Atividades da arquitetura vão muito além de simplesmente criar edifícios”, defende Mônica Flores, arquiteta e urbanista ouro-pretana

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 11/09/2019, 18:25 - Atualizado em 15/10/2019, 20:33
Foto-Personagem Tina Descolada, criação da psicóloga Martha Alencar. Crédito-Divulgação. Siga no Google News

A arquitetura é uma ciência um tanto complexa, que se torna inviável realizá-la sozinho. Dessa forma, através de ações colaborativas ela pode vir a atender grande parte das necessidades das cidades e das pessoas que vivem nelas. De acordo com o arquiteto Mark Wigley, para o Surface Magazine, a “arquitetura está cheia de românticos que pensam que até mesmo pequenas mudanças no ambiente construído criam a aspiração de uma sociedade melhor."

O fato é que, sendo românticos ou realistas, arquitetos e urbanistas e outros profissionais tem-se despertado cada vez mais para atuar na construção conjunta de uma sociedade mais justa, solidária e mais humana. A arquitetura se mostra como uma forma de promover mudanças, sobretudo no ambiente construído, principalmente na acessibilidade, através de projetos, adaptações e também intervenções artísticas.

Portanto, as ações colaborativas tornam as soluções da arquitetura inclusiva mais palpáveis e também factíveis. Essa coluna pretende homenagear o mês de luta da pessoa com deficiência pela inclusão, para isso ela trará trabalhos de quatro pessoas engajadas através da arquitetura e da arte, mostrando que é possível, sim realizar mudanças no ambiente e também aspirar a sociedade a buscar cada vez mais formas simples, objetivas e práticas  para que ela se torne inclusiva a todos.

A colunista, arquiteta e urbanista, Mônica Flores defende em sua missão pessoal, a importância de se apoiar/realizar atividades em prol da melhoria da qualidade de vida das pessoas, sem exceções, exclusões e segregações. Afinal de contas, as atividades da arquitetura vão muito além de simplesmente criar edifícios, ela pode sim modificar o espaço, o comportamento e produzir um estado de bem-estar na vida das pessoas, principalmente as pessoas com deficiência, que representam cerca de vinte e quatro porcento da população brasileira, contabilizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

É lamentável, cobrar em direitos adquiridos na atual conjuntura, uma vez que, eles deveriam ser realidade de muitas cidades, promovendo inclusão, empatia e boas relações entre os diferentes, mas parece que conviver com a pluralidade é difícil para o ser humano. Dessa forma, tornar as cidades acessíveis é uma agenda de todos; lutar por um espaço inclusivo a todos é garantir o direito de ir e vir para muitas pessoas, que diariamente sofrem com a segregação especial, são excluídas de muitas atividades, simplesmente porque muitos deles não oferecem um acesso digno e não são acessíveis.

MÔNICA FLORES – “MOVIMENTO ONDA INCLUSIVA”

Além, do movimento, a arquiteta e urbanista, Mônica Flores atua com projetos de arquitetura voltados para a pauta em questão, principalmente com vistorias, realizando os devidos diagnósticos das condições de acessibilidade a edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos. A arquiteta possui um legado de vários projetos de relevância, como por exemplo na ANDEF(Associação dos Niteroiense dos Deficientes Físicos); no Museu Janete Costa; vários dispositivos do Caminho Niemeyer, incluindo vistorias no MAC (Museu de Arte Contemporânea), no Museu de Cinema (atual Reserva Cultura). As vistorias assumem um papel importante no processo de acessibilidade aos espaços, haja vista que, os principais pontos a serem adaptados são evidenciados, aliando economia nas intervenções, reduzindo erros projetuais. As vistorias são acompanhadas em conjunto com o público alvo, afim de que sejam atendidas com afinco todas as suas necessidades e/ou mitigando-as. A acessibilidade nos projetos é garantida legalmente e os arquitetos e urbanistas, possuem responsabilidade social, ética, legal e profissional com a pauta, assim como seus projetos.

LORENA MASCARENHAS – “OLHE NOS MEUS OLHOS “

A arte encontra-se presente em grande parte do nosso cotidiano. Sendo ela, fundamental para que sejamos posicionados no mundo, enquanto sujeitos. Ela sintetiza as emoções, a história e nossa cultura e pode ser apresentada de várias, como por exemplo, através da música, da escultura, do cinema, do teatro, da dança, das artes visuais e também da arquitetura. Além disso, a arte tem sua função social estabelecida, ela é capaz de dar "alertas" para a sociedade e ampliar seus horizontes.

Pensando nisso, Lorena Mascarenhas e Juarez Dias Costas, ambos artistas, foram convidados para uma Exposição intitulada de “Dança das Cadeiras”. Os artistas resolveram levar para a intervenção artística, uma Cadeira de Rodas, baseada numa experiência pessoal, consequência de um acidente sofrido pela ceramista Lorena, em que ela ficou cerca de quarenta e cinco dias em uma cadeira de rodas.

Eles, demonstram a partir da obra, que a acessibilidade constitui um fator importante para o exercício da cidadania da pessoa com deficiência e/ou mobilidade reduzida. Sendo esse fator integrante do processo de inclusão nas cidades. A artista, infere que a  mobilidade da pessoa com deficiência que usa cadeiras de rodas e da acessibilidade aos ambientes construídos, fica refém de espaços inadequados, muita das vezes, não estão adaptados e  não garantem o direito de ir e vir, com segurança e autonomia, conforme estabelece as legislações vigentes.

