Prosa na Janela: Leia “Uma flor entre as flores”, por Roberto dos Santos

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 18/07/2022, 13:15 - Atualizado em 18/07/2022, 13:15
Foto – Roberto dos Santos. Crédito – Arquivo pessoal. Siga no Google News

Num desses dias frio de julho, um homem se aquecia ao sol sentado num banco à margem de um imenso gramado lá na UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto. Aguardava um dos postos bancários iniciar o expediente. Como ainda faltava algum tempo para isso acontecer, pegou seu celular e foi ver as notícias do futebol, uma de suas paixões.

Ao seu lado naquele assento, tinha uma revista que parecia ter sido esquecida ou deixada de propósito. É certo que ele a viu, mas seguiu centrado no celular se inteirando das novidades do futebol. É quase certo também que tenha imaginado que o dono ou dona da revista estaria nas proximidades e que voltaria a qualquer momento. Uns 30 minutos mais tarde e a revista permanecia no mesmo lugar, era quase certo que o dono ou a dona não mais voltaria.

Ele então a pegou e começou a folheá-la. Era uma revista de botânica.

Na página 45 ele parou inesperadamente, as imagens estampadas naquela página pareciam dizer alguma coisa. Seu olhar vagava parecendo mergulhar no seu inconsciente e resgatar alguma coisa ou acontecimento relevante a sua existência

Ele olhava para quatro rosas num lindo jardim, mas não era uma imagem tão comum assim, três delas eram azuis e apenas uma era cor de rosa. E não foi a raridade das rosas azuis o motivo de sua inquietação, nem a explicação da revista ao escrever que as rosas azuis são o resultado de variações genéticas, o que explicava a sua pouca visibilidade a enfeitar os jardins.

O que realmente o prendera naquela página foi a rosa cor de rosa que instantaneamente trouxe a lembrança de uma noite especial em sua vida.

Augusto era o nome desse homem que esperava o posto bancário da UFOP abrir. Dentre as suas características marcantes destacava-se a observação, a apreciação das coisas bonitas da vida, a sensibilidade e aguçada percepção.

Esses sentidos se afloraram quando as rosas da pagina 45 projetaram na sua frente à noite que conheceu Nicole.

Ele a conheceu na Praça Gomes Freire em Mariana, cidade histórica das Minas Gerais. Lugar sempre referido como “jardim”. Num sábado à noite.

Num dos canteiros de flores espalhados pelo local, havia três rosas juntas. Do outro lado do canteiro estava Nicole a olhar as rosas.

Ao invés de observar as lindas rosas no jardim, Augusto não tirava os olhos de Nicole. Ele não conseguia se desprender da imagem dela, era como se ela fosse uma rosa daquele jardim.

Na verdade era para Augusto a rosa mais bonita de todo aquele lugar. Ele sentiu calafrios, ele não conteve sua emoção, olhava Nicole toda agasalhada, cabelos a descansar nos seus ombros, um nariz lindo, os olhos ele não sabia se eram azuis, verdes ou castanhos claros, só tinha a certeza de que eram os mais lindos do mundo. No sorriso tinha simplicidade e altivez, era como uma poesia sem palavras, para sentir, para se perder.

Aquela mulher linda a observar as flores nem sabia, nem fazia ideia de que Augusto olhava exclusivamente para ela, talvez fosse influência da multidão que a cercava, afinal o local era muito frequentado no fim de semana e naquele sábado a noite estava bem povoado.

Não era menosprezo as flores no jardim por parte de Augusto, era o vislumbre por nunca ter visto uma flor passear entre as flores.

Enquanto sua imaginação desenhava a melhor noite da sua vida, o posto bancário na UFOP já se encontrava em funcionamento, contudo ele ainda demorou um pouco a dar conta disso, pois seu comportamento se assemelhava a alguém que despertava de um transe.

Parecia estar revivendo aqueles momentos no “jardim” em Mariana. Seu rosto estava umedecido de lágrimas saudosas, aquela noite no jardim foi a primeira e única vez que viu Nicole.

Embora tenha voltado todas as noites que seguiram, ele nunca mais a viu. E ela nem percebeu que ele a olhava, mas mesmo assim Augusto não ficou triste, pois para ele olhar para Nicole foi como carícias na alma.

Augusto fechou a revista que foleou até a página 45, colocou no mesmo e lugar e se levantou.

Era hora de ir ao banco para resolver suas coisas.

As rosas da pagina 45 nada tinham a ver com as rosas do jardim em Mariana, apenas trouxeram lindos momentos outrora vividos.

Onde está Nicole?

Quem sabe um dia Augusto a encontre e sua lembrança se transforme numa linda e feliz realidade.

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