“Paisagismo à flor da pele: Jardins Sensoriais”, pela arquiteta e urbanista Mônica Flores

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Por Mônica Flores Publicado em 01/11/2019, 18:28 - Atualizado em 01/11/2019, 18:28
Foto-Inauguração das novas adaptações para deficientes no jardim sensorial do Jardim Botânico. Crédito-André Gomes de Melo Siga no Google News

O paisagismo é o responsável pela transformação e traz ressignificado espacial a paisagem. Além disso a sua valorização faz com que o objeto construído traga a tona a história, do espaço, em questão. Dessa forma, assim como os elementos construídos trabalham estímulos, propriedades e funções, a vegetação também é concebida usando o mesmo raciocínio.

Atualmente, os profissionais da área são bem valorizados, diferentemente de alguns anos atrás e o tema cada vez mais em alta, devido aos grandes eventos de decoração de interiores até os grandes projetos paisagísticos de renome. E, hoje esses profissionais realizam o estudo, o planejamento dos espaços, projetam em softwares específicos, fazem o gerenciamento da implantação e também a manutenção dos jardins, quando houver necessidade, de maneira mais completa.

O paisagismo foi introduzido no Brasil e uma das grandes marcas desse período foi sem dúvidas, o Jardim Botânico, do Rio de Janeiro, criado em 1807, com a vinda de Dom João VI. A partir dessa influência ele, se transformou em Horto Real, recebendo referências de jardins europeus, tendo como finalidade amenizar e aclimatar as espécies. As primeiras plantas usadas eram medicinais, as frutíferas, as aromáticas e as ornamentais, essas últimas foram usadas nos mosteiros e conventos da cidade. Hoje pode-se ainda notar essa herança nos principais jardins e praças dos bairros cariocas.

O Rio virou referência para outros estados e no século XX, o paisagismo brasileiro ganha a influência contemporânea advinda de Roberto Burle Marx, que imprimiu um traçado sinuoso, singular, carregado de plantas exóticas brasileiras coletadas por ele, rico de volumes e formas. Nos últimos anos, o paisagismo brasileiro ganhou novas propostas, tecnologias, estilos e tem atraído muitos profissionais, dentre eles alguns arquitetos, dentre os novos nomes, destacam-se Isabela Ono, Julio Ono e Gustavo Leivas, representando a terceira geração do escritório de Roberto Burle Marx; Alex Hanazaki, André Paoliello, Daniel Nunes, Gabriela Ornaghi, Gilberto Elkis, Isabel Duprat e Benedito Ab-bud dentre outros.

Segundo Ab-bud, “O paisagismo é a única expressão artística em que participam os cinco sentidos do ser humano. Enquanto a arquitetura, a pintura, a escultura e as demais artes plásticas usam e abusam apenas da visão, o paisagismo envolve também o olfato, a audição, o paladar e o tato, o que proporciona uma rica vivência sensorial, ao somar as mais diversas e completas experiências perceptivas. Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos, melhor cumpre seu papel” [1].

A acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcançar, perceber e entender para que se faça a utilização segura e autônoma das edificações, espaços, mobiliários, equipamentos urbanos e elementos, consoante a seu conceito na ABNT NBR 9050/2015. Portanto, é de suma importância que os projetos paisagísticos também sejam acessíveis e adequados à plural diversidade humana. Nesse aspecto, o paisagismo, enquanto proposta sensorial é uma forma de fazer inclusão e fomentar a acessibilidade, onde cada elemento vegetal é disposto de forma que os sentidos sejam aguçados, através de uma estruturação espacial consistente, o que chamamos de jardins sensoriais.

A grande referência está inserida desde a década de noventa no Jardim Botânico. A ideia de Cecília Beatriz da Veiga Soares, paisagista e diretora da AAJB (Associação Amigos do Jardim Botânico), na época. A associação é fruto de lutas desde a década de oitenta pelo Jardim Botânico e tem como função realizar a preservação, ampliação e desenvolvimento do Instituto de Pesquisas através da interação com a sociedade e da mobilização dos seus associados e de instituições nacionais e estrangeiras.

Dessa maneira, em março de 1995, a paisagista Beatriz fundou e idealizou o Jardim Sensorial, com o anseio de proporcionar ao público, em especial as pessoas com deficiência visual, a oportunidade de aguçar os seus sentidos através de flores com cheiro de chocolate, grapette e outros. Ela é autora de livros do gênero, ministra cursos de paisagismo e também realizou o Mapeamento das Florações do Jardim Botânico (disponível para downloads no final da matéria).

Hoje em dia, essa tendência precisa ser bem mais difundida, para que todas as pessoas possam contemplar, também os jardins e conforme defende Abbud, esses espaços devem ter essa função, tornando o paisagismo ao alcance de todos (as). Sendo assim, elenca-se algumas informações, levando-se em consideração, os principais sentidos humanos, para que as propostas sejam trabalhadas no âmbito da cidade e do respeito à diversidade.

Portanto, a VISÃO e o TATO no jardim sensorial podem ser tratados a partir das diferentes texturas, uma vez que, quanto mais perto, melhor se avista e se compreende melhor os diferentes desenhos, cores, texturas das espécies vegetais utilizadas na composição dele. E, em conjunto ao vento e água, alguns  elementos naturais asseguram memórias afetivas e experienciais, o correto emprego dos componentes vegetais pode assegurar tal percepção.

