Monsenhor Horta está em festa. O charmoso e aconchegante distrito, cravado entre as serras de Minas Gerais, comemora nesta terça-feira (7), o Dia de São Caetano, padroeiro da comunidade. Além de conhecido e exaltado por seu rico artesanato, culinária e manifestações culturais, o local de gente simples, acolhedora e religiosa ainda guarda uma das mais belas matrizes do estado.
A Matriz de São Caetano, com mais de dois séculos de história, pode causar espanto em qualquer desatento que passe por sua fachada. O seu exterior simples, sem muitos adereços ou decorações se contrasta com o seu interior. As peças sacras, os ornamentos em formas de flores, conchas e animais, as imagens dos santos, anjos barrocos, em lindos tons ouro envelhecido, são capazes de encher os olhos e colocar até mesmo um descrente em contato com a espiritualidade e o divino.
E logo nas primeiras horas da manhã, a igreja foi tomada por pessoas que muito se assemelham a essa joia do barroco mineiro: simples e franciscanas por fora, mas cheias de riquezas em seus interiores. Eram moradores do distrito, pessoas da comunidade, gente de outras regiões. Todas querendo prestar homenagem a este servo de Deus, padroeiro do pão e do trabalho, que renunciou aos seus bens para dedicar-se única e exclusivamente à vida comum.
Devoção
Cecília Izidoro é moradora do distrito e conta um pouco da sua relação com o santo. “Sou devota de São Caetano desde que me entendo por gente, assim como meus pais e avós. Já recebi inúmeras e incontáveis graças. Depois de Deus, Jesus Cristo e da Virgem Maria é ele quem me dá forças, quem me levanta. Hoje eu estou aqui apenas para agradecer tudo o que ele tem feito por mim”.
Cristiana de Freitas também nasceu e sempre morou em Monsenhor Horta, conta orgulhosa. Ela também deu testemunhos de fé e relatou graças alcançadas por intermédio do sacerdote italiano. “Eu poderia falar por horas de todas as graças recebidas através de São Caetano. Ele está sempre em meu pensamento e no coração. Peço a ele que cuide dos meus filhos e netos. Inclusive já fui curada de um vício’”.
Presenças ilustres
E para um dia e local ilustres não poderiam faltar também convidados célebres. A missa, em honra ao padroeiro de Monsenhor Horta, foi celebrada, às 10h, pelo quase nonagenário bispo emérito Dom Francisco Barroso Filho. Esbanjando jovialidade e lucidez, o sacerdote contou que Caetano de Thiene era fruto de uma família nobre da Itália, mas que, desde muito jovem, mostrava grande preocupação e zelo pelos menos favorecidos, abrindo asilos para idosos e inúmeros hospitais para doentes.
“Essa data é um convite para refletirmos sobre a nossa vocação e os conselhos de amor e desprendimento do Evangelho. A vida dos santos é uma interpretação da palavra de Deus. Essa leitura pode nos oferecer um impulso para lutarmos por um mundo mais justo, sem desigualdades sociais. Por isso não basta ser devoto de São Caetano, mas deixar de seguir o seu exemplo”.
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, também lembrou a vida de desprendimento de São Caetano. “Este homem renunciou a todos os seus bens para se dedicar única e exclusivamente à vida comum, ao bem e ao amor. Talvez se nos esforçássemos para seguir um pouco o seu exemplo teríamos um mundo melhor”.
Ainda à exemplo da lição que São Caetano deixou aos cristãos e ao mundo, através de uma iniciativa de Arthur Ramos Carneiro (presidente do Zé Pereira do Club dos Lacaios), vários corais de Ouro Preto se uniram à festividade, homenageando Mariana (sua cidade irmã) e o distrito com o talento de seus membros.
O Coral e Orquestra São Pio X, fundada pelo próprio Bispo Francisco Barroso, em 1959, se uniu ao Coral Sant´Ana, Coral Cristo Rei, à Orquestra União Musical de Monsenhor Horta (a mais antiga da região, com 182 anos), à Banda Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores e à Sociedade Musical Senhor Bom Jesus de Matosinhos, presenteando a todos os presentes com um verdadeiro bálsamo aos ouvidos.
Tradição
O ouro-pretano Maurício do Sacramento, membro do Coral e Orquestra São Pio X desde 1961, afirmou estar transbordando de alegria com a cerimônia. “Realmente, me sinto muito feliz. Essa felicidade vem de poder servir, onde quer que seja, com o dom que Deus me deu”.
Já se depender da força jovem, de membros da nova geração, a tradição e história dos corais em Ouro Preto nunca terão fim. Mateus França, de 16 anos, é a prova disso. Membro do coral desde janeiro do ano passado, ele afirmou – “eu amo cantar, aprendi com meu avô. Alguns pensam que esse tipo de canto não é para os mais jovens, mas eu discordo. Gosto muito da tradição e quero mantê-la sempre viva”.
Antes de encerrar a missa, com a benção final, cantada em latim, o Bispo Francisco Barroso pediu à comunidade que cuide bem do atual pároco da Matriz de São Caetano, padre Alex Martins de Freitas, que, por sua vez, o agradeceu pela presença. As comemorações ao Dia de São Caetano, Padroeiro de Monsenhor Horta, continuaram com celebração da Missa Festiva, às 18h30min, procissão com a imagem do Santo e Benção Solene.
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