A artista,  reitera que há muito a se fazer nos espaços públicos e mobiliários ; nos  transporte, nas edificações, nos meios de comunicação, entre outros. Ela imagina também as dificuldades impostas nas escolas públicas e particulares,  se estão de fato aptas e adaptadas a receber pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, sejam eles alunos ou profissionais. Ela, defende que é na escola que a formação do sujeito se inicia, logicamente após a boa base familiar. Para Lorena e Juarez, o papel da arte é justamente de instigar as pessoas, a abrir os olhos para esta realidade e  refletir, descobrindo, aprendendo com a visão de mundo do outro. E ao olhar o mundo que está em um desequilíbrio, tentar experimentar se colocar no lugar do outro, desenvolvendo a empatia. Os artistas agradecem o espaço e almejam contribuir através da obra, para que seja feita uma reflexão em nossa sociedade e em nossas ações, para que elas sejam tomadas urgentemente, para que possamos ser uma sociedade justa, que valorize as pessoas e que elas tenham de fato direitos iguais, sejam incluídas.

Exposição “Dança das cadeiras”, Shopping Ponteio Lar Shopping

Curador Hogenério

ELIZ MACHADO DIAS – “MAJESTADE”

“Ser arquiteta sem dúvida proporcionou uma atenção maior aos riscos e limitações que tanto observo ao longo dos meus 30 anos de formada, tanto em relação aos menores detalhes: perigo das pisos, pontas, escadas, corrimãos, vãos, onde os acidentes são comuns e praticamente diários. Adoro as formas, a beleza estética e as várias possibilidades construtivas, mas sempre com preocupação e precaução certamente possibilitamos um melhor aproveitamento e uso para todos. Nós podemos criar, conduzir, direcionar e solucionar o vasto universo da construção, nosso dever é proporcionar um “conforto” para todas as pessoas, salientando a necessidade essencial da acessibilidade através da conscientização de todos pois as soluções são muito simples para novos e atuais projetos, falta é a boa vontade e cuidado dos profissionais.

Hoje sou uma pessoa com deficiência física, mas muito antes, todos meus projetos já eram elaborados com rampas, detalhe pequeno, mas levando em consideração uns 20 anos atrás, minha atitude já inseria e respeitava todos. Me entristece ver lugares frios, feito por profissionais “tendência”, onde os proprietários|clientes não são vistos como seres que tem individualidade e identidade, quero dizer, casas sem o aconchego, sem liberdade e é essa liberdade que temos obrigação de proporcionar a todos!”

A arquiteta Eliz está presente na exposição “Dança das cadeiras" no Shopping Ponteio Lar Shopping, com a obra Majestade, que remete a função da cadeira de rodas, que passa a ser também um trono onde se assenta uma majestade, mostrando e elevando a autoestima da pessoa com deficiência e ou mobilidade reduzida e mostrando a importância da intervenção artística no processo da inclusão e da acessibilidade.

MARTA ALENCAR – TINA DESCOLADA

A primeira vez que a arquiteta e urbanista, Mônica se deparou com a Tina foi uma volta a sua infância, quando sonhava em ser arquiteta, e essa lembrança fez com que reforçasse a admiração pela força e coragem que a psicóloga Marta Alencar tem em fazer algo inédito com uma boneca, impactando pessoas por onde passa. A convite da colunista, a autora descreveu como surgiu o personagem Tina Descolada.

Segundo ela, a personagem  é uma jovem cadeirante – descolada, como o nome sugere – que surgiu do imaginário para promover a inclusão e colaborar na identidade visual positiva dos grupos vulneráveis ao preconceito e discriminação. A personagem e agente de inclusão, Tina, foi idealizada pela psicóloga e fotógrafa, Marta Alencar, em junho de 2012.

Denominada agente de inclusão e influenciadora digital, a Tina tem por objetivo mostrar à sociedade o que há de possibilidades, colaborando para a formação de uma identidade positiva e provocando poder nas pessoas nessas pessoas, além de levar a todos o sensível recado: No reino do imaginário podemos tudo! No reino da realidade, cada um deve saber lutar pelo seu possível!

No mundo virtual, a Tina protagoniza suas próprias aventuras, onde narra de um jeito determinado todos os empecilhos que encontra e os desafios vencidos.

Negócio social: a partir do personagem, são realizadas ações – onde o foco principal da Tina é ser motivadora, abraçando e favorecendo a inclusão da diversidade humana  em nossa sociedade – sendo por meio de Exposição de fotos, oficina de fotografia, oficina de corações solidários, desfile “Passarela inclusiva, palestras, ações além do ciberespaço com objetivo de promover a educação inclusiva por meio de atitudes altruístas, respeito e tolerância nas relações interpessoais. Vamos colaborar para uma convivência harmoniosa com às diferenças?

Para maiores informações sobre a Tina Descolada:

www.tinadescolada.com

@tinadescolada https://www.facebook.com/tina.descolada

Contato: Marta Alencar (031) 998125448

CONCLUSÃO

Conclui-se, portanto que, através de ações colaborativas, aliando conhecimentos, experiências e atuando como agentes de inclusão é possível transmitir, disseminar de forma contundente a pauta da acessibilidade. A acessibilidade deve ser encarada para além das legislações, das barreiras, sobretudo as atitudinais. Ela deve ser considerada na agenda desenvolvimentista das cidades, incluída nas discussões do Plano Diretor, respeitada através das pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida que formam as muitas associações de luta e também pelas pessoas que mesmo não fazendo parte do grupo, contribuem desenvolvendo seus projetos em prol da causa. Portanto, é através da partilha do tempo, do conhecimento e do engajamento é que de mãos dadas podemos atuar como promotores da inclusão e da acessibilidade.

As fotos abaixo são respectivamente: Lorena Mascarenhas, Eliz Machado e Mônica Flores 

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