Sem Saúde, Brasil é mesmo o país do futebol

Indiferente à nova onda de contaminação por coronavírus e ao colapso no sistema de saúde do país, CBF descarta adiar as pelejas

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Por Por Victor Stutz Publicado em 25/03/2021, 18:51 - Atualizado em 25/03/2021, 18:51
Foto – O escritor e produtor cultural Victor Stutz tem coluna cativa no Jornal Voz Ativa / Crédito – Arquivo pessoal Siga no Google News

Escritor e Jornalista, nasceu em Belo Horizonte em 23 de junho de 1963. Mudou-se para Ouro Preto em 1975, onde foi agraciado com o título de Cidadão Honorário em reconhecimento pelo seu trabalho com literatura e arte. Pai de dois filhos, Catarina e Breno, possui 10 livros publicados. Cria e produz projetos e eventos culturais desde 1990.

Mesmo com a suspensão de alguns campeonatos estaduais, a bola permanece rolando nos gramados, independente do aumento crescente de infecções e mortes por covid-19.

De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol, todas as federações e as 40 equipes da primeira e segunda divisões apoiam a decisão de permanência das partidas nacionais. Com as competições disputadas sem público há quase um ano e sem a receita de bilheteria, realmente, alguns times não querem abrir mão da verba das transmissões dos jogos. Mas parece que o cenário é bem diferente daquele pintado pela Confederação. Em vídeo vazado de uma reunião realizada em 10 de março, o presidente da CBF, Rogério Caboclo diz aos presidentes de clubes: “Vou mandar no futebol brasileiro e determinar que vai ter competição. Porque vocês estão f… se não tiver”.

O técnico do América Mineiro, Lisca, foi um dos poucos que manifestou publicamente opinião contrária: “Não temos vagas em hospitais, estou perdendo amigos”, disse, questionando a manutenção dos jogos da Copa Brasil. O prefeito de Belo Horizonte e ex-dirigente desportivo, Alexandre Kalil, também declarou que não concorda. Em entrevista concedida para anúncio de fechamento do comércio na capital mineira, classificou como “aberração” a decisão da CBF. “Não sou mais o presidente do Atlético, mas já fui”, disse Kalil, destacando que, se dependesse dele, o time não participaria.

Já a CBF garante que o futebol “está sendo praticado em ambiente seguro e controlado”. Mesmo assim, muitos times convivem com surtos em suas delegações desde o ano passado. Vários atletas já foram hospitalizados, alguns disputam mesmo é por suas vidas nos leitos de UTI. Só o Marília, time do interior de São Paulo, registrou 15 casos positivos de Covid-19 após viagem por três estados pela Copa do Brasil. A Ponte Preta, depois de confirmar o contágio de seu presidente, saltou de 4 para 32 pessoas infectadas no clube, consequência atribuída a um único jogo contra o Botafogo.

Na semana passada, Lisca, o estranho no ninho, entrou novamente em campo e lançou ideia que repercutiu muito pouco, apesar da importância do tema. O técnico do alviverde propôs a criação de um auxílio emergencial para os clubes e jogadores mais necessitados. Para ele, seria hora dos grandes times se sacrificarem para ajudar os pequenos. Porém, seu clamor por uma mobilização em favor dos atletas em dificuldade deverá se tornar mais uma bola isolada para fora pelos tecnocratas do esporte.

E assim, aos trancos e barrancos, a peleja continua pelo Brasil de norte a sul, indiferente ao alerta dos especialistas que já profetizam, depois da crise no sistema de saúde, um colapso no sistema funerário.

Mas, somos o país do futebol, o espetáculo não pode parar. Não importa quantas vidas serão cobradas pela ausência de bom senso. Seguimos juntos, ligados na mesma emoção, garantindo cada vez mais nossa posição no ranking dos favoritos ao título de ‘pior nação do mundo na prevenção e combate ao coronavírus’. Pra frente, Brasil!

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