Entenda o que eram as luzes misteriosas no Pico do Itacolomi

Fenômeno pode se repetir em breve. No dia 14 de agosto, circularam vários rumores nas redes sociais, alguns internautas arriscaram a dizer que as luzes se tratavam de Objetos Voadores não Identificados (OVNIs).

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Por João Paulo Silva Publicado em 23/08/2021, 16:41 - Atualizado em 23/08/2021, 17:33
"Luzes misteriosas" se movendo na região do Pico do Itacolomi
Foto – Seriam OVNIs? Luzes misteriosas no Pico do Itacolomi, Ouro Preto-MG. Crédito – Reprodução/S.E.E Siga no Google News

Na noite de 14 de agosto de 2021, internautas entraram em contato com o Jornal Voz Ativa relatando terem avistado “luzes misteriosas” se movendo na região do Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto. Circularam rumores de que poderiam ser Objetos Voadores não Identificados (OVNIs) ou mesmo manifestações sobrenaturais. Mas o que realmente acontecia no local na noite citada? Quem esteve à frente do ocorrido? Qual foi a intenção? A equipe de redação do portal ouro-pretano foi atrás das respostas e explica tudo a seguir.

Luzes brancas na noite ouro-pretana
Foto - Reprodução. Crédito - Pedro Conselheiro

"Caminho de Luz"

Naquela noite, um grupo de pesquisadores da Sociedade Excursionista e Espeleológica dos Alunos da Escola de Minas de Ouro Preto (S.E.E) esteve no Parque realizando uma análise das trilhas para a viabilidade de um projeto que está em fase de construção.

Os membros-pesquisadores da S.E.E têm como base e inspiração a iniciativa do geógrafo e fotógrafo Roberto Franco, que em 2018 idealizou um projeto que iluminou a trilha da Serra de São José, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.

Roberto explica que “a iniciativa, colocada em prática pela primeira vez no Brasil, foi inspirada na experiência realizada em 2015 no Matterhorn, uma montanha da cordilheira dos Alpes, localizada na Suíça, perto da fronteira com a Itália”.

Na celebração brasileira, cerca de 50 montanhistas se uniram ao projeto chamado de “Caminho de Luz” que celebrou o 150º passeio a serra de São José, uma das escaladas ecológicas e culturais mais antigas do Brasil, que em 2021 completou 153 anos.

Barroco mineiro, cenário perfeito para especulações sobre OVNIs.
Foto - Reprodução. Crédito - Pedro Conselheiro

A equipe de montanhistas iluminou o trajeto até o topo da Serra São José, no município de Prados. A iluminação foi feita com luzes de emergências e os locais onde essas seriam colocadas foram definidos e georreferenciados de acordo com as características da trilha, e posteriormente sinalizados no próprio local.

Roberto explica que entrou em contato com os membros-pesquisadores da S.E.E. de Ouro Preto, com a proposta de realizar uma ação conjunta semelhante ao que ocorreu na Serra de São José, só que desta vez nas trilhas do parque que levam ao Pico do Itacolomi. "Assim, a S.E.E. entrou em contato com a gestão do parque e apresentou a proposta de uma atividade, sendo bem recebida e autorizada".

Desta forma, as luzes que puderam ser observadas no parque, na noite do último sábado eram as lanternas do grupo de 10 pessoas composto por Roberto Franco e membros da S.E.E. que subiram pelas trilhas do parque até o Pico realizando a análise das trilhas, chegando ao cume no pôr do sol, e descendo no início da noite. Por isso as luzes puderam ser observadas. “Na cidade, acionamos membros da S.E.E. e amigos fotógrafos para fazer alguns testes de visibilidades das luzes e nos orientar no decorrer da noite”.

Sobre a S.E.E

A Sociedade Excursionista e Espeleológica (S.E.E.), fundada em 1937 pelos alunos da Escola de Minas, é uma entidade estudantil, sem fins lucrativos, vinculada à Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Esse foi o primeiro grupo das Américas dedicado às pesquisas espeleológicas – ciência que se dedica aos estudos das cavernas.

Desde 1937, a S.E.E. vem desenvolvendo estudos e pesquisas na área da espeleologia, de modo a difundir o conhecimento científico em prol da preservação do patrimônio espeleológico. O grupo é formado por estudantes de diversos cursos da Universidade, trazendo assim o caráter multidisciplinar para a elaboração e desenvolvimento dos nossos trabalhos.

Pontos luminosos puderam ser observados há quilômetros de distância.
Foto - Reprodução. Crédito - Pedro Conselheiro

Sobre o fato de as pessoas fantasiarem esses tipos de “fenômenos”, até então inexplicáveis, agregando a eles suposições de todos os tipos, a S.E.E explica: “É perfeitamente natural que tenham ocorrido uma série de especulações e estranhamentos por parte da população, uma vez que não esperávamos tamanha comoção por parte das pessoas. Havíamos pensado que as lanternas da equipe só seriam observadas por uma outra equipe da S.E.E. que estavam a postos no Cruzeiro do Alto da Cruz, observando atentos as luzes das lanternas”.

Fatos inusitados

Os membros-pesquisadores revelaram que naquela noite ocorreram uma série de fatores inusitados durante a atividade. “As equipes estavam em contato através de rádios comunicadores, e com o cair da noite e a partir do momento que as lanternas puderam ser observadas, nos foi comunicado que a atividade estava gerando uma grande comoção na cidade e em páginas de redes sociais. Ainda, em determinados momentos, a equipe do parque percebeu que estava sendo “alvo” de lasers e luzes da cidade”.

Curiosidade e mistério em uma fria noite em Minas.
Foto - Reprodução. Crédito - Pedro Conselheiro

Para a tristeza de alguns e alívios de outros, o mistério foi, enfim, revelado. A equipe destaca que a cidade de Ouro Preto possui uma íntima relação com mitos e contos ligados ao sobrenatural desde os momentos primários de sua fundação, muitos relacionados a exploração do ouro e da troca cultural com os povos escravizados e sua cultura africana.

“Tais fatores, combinados a natureza humana da busca de compreender fenômenos desconhecidos contribuiu para a criação deste imaginário coletivo sobre o mistério das luzes”.

Possibilidade de um novo projeto

Como pudemos perceber, a atividade realizada na noite de 14 de agosto foi extremamente positiva, e representou um teste de análise e viabilidade das trilhas do parque para checar a possibilidade de realizar no futuro um projeto semelhante ao que ocorreu na Serra de São José.

“Agora, vamos avaliar as características geográficas da trilha, geoprocessar os dados e interpretar vários cenários para melhor representar o traçado da trilha do Itacolomi. A S.E.E também pretende realizar reuniões entre a gestão do parque e o geógrafo Roberto Franco, afim de pensar e estruturar juntos a possibilidade da realização de um projeto semelhante ao Caminhos de Luz no Parque do Itacolomi”.

Em breve, Pico do Itacolomi pode ser palco de mais um experimento.
Foto - Reprodução. Crédito - Pedro Conselheiro

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