Já o PALADAR pode ser trabalhado empregando espécies frutíferas, flores comestíveis, ervas, condimentos ou ainda legumes e verduras, caso haja área dedicada a uma horta no projeto. O OLFATO pode ser despertado pela presença de espécies aromáticas (plantas, flores e árvores).

A AUDIÇÃO, por sua vez, pode ser explorada através das águas sobre as pedras pela cascata ou o canto dos pássaros, são alguns exemplos práticos de como a audição se manifesta pelo paisagismo, seja em pequenos jardins ou extensos perímetros verdes. É valido ressaltar que esses sons vêm transmitidos da natureza, porém outros podem ser criados na construção do espaço.

Dessa maneira, as escolhas da vegetações de pequeno, médio e grande porte devem ser coerentes com as necessidades do projeto e as suas disposições espaciais adequadas, consoante aos estudos complementares como o estudo de insolação, considerando que algumas espécies sobrevivem à sombra, meia sombra e no Sol pleno. E que este arranjo do espaço pode ser usado com uma função educativa e inclusiva.

Foto-A arquiteta e urbanista ouro-pretana, Mônica Flores. Crédito-Arquivo pessoal/Divulgação.

Tomando como exemplo as escolas, as casas de repouso, os hospitais e os institutos dedicados às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, percebemos que a apropriação de espécies vegetais com diferença na textura das folhas, flores, ramagens, forma dos arbustos, forrações pisoteáveis, variação de cores e aromas tem a finalidade de aguçar os sentidos.

Reitera-se que todos os espaços devem ser acessíveis a todas as pessoas e aos novos projetos paisagísticos preconizando a acessibilidade, além de salvaguardar o direito à cidade e ao pertencimento a seus ambientes. E você paisagista, arquiteto e urbanista, já projetou um jardim sensorial? Que tal experimentar e garantir a acessibilidade em seus projetos!?

Notas
[1]ABBUD,2006,p.15

Referências Bibliográficas

ABBUD Benedito. Criando Paisagens – guia de Trabalho em Arquitetura Paisagística. São Paulo: Editora Senac, 2006.

Informações sobre o Jardim Sensorial/Jardim Botânico do Rio de Janeiro
O Jardim Sensorial do Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi reformado em 2015 para consolidar sua vocação de ser um projeto de educação socioambiental inclusivo.

Hoje, o espaço conta com uma equipe de onze monitores, sendo três deficientes visuais e agora também contam com um surdo do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e um intérprete de Libras (linguagem brasileira de sinais). O local possui ainda, piso adaptado e placas com sinalização em braile para identificação das plantas visando um melhor aproveitamento da visita e maior acessibilidade.

Por conta destas ações o Jardim Sensorial recebeu, em dezembro de 2015, o Prêmio Destaque de Turismo da CIETH/CT-OAB RJ 2015, na categoria Projeto de Acessibilidade. O Jardim Sensorial funciona diariamente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro – segundas, das 12h às 17h e de terça a domingo das 8h às 17h. Visitas de grupos devem ser agendadas previamente pelo telefone (21) 3204-2886 (Karen).

Link para download do Mapeamento de Floração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro: https://drive.google.com/file/d/0B8ff9oCRHkAgT25PVDRuRXR0XzQ/view

Site do Jardim Botânico: http://www.jbrj.gov.br/

Como chegar ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro:

LINHAS DE ÔNIBUS

Todas as linhas de ônibus que passam pelo Jockey têm ponto na Rua Jardim Botânico nº 1008.

METRÔ

Os usuários do metrô podem pegar o ônibus de integração na Estação Botafogo e saltar na Rua Jardim Botânico nº 728, entrando no Jardim pela Rua Pacheco Leão nº 101.

Para ir embora, o ônibus de integração para no ponto das tribunas do Jockey Clube, em frente à Praça Santos Dumont. Para os que saírem pela Rua Pacheco Leão nº 101, o ponto mais próximo está localizando na Rua Jardim Botânico nº 667.

BIKE RIO

Além dos bicicletários do JBRJ, o serviço de aluguel de bicicletas Bike Rio tem estações na Rua Pacheco Leão nºs 320 e 915, e na Praça Santos Dumont nº 40.

TÁXIS

Algumas cooperativas de táxi têm ponto nas proximidades do Jardim Botânico do Rio de Janeiro:

Horto Táxi (Rua Von Martius) – 2241- 4222
Gávea Táxi (Rua Marquês de São Vicente) – 2512-5228
JB Táxi (Rua Benjamim Batista) – 2178-4000
Lagoa Táxi (Rua Maria Angélica)– 2233-4605

RIO ROTATIVO

Na Praça Santos Dumont, existe o serviço de estacionamento rotativo oferecido pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Para utilizá-lo, o motorista deve comprar o tíquete diretamente com o vendedor credenciado no local.

Estacionamento do Jockey Club - entradas pela Rua Jardim Botânico, 1003 e pela Praça Santos Dumont, 31 (em frente à Praça). Visitantes do Jardim Botânico têm desconto. Para obter o desconto, peça o selo de estacionamento na bilheteria do Jardim e o apresente junto com o ingresso quando for pagar o estacionamento.

Foto-A paisagista Cecília Beatri. Crédito-Alexandre Machado.

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