Antonio Marcelo Jackson Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Ouro Preto. Desenvolvimento e Emprego em Ouro Preto: qual caminho seguir? Como desdobramento a minha crônica anterior (“O IDH de Ouro Preto: análise preliminar”), onde apresento uma análise sumária do Índice de Desenvolvimento Humano de Ouro Preto, faço algumas considerações a respeito de como se faz crescer econômica e socialmente uma cidade. De uma forma tradicional e até mesmo pela cultura que se forjou no Brasil, acredita-se que qualquer desenvolvimento deve passar pela indústria. Essa idéia, típica do século XIX e das primeiras décadas do século XX, indica a chaminé como único elemento da paisagem que faz concluir o sucesso da economia local; porém, há tempos esse princípio caiu por terra – e por motivações nem sempre dignas. Em primeiro lugar, a automação fabril permite cada vez mais um número menor de empregados, o que torna fácil a ação de se instalar uma fábrica nos mais diversos locais, e os limites ficaram restritos, fundamentalmente, ao transporte da matéria-prima e do escoamento do produto final. Frente a isso, com essa mobilidade possível e com as melhorias no transporte de carga (particularmente navios), essas unidades fabris iniciaram a busca a uma mão-de-obra mais barata (a partir da redução, senão, ausência, de legislação trabalhista e de segurança no trabalho) nos países asiáticos e mais recentemente em algumas nações africanas. Não é de se estranhar, portanto, o destaque constante nos setores de serviços e turismo nas nações mais desenvolvidas do planeta, em detrimento à presença das indústrias. Por último, o item mão-de-obra barata se coaduna com mão-de-obra qualificada, ou seja, não há instalação de qualquer coisa sem a pré-existência de trabalhadores qualificados. Quando observamos esses aspectos, concluímos que Ouro Preto-MG não preenche os requisitos ou não terá resultados satisfatórios em tal empreendimento. A instalação de fábricas na cidade não gerará um número expressivo de empregos, a cidade não possui um sistema de transporte ou rodovias e/ou ferrovias que permitam um largo recebimento de matéria-prima e escoamento de qualquer produção, a mão-de-obra é barata, porém não há qualificação. Sem esquecermos os resultados do IDH, apenas 11,82% dos ouropretanos concluíram o curso universitário e somente 30,99% cursa regularmente o ensino médio, ou seja, não há mão-de-obra qualificada disponível na cidade e na falta de pessoal capacitado, qualquer empreendimento fabril buscará em outras localidades esse trabalhador: no máximo aumentará a especulação imobiliária (poucos imóveis disponíveis para novos moradores), como ocorre em Mariana em virtude da mineração. Contudo, alguém pode perguntar: “mas, no texto que você apresentou, 14 das 44 cidades com mais IDH têm na indústria a base de suas economias; por que Ouro Preto não pode também se inserir nessa lista?” A resposta reside exatamente nos dizeres acima: porque em todos os municípios da lista a indústria faz parte de projetos nacionais ou regionais de desenvolvimento; portanto, compõem um sistema que paulatinamente beneficia uma região ou o país. E não seria o caso de Ouro Preto. Se não é na indústria a saída, os dados indicam que a aposta deva ser feita no turismo, e motivações não faltam. A primeira delas é a constatação da rede hoteleira e de restaurantes da cidade no texto de Gabriel Tropia, Coordenador de Comitê de Parceiros da Agência de Desenvolvimento de Ouro Preto. De acordo com ele, eventos como Festival de Inverno promovido pela UFOP impulsionam a taxa de ocupação dos quartos e das mesas nos bares e restaurantes e passam a ser fundamentais a esses setores da economia local. Contudo, se essa afirmação é verdadeira, de outro lado, inúmeras lacunas ainda estão à espera de preenchimento. A primeira delas diz respeito a uma maior capacitação no recebimento ao turista: faltam guias conhecedores de alguma língua estrangeira, gentis no trato com o visitante e conhecedores da história local. Perdi a conta do número de vezes em que vi um guia atendendo o estrangeiro numa língua que nem mesmo poderia ser denominada de português, tenho relatos de ameaças a turistas e até me afasto quando vejo alguém na Casa dos Contos indicando o local da fornalha que derretia o ouro como sendo a cozinha da residência e um depósito no nível mais baixo como se fosse a antiga senzala. Por curiosidade, a senzala da residência de João Rodrigues de Macedo (o primeiro proprietário da atualmente denominada Casa dos Contos) ficava onde hoje se localiza o Grande Hotel. História de Ouro Preto e das Minas Gerais não é o forte dos guias. Somando-se a isso, deve-se capacitar também o funcionário que atende o turista nas lojas, hotéis e pousadas e restaurantes. Mais uma vez a ausência de uma língua estrangeira, e de melhor trato, inibe a maior presença do turista. Outra preocupação deve residir nos táxis de Ouro Preto e isso exige a ação do poder público. É inadmissível que os carros não possuam taxímetro e as corridas sejam calculadas pelo rosto e fala do freguês. Obtive de três motoristas declarações que deixam clara a prática e de um deles a fala que mais me impressionou. Disse-me ele: “O SENHOR TEM QUE ENTENDER QUE O MORADOR DE OURO PRETO É MUITO POBRE E NÃO ANDA DE TÁXI. POR ISSO A GENTE TEM QUE EXPLORAR O PESSOAL DA UFOP E OS TURISTAS”, FOI O QUE ME DISSE O TAXISTA. Essa fala me dá mote pára redigir um número sem-fim de linhas; contudo, acho que ela é auto-explicativa. Ou bem isso se modifica, ou a cidade tangencia perigosamente alguns escândalos na praça. É claro que, capacitando profissionais, ocorrerá um aumento salarial no setor de serviços da cidade. Porém, como 92% dos trabalhadores ouropretanos recebem até dois salários mínimos e a renda per capita da cidade é inferior a média do estado de Minas Gerais, não parece má idéia uma melhor distribuição de renda. Quem sabe o morador passe até mesmo a usar os serviços dos táxis! Por fim, é importante frisar que essas e muitas outras sugestões podem encontrar apoio na UFOP, que possui um curso de graduação em Turismo e tem uma empresa júnior que fornece suporte para a área. De resto, é arregaçar as mangas e trabalhar para a melhora de uma cidade que merece muito mais do que tem hoje. Antonio Marcelo Jackson Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Ouro Preto.