Por João Paulo Silva A Praça Minas Gerais, localizada no centro histórico de Mariana, foi palco de uma noite diferente na última sexta-feira (17). Mesmo com o frio intenso e a pouca divulgação, o Cinema na Praça atraiu cerca de 20 pessoas para a exibição do filme italiano Cinema Paradiso. Esta é a primeira edição do projeto, iniciativa de Cláudia Pessoa, aluna do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). “Movimentos como esse que visam ocupação dos espaços públicos são sempre muito importantes. Mesmo nesses tempos em que as pessoas tentam se ligar por algum assunto, como política, por exemplo, acredito que atualmente nós vivemos muito isolados. Pessoas preenchendo os seus tempos de forma conjunta é sempre muito legal e difícil de ver na região”, afirmou o Programador Bruno Begueli, um dos presentes na exibição. Mas até onde a paixão pela sétima arte e a vontade de proporcionar alguns momentos de entretenimento à população pode chegar? Ninguém melhor do que a própria Cláudia Pessoa para responder a essa pergunta. “A iniciativa, mesmo com todas as dificuldades, traduz a vontade de estar junto às pessoas que, assim como eu, não suportam mais serem chamadas às ruas apenas para gritar, se revoltar, tumultuar ou brigar. O projeto não tem protagonista, não tem discurso, não tem explicação. É apenas um cinema ao ar livre, em um espaço lindo da cidade, com o povo de Mariana e de cidades vizinhas reunido para assistir a um filme cheio de ternura”, explicou Cláudia. As dificuldades Mesmo com o apoio do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) e da Câmara Municipal de Mariana, Cláudia Pessoa fez quase tudo sozinha, como carregar cerca de 40 cadeiras emprestadas do Centro de Convenções até a Praça Minas Gerais e montar a aparelhagem de áudio e vídeo. O colega de curso Octávio Zumerle, baixou o filme na Internet, outros contribuíram com a presença. João Bosco Ramos, Chefe de Departamento da Câmara Municipal emprestou os equipamentos para a montagem do charmoso portal de entrada, feito com madeira e decorada com cetim vermelho e flores de plástico. A placa escrita “cinema” foi improvisada com um pedaço de madeira e pintada à mão pela própria Cláudia. Sem apoio financeiro, ela desembolsou a quantia de R$ 53,50 (cinquenta e três reais e cinquenta centavos) para executar essa primeira sessão. Isabela Queiroz é moradora de uma casa vizinha à Câmara. Diante da dificuldade encontrada pela organização em ligar os equipamentos de áudio e vídeo no local, a Técnica em Meio Ambiente cedeu energia elétrica de sua casa através de uma extensão, o que foi fundamental para a realização do evento. Cinema Paradiso Nos anos que antecederam a chegada da televisão, em uma pequena ilha italiana, circundada pelo Mar Mediterrâneo, o garoto Totó (Salvatore Cascio) se viu deslumbrado pelo cinema local e iniciou uma amizade com Alfredo (Philippe Noiret), projecionista rabugento, mas sábio e de grande coração. Todos estes acontecimentos vêm em forma de lembranças quando Totó (Jacques Perrin), agora um cineasta de renome, recebe a notícia da morte de Alfredo. Cinema Paradiso é um filme metalingüístico, ou seja, nele o cinema fala de si mesmo. O longa recebeu inúmeras premiações ao redor do mundo, inclusive o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1990. Um protesto “silencioso” Sem palavras de ordem. Sem cartazes, frases de efeito ou pauta específico. O cinema na Praça pode ser considerado um ato político? “Sim, no sentido de que o evento está diretamente ligado à liberdade de se planejar e direcionar uma atividade pública. Mas se trata de um ato simbólico, não menos importante do que sair às ruas gritando aos quatro ventos que o sistema não presta. Quero muito que isso perdure enquanto o tempo permitir e gostaria de sentir que não sou a única a ter necessidade de paz, amor e união com as pessoas onde vivo. Que o amor pelo cinema mostrado em "Cinema Paradiso" seja uma luz a nos guiar para a realização dos nossos desejos”, concluiu Cláudia Pessoa. La fine Às 22h 30 min o filme chegou ao fim. Aqueles que tiveram a coragem de enfrentar o frio e assisti-lo até o final saudaram a exibição com uma calorosa salva de palmas. As sessões deverão continuar durante as as sextas-feiras e no próximo dia 25 de junho será exibido O Fabuloso Destino de Amélie Poulain . O evento é gratuito e livre para todos os públicos.
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