“Um museu para encantar turistas” por Chico Bastos, sobre o Museu de Congonhas

O Museu de Congonhas abre hoje, prometendo mudar a relação entre os visitantes e a cidade histórica

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Por Tino Ansaloni Publicado em 15/12/2015, 16:54 - Atualizado em 15/12/2015, 20:09
Chico Bastos Do Instituto Cultural Diogo de Vasconcellos [email protected] A cidade de Congonhas inaugura um interessante equipamento destinado a apoiar o visitante do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. O empreendimento, que une esforços da UNESCO, IPHAN e Prefeitura de Congonhas, tem projeto do arquiteto Gustavo Pena e quase 3,5 mil m2 de área construída. No Museu de Congonhas, o visitante vai vivenciar uma experiência sensorial que reforça o conhecimento da história do Santuário e aguça a sensibilidade. Uma das novidades é o uso de uma linguagem adequada a cada faixa de público-alvo pelo mediador (uma evolução do velho guia turístico). Ninguém pode querer que uma criança, ou adolescente, compreenda o que lhe é explicado em linguagem para adultos. Entretanto, esse equívoco na abordagem de turistas é o mais comum nas cidades históricas mineiras. A partir de hoje, o Museu de Congonhas se propõe a dar a cada público-alvo – estudantes, idosos, etc, o tratamento adequado das informações que transmite. O Museu de Congonhas vai operar em sintonia com o conjunto Basílica, Adro e Passos, favorecendo a compreensão desse tesouro cultural a céu aberto, independentemente da ordem que se escolha para a visita. Tanto faz ir primeiro ao espaço cênico do Museu - para imergir em sensações audiovisuais que seduzem o visitante pela competente expografia – e depois ao cenário real do Santuário, ou vice-versa. Em qualquer caso a sedução se completa, potenciali-zando a fruição da arte e da fé num movimento articulado, que pretende oferecer ao visitante uma experiência gratificante. Rompe-se aí uma anacrônica tradição da maioria dos museus das cidades históricas mi-neiras: a mera exposição de um acervo histórico e cultural, melhor ou piormente apoiada em recursos de iluminação e cenografia. No Museu de Congonhas, o visitante é incentivado a se deixar seduzir pelos vários níveis do teatro colonial: Primeiro, o devocional, demonstrando a força da fé mineira, nos incidentes religiosos representados: o anúncio da palavra sagrada pelos antigos profetas e a saga da crucificação de Cristo, o Deus feito homem, episódio central e universal do Cristianismo há mais de 2 mil anos. Mais do que tudo, a romaria ao Bom Jesus de Matosinhos é um patrimônio mundial da fé católica. Segundo, o artístico, dimensão que a maravilhosa obra dos artesãos coloniais mineiros veio a ganhar no século XX, com o reconhecimento universal de seus dois principais artífices, o escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor Manuel da Costa Ataíde, encarregado da encarnação de várias imagens dos Passos da Paixão. E, em terceiro, a valorização que estimula a preservação do sítio histórico do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como patrimônio cultural da Humanidade pela Unesco, desde 1985. Outra saudável evidência da contemporaneidade do Museu de Congonhas é a inédita presença, no roteiro, da polêmica sobre a retirada ou não das esculturas do adro, que se deterioram a céu aberto. Ao visitante, o Museu oferece dois depoimentos – um contra e outro a favor – marcando uma democrática novidade: a validade dos dois lados de uma questão que sempre opôs a população local – interessada na integridade dos objetos de sua fé, e os especialistas, interessados na integridade dos objetos de arte. O Museu encanta até mesmo quem acha estranho o fato de não dispor de acervo compatível com sua magnitude e alto nível de investimento. O que se pretende compensar com a realização de oficinas permanentes e outras atividades interativas. Para alegria dos amantes da arte, todas as esculturas dos Profetas foram escaneadas em 3D, tecnologia que, entre outros benefícios, permite fazer a impressão digital de réplicas, em pó-de-pedra, o que já foi feito no caso de dois Profetas. Mas nenhum museu será capaz de cumprir o seu papel, se os responsáveis não se dedicarem, com o mesmo afinco e vigor, a atrair os visitantes que possam dele usufruir. Está aí um bom desafio para as principais cidades históricas de Minas: articular suas ações para potencializar a capacidade de atrair turistas. Fazer a sinergia entre os seus vários pontos de inegável interesse turístico é o desafio de todos. Como se diz, em Marketing: não basta projetar e construir uma bela loja, é preciso atrair os consumidores que vão mantê-la ativa e rentável.

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