Camuflagem social
Sei olhar nos teus olhos: normal
Escolho um ponto qualquer do rosto e foco e você nem percebe: normal
Sabe os stimmings: aquelas descargas de ansiedade que passam pelo corpo e se materializam em palmas, mãos sacudidas como as asas de um pássaro, e um pulular sem fim no mesmo ponto?
Pois bem: eu os controlo bem.
Vez ou outra eu perco o controle, confesso. Ainda mais diante de tantas informações e cores ao mesmo tempo, que desorganizo.
Mas passa batido como se fosse crise de ansiedade: normal já que as pessoas estão ansiosas.
Pode-se até colocar uma placa para ser lida: "autista sob controle"
Mas… "estar sob controle" é normal à quem?
Então, entro no meu quarto ou banheiro, em uma hora combinada comigo mesmo, e sacudo mãos e corpo, pulo e pululo ou bato palmas, e esfrego ss mãos também, até me sentir bem em mim: normal isto sim!
Depois volto como se nada tivesse feito, e os neurotípicos, aqueles que se julgam assim, "normais", me dão boas-vindas por me acharem com o rosto tão familiar a eles, afinal: qual dos normais é 100% normal o tempo todo?
Sobre o colunista
Márcio Messias Belém é carioca e graduado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pós-graduado em Ensino de Língua Portuguesa aos Surdos como segunda língua pelo INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos). Atualmente, faz mestrado em Educação Bilíngue (libras e português).
Sobre a coluna
Filho de pais surdos, o filósofo carioca Márcio Messias Belém se utiliza da crônica, do conto e mesmo da prosa para tratar delicadamente e, ao mesmo tempo, descontraída de um tema que deveria ser mais discutido na sociedade, a Inclusão, principalmente voltada às pessoas com deficiência.
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