Por Valdete Braga
Nunca esta palavra foi tão utilizada. Falada ou ouvida, lida ou escrita, presencialmente ou no virtual, nos deparamos com ela a toda hora. A tal “intolerância” virou tema de todas as conversas. Discursos intermináveis, debates inflamados, todo mundo quer dar a sua opinião, expor suas idéias, e, claro, cada um se achando certo.
É inegável e indiscutível que qualquer tipo de intolerância precisa ser combatido, rechaçado e, em caso de crime, investigado e punido. Ninguém nega isto, e, se negar, deve viver em outro mundo.
Porém, está acontecendo um fenômeno, no mínimo, interessante. Se observarmos com olhos críticos e sem paixões, a verdade é que, salvo exceções (elas sempre existem) muitos, mas muitos mesmo, dos que gritam e levantam bandeiras contra intolerância, são os mais intolerantes. Na ânsia de mostrarem que o seu posicionamento é o correto, as pessoas se agridem, se ofendem, perdem o bom senso.
Gritam contra a intolerância, mas não admitem o contraditório. O intolerante é sempre o outro. Quem nunca viu ou ouviu alguém pregando contra o ódio, por exemplo, em um discurso repleto de ódio? É incoerência em cima de incoerência. E aí não há como não nos reportarmos às redes sociais. Existem coisas boas nelas? Claro que sim. Mas ainda há muito que se aprender.
O dia em que as pessoas aprenderem a usá-la, essa ferramenta, hoje propagadora de tanta coisa ruim, poderá vir a ser um bem à sociedade. Por enquanto, o bem que faz ainda é muito tímido diante do mal, cada vez mais crescente, infelizmente. Por enquanto, a intolerância ainda predomina, até quando se prega contra ela mesma.
Quem observa de forma neutra, enxerga claramente a incoerência da situação. A pessoa, ou pessoas, seja nas redes sociais ou informalmente, querem combater algo ruim e isto é louvável. O problema é que esta ou estas pessoas se utilizam de um discurso repleto exatamente daquilo que está combatendo. O fanatismo cega, e que fique claro que não falo apenas de política partidária. Pode até ter começado assim, mas atualmente vivemos em um mundo onde a palavra “intolerância” predomina em vários setores. Ninguém tem paciência, ninguém tem empatia, todo mundo quer que o outro seja como ele.
Como alguém pode falar contra o discurso de ódio, estando ele mesmo cheio de ódio? Como pode pregar contra intolerância em palavras impregnadas de intolerância? Falta coerência, bom senso, sensibilidade. Falta colocar-se no lugar do outro. Falta compreensão.
Não podemos, ou pelo menos não deveríamos pregar contra algo nos utilizando do mesmo. Vamos falar sobre a intolerância sim, vamos tentar combatê-la sim, vamos lutar contra ela com todas as forças. Mas antes de fazermos tudo isto, e até mesmo para podermos fazê-lo, temos que bani-la de nossas vidas, ou estaremos jogando palavras ao vento. Somente o ser humano tolerante tem autoridade para falar contra a intolerância. E, sejamos sinceros, os seres humanos tolerantes estão cada vez mais raros. Infelizmente.
Pois é, Valdete, infelizmente estamos rodeados de hipócritas com máscara de bons samaritanos.
Parabéns pela crônica, maravilhosa como sempre!