“Redes sociais: palco para gente doente”, por Valdete Braga

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Por Valdete Braga Publicado em 13/08/2021, 13:43 - Atualizado em 13/08/2021, 13:44
Foto – A escritora Valdete Braga. Crédito – Reprodução. Siga no Google News

Os atores Paulo José e Tarcísio Meira partiram em um espaço de menos de 24 horas, o primeiro vítima de pneumonia e o segundo por complicações do covid 19.

Mais do que atores, eram ícones da teledramaturgia brasileira, esses, sim, merecedores do título, com centenas de obras relevantes no cinema, teatro e televisão, desde a época da TV em preto e branco e gravações sem os recursos existentes em nossos dias.

Paulo José aos 84 anos e Tarcísio Meira aos 85, partiram deixando um legado eterno para a arte brasileira, e como não poderia deixar de ser, tanto na TV aberta como nas plataformas digitais e internet, o dia foi de homenagens.

A partida de Tarcísio Meira foi mais comentada, não que a de Paulo José tenha sido menos sentida, mas pelas circunstâncias da sua morte. Por incrível que pareça, até neste fato tão triste não faltaram pessoas doentes da internet com comentários difíceis de se acreditar.

Minimizaram o sofrimento da família, criticaram as homenagens, argumentaram sobre a idade, o tipo de vida, que eram “ricos”, “se fossem pobres ninguém falava”, “morrem anônimos todos os dias”, etc. É verdade, morrem anônimos todos os dias, e cada familiar e amigo sente a mesma dor, mas usar esse argumento para desdenhar da dor do outro é muito triste.

A internet está doente, e as redes sociais viraram palco para gente tão doente quanto. Ainda que sejam minoria, fazem tanto barulho que incomodam. Querem discordar, “causar”, serem “politicamente corretos” e erram os alvos, saem criticando tudo e falando o contrário do que é dito, independente do que seja.

Diante de uma linda homenagem ao Tarcísio Meira, alguém comentou: “e os anônimos que morrem de covid e ninguém fala? ”  Que desavisado, este não deve ler nem assistir nada, são mais de meio milhão de óbitos, lamentados e lembrados todos os dias.

Frases recorrentes, escritas por gente que fica à espreita para destilar suas frustrações em redes sociais, pipocam pela internet, e demonstram o nível de desumanidade a que podem chegar esses ditos seres humanos.

“Tanta coisa para o país lamentar e ficam lamentando a morte de um ator”, escreve outro. Sim, temos muito a lamentar, infelizmente, mas isso não nos impede de nos compadecermos também disto. Uma dor não inviabiliza outra, e pessoas preocupadas em discordar de tudo em busca de “likes” são também algo a lamentar.

Tanto rancor gratuito também é lamentável e enquanto existir gente que fica atrás de uma tela de computador com o único objetivo de discordar de tudo para ser diferente as coisas não vão melhorar.

As homenagens são merecidas e justas, que Paulo José e Tarcísio Meira sigam na luz. Quanto aos questionamentos, que cada pessoa que os fazem possam um dia entender que o problema não está em famosos nem em anônimos, mas em sua própria amargura.

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