A correta Raquel Aciolli se encontra com a arrogante Odete Roitman em uma exposição de artes. De forma educada, Raquel comenta que gostou muito dos quadros, ao que Odete, no alto de seu pedantismo, ironiza, perguntando se ela é crítica de arte.
- Não, eu sou cozinheira – responde Raquel, e acrescenta: Por quê? Para gostar de artes é preciso ser crítico?
Fazendo jus à sua fama, Odete se torna ainda mais esnobe, falando que não se gosta do que não se entende, algo do tipo, aproveitando para tentar humilhar Raquel. A resposta vem da ponta da língua:
- Não, não é preciso ser um entendedor de artes para se gostar de um quadro. A senhora, por exemplo, eu tenho certeza de que nunca fritou um ovo na vida, e mesmo assim gosta do que come.
Ficção ou realidade? Obviamente, no caso em questão, trata-se de uma ficção, mostrada na releitura da novela das 9 da Rede Globo de Televisão, que fez tanto sucesso em 1988 e agora foi reescrita, mas bem poderia ser realidade.
Infelizmente, o mundo está cheio de pessoas assim, arrogantes e sempre com uma palavra de desmerecimento para o outro. Sabem tudo, entendem de tudo e veem os que os rodeiam como pessoas inferiores, desprovidas de um intelecto que julgam serem só delas.
Gente assim confunde condição financeira e status social com inteligência ou mesmo sensibilidade, achando que dinheiro é sinônimo de tudo. Não entendem que emotividade independe de classe social ou das condições materiais em que a pessoa vive.
Para as “Odete Roitmans” do mundo real, é impossível uma cozinheira admirar uma obra de arte, porque em sua mentalidade deturpada elas são “inferiores” e incapazes de frequentar galerias ou afins. Consideram esta e outras questões como privilégios de sua “classe”, que também acham superior.
Por mais estranho que pareça, em pleno 2025, com tanto progresso em tantos aspectos, esta questão ainda existe e existe muito, em todos os cantos do mundo. Ainda existem pessoas que julgam pela aparência, roupas ou profissão, e no caso do julgamento por profissão é ainda pior, porque para estas pessoas, uma profissão é melhor do que a outra.
Claro que no relatado foi uma cena de novela, com personagens criados, e tanto Odete como Raquel chegam a ser caricatas em seu exagero, mas o cerne da questão, que é o preconceito, está presente também aqui fora da telinha, em nossas vidas, como uma doença, que precisa de cura urgente.
Muitos, na vida real, torcem o nariz para profissões que consideram inferiores, por não renderem muito dinheiro ou status, mantendo presente este tipo de preconceito, que já deveria ter sido banido há muito tempo da sociedade.
Neste diálogo ficcional, esta triste realidade é mostrada com maestria.
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