Celso Alves brinda à vida com lançamento de seu primeiro videoclipe em Ouro Preto-MG

Saiba mais sobre o artista e a história por trás da música que nos convida a vencer a morte, renascer e, principalmente, brindar à vida.

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Por João Paulo Silva Publicado em 09/04/2021, 19:37 - Atualizado em 10/04/2021, 16:01
Foto – O cantor e compositor Celso Alves em cena do clipe “Brindem à Vida”. Crédito – Tino Ansaloni/JVA. Siga no Google News

O cantor e compositor mineiro Celso Alves, morador de Ouro Preto (MG) há mais de 30 anos, lança neste sábado (10) o clipe da música “Brindem à Vida”. Composta por Alves, em parceria com Silvio D’Amico e Helvécio Eustáquio, a joia da Música Popular Brasileira já foi tema de abertura do programa “Desbravando”, transmitido pela Rádio Educativa da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), mas somente agora, muitos anos depois de seu primeiro lançamento, em 1985, ganha vida por meio de recursos audiovisuais.

Estreia sábado, 10/04/2021, às 19h pelo YouTube e Facebook do Jornal Voz Ativa

https://youtu.be/e0o9bTYiGGY
Assista aqui, hoje, às 19h pelo YouTube

A produção do clipe gravado no adro da Igreja de São Francisco de Paula é assinada pelo jornalista Tino Ansaloni. Vale ressaltar que Alves, por muito tempo, foi curador de música do famoso Festival de Inverno da UFOP, trazendo muitos artistas de peso para a cidade.

Há quem duvide da possibilidade de encontrar doçura em tempos amargos como esses, vivenciados sob a ameaça da pandemia do novo coronavírus. “Brinde à vida com um cálice de licor de anis”, convida o artista logo nos primeiros versos da canção que imediatamente nos remete ao repertório do Clube da Esquina, grupo de músicos, compositores e letristas surgidos em Belo Horizonte na década de 1960.

A comparação chega a ser inevitável e ganha contornos ainda mais evidentes quando Celso Alves revela ter conhecido Milton Nascimento em 1981, por meio de amigos em comum. A amizade não se perdeu com o tempo, tendo Celso Alves inclusive participado de gravações com o famoso Bituca. Na época, Milton Nascimento estava produzindo os discos de estreia de Celso Adolfo e Tadeu Franco. Desde então, foi um pulo para Celso conhecer e fazer amizade com outros integrantes do “Clube”, como Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta.

Nascido em Nova Era (MG), em 1962, desde muito cedo Celso Alves, influenciado pela mãe, Dona Nini, estabeleceu uma relação estreita com a música. A dona de casa era fã de rádio e dos expoentes máximos daqueles tempos de ouro e de grandes vozes como: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Dalva de Oliveira e Nelson Gonçalves. Os irmão mais velhos relatam que aos 4 anos, Celso andava pelas ruas do bairro cantarolando as músicas desses artistas e como recompensa, muitas vezes, ganhava um canudo recheado com doce de leite do dono ou fregueses da venda local. Mas a primeira canção que o artista se recorda ter cantado em troca de guloseimas foi “Quero que tudo vá para o inferno” de Roberto e Erasmo.

Mais tarde, o talento começaria a ser lapidado no grupo escolar ou no ginásio, onde sempre se destacava em eventos envolvendo a música. Aos 16 anos, Celso Alves lembra de ter cantado profissionalmente, pela primeira vez, em um bar da cidade de Nova Era. Autodidata, aprendeu violão de ouvido, vendo os amigos tocarem ou comprando revistinhas de cifras.

Autodidata, Celso dominou o violão apenas escutando as canções que gostava e observando os amigos mais experientes tocando. Crédito - Tino Ansaloni/JVA.

 A efervescência cultural vivenciada em meio à repressão do golpe civil militar ainda vigente no final dos anos 1970 fez com que Celso Alves convivesse com artistas plásticos, músicos, dançarinos e artistas das mais variadas expressões. Celso Alves chegou até a integrar um grupo da chamada Poesia Marginal. Também conhecidos como Geração Mimeógrafo, esses artistas deixaram um interessante legado para muitos poetas e escritores. “Nós pegávamos um pacote de pão, enchíamos de poesia dentro dele e depois saíamos para vender nas ruas. Ao anoitecer, nós nos reuníamos no bar para recitar poesia, pintar e cantar as músicas da nossa geração”.

Sempre com o pé na estrada, Celso vivia à risca os versos do amigo Milton Nascimento que pregava que “todo artista tinha de ir aonde o povo estava”. Viajou por Salvador, Rio de Janeiro e vários estados do país. “Uma vez, eu listei para um amigo os inúmeros lugares em que já morei e ele ficou assustadíssimo”, se diverte. Mas o jovem que já foi apelidado de cigano também precisava de ninho e foi numa dessas paradas, em Nova Era, que ele se sentou num banquinho e compôs a melodia de “Brindem à Vida” de uma vez só. A letra do poeta, ativista social, artista plástico e amigo Helvécio Eustáquio se uniu com perfeição aos acordes de Celso.

Celso Alves é fruto de uma geração que buscava a arte enquanto forma de expressão para lidar contra uma sociedade repressora. Crédito - Tino Ansaloni/JVA.

Os tempos mudaram. Entre inúmeras mudanças jamais imaginadas que seriam trazidas pela revolução digital, o modo como as pessoas consomem a música também se modificou. Atento a isso e preservando a alma de rebelde, no dia 19 de março, aniversário de sua cidade natal e data em que se comemora o padroeiro São José, Celso Alves fez uma gravação da música “São José da Lagoa” para disseminar nas mídias sociais. A canção também é fruto de parceria com Helvécio Eustáquio.

Embora muitas pessoas tenham gostado do vídeo, um amigo do Rio de Janeiro que é produtor musical de Jorge Vercillo aprovou a música, mas não gostou do modo como ela foi gravada e passou um verdadeiro sermão em Celso. “Ele criticou o meu amadorismo com a tecnologia. Eu estava no quarto, a ponta do travesseiro aparecendo, buracos de prego na parede e ao fundo dava para ouvir o chiado da panela de pressão. Eu estava cozinhando feijão e a música concorria com o shhhhh da panela. Sem contar com a participação especial do cachorro latindo ao fundo”, se diverte novamente.

Já consciente de que hoje em dia as pessoas levam muito a sério não só o talento, mas também a estética envolvida no processo criativo das divulgações musicais, Celso Alves teve uma ideia. “Na hora, eu me lembrei do Tino Ansaloni. Além dele ser meu amigo, Tino gosta muito de música de forma geral, admira “Brindem à Vida” e entende de produção de vídeos. Logo ele atendeu meu pedido e topou produzir o clipe. Fiquei muito feliz e honrado”.

Mais uma vez, o material em áudio e vídeo foi enviado ao amigo produtor do Rio de Janeiro que, dessa vez aprovou. Ele assistiu ao clipe e com seu típico sotaque carioca elogiou: “Agora sim, brother, as pessoas estão preparadas para ter acesso à sua música”.

Após esse breve relato envolvendo as histórias de Celso e da música “Brindem à Vida”, o resultado do clipe você pode conferir abaixo. Clique no play e se delicie com essa canção que nos convoca a ter uma vida mais doce, apesar dos pesares. E se você também é daquelas pessoas que se arrepiam ao ouvir uma determinada música, como esse repórter que lhes escreve, saiba que os neurocientistas se referem ao fenômeno como “orgasmos da alma”. Então “voem, dancem, cantem...”

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