e divulgada no The Gerontologist, trouxe um dado alarmante: indivíduos LGBTQIA+ possuem maior propensão a desenvolver comprometimento cognitivo leve ou demência precoce na terceira idade, em comparação a adultos heterossexuais na mesma faixa etária.

O trabalho comparou habilidades cognitivas de 3.500 adultos LGBTQIA+ e heterossexuais, usando uma ferramenta de triagem e um questionário que testa seis domínios. Essas áreas incluíam orientação temporal, linguagem, habilidades visuoespaciais, função executiva, atenção, concentração e memória de curto e longo prazo.

Dentre as conclusões, o estresse e a depressão, comuns nesse grupo, foram considerados os fatores de risco mais importantes para o declínio cognitivo ao decorrer da vida.

Baixa qualidade de vida

Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a partir de microdados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do IBGE, revelou que a população LGBTQIA+ no Brasil possui, em média, três vezes mais chance de sofrer violência física do que o público heterossexual.

O Instituto Nacional de Estatísticas Britânico (ONS) corroborou com a tese: suas pesquisas indicaram que as métricas de qualidade de vida de pessoas da comunidade LGBTQIA+ eram mais baixas do que as registradas por heterossexuais.

“De fato, lidar com ataques homofóbicos constantemente, seja por agressão física ou moral, pode causar danos irreparáveis e comprometer a saúde da pessoa como um todo. Daí a importância de buscar ajuda especializada e, principalmente, denunciar todo e qualquer episódio de homofobia”, finaliza Monica Machado.

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