“Giancarlo e Antonella, uma história de amor”, por Roberto dos Santos

Em "Paisagem na Janela" você encontra textos, em sua maioria contos e histórias de amor, de autoria do ouro-pretano Roberto dos Santos.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 06/03/2023, 13:44 - Atualizado em 06/03/2023, 13:47
Roberto Santos, 49 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 15 anos. Siga no Google News

Antonella havia saído de um relacionamento conflituoso e sonhava encontrar um novo amor, fazia questão de dizer para seu coração que não esperava um homem para estar a seu lado, mas um verdadeiro amor. Ela era romântica demais, porém esse “demais” não significava excesso ou algo exagerado, mas intensidade.

Gostava das estrelas do ar, do mar do luar. Acariciava as flores no jardim, amava os grilos verdes, aqueles conhecidos também como “esperança”, se perdia no imenso azul do céu, achava lindo.

Numa tarde de março sentiu vontade de caminhar pelas ruas da cidade de Mariana no estado de Minas Gerais onde morava. Sua penúltima parada foi em frente ao pelourinho que fica bem no centro da praça Minas Gerais, de lá observou calmamente o alaranjado de fim de tarde nas bordas dos morros marianense. E quando as luminárias dispostas pela praça começaram a acender dando sinais de que a noite batia a porta, ela rumou em direção a praça Gomes Freire, para sentar um pouquinho e descansar.

Assim que chegou ao “jardim” nome popular da praça Gomes Freire, Antonella não foi de imediato sentar-se, antes debruçou sobre a proteção da ponte e ficou olhando a água jorrar de uma fonte ali existente. Se prendeu a aquele espetáculo de grande beleza. Tirou fotos, selfie e quando já estava prestes a deixar o local e procurar um banco para se sentar, resolveu como último ato, fotografar o coreto que estava praticamente ao seu lado, bem no centro da praça.

As luzes já estavam acesas e anunciavam a chegada da noite. Antonella iria descansar um pouco e depois caminhar de volta para casa. Mas algo muito interessante aconteceu quando focalizou aquela construção arredondada no centro da praça, o coreto.

Assim que tirou a foto olhou rapidamente para ver uma imagem que de relance provocou-lhe curiosidade.

É claro que poderia ter olhado para o coreto diretamente e tirado suas dúvidas, mas não fez assim, preferiu verificar pelo seu celular. Quando aplicou um zoom na imagem na tela, viu algo que mexeu com seus sentidos.

Foi então que se virou instantaneamente e constatou que alguém a observava debruçado no coreto.

Mas Antonella não se sentiu incomodada, apenas fugiu do olhar de quem a observava, contudo já de imediato começou a pensar em olhar de novo, e não resistindo virou-se discretamente e focalizou seu celular no galho de uma árvore que pendia sobre o coreto, porém seu olhar não mirava naquela direção. A frondosa árvore era apenas um pretexto. Tanto era um subterfúgio que o celular ora tinha suas lentes direcionada para o céu, ora para qualquer lugar.

Mas o olhar de Antonella tinha endereço certo e já fazia alguns minutos que encontrara o olhar do seu observador. E como já não precisava mais desse estratagema, num movimento suave flexionou os braços e colocou o celular no bolso. Fez tudo isso sem tirar os olhos do coreto. Entre os olhares parecia haver ondas invisíveis interligando-os.

Após alguns momentos Antonella começou a caminhar na direção do coreto, passos suaves e delicados a conduziam, era uma tentativa de aproximação no sentido de saber quem era o dono daquele olhar que não se desvencilhava do dela.

Quando ela estava próxima a escada de subida do monumento, uma caneta caiu bem a sua frente. Antes de apanha-la ela olhou para cima e perguntou ao homem que observava os arredores se a caneta era dele.  A resposta, foi positiva. Então pensando rápido ela pegou a caneta subiu as escadas e o entregou.

Antonella então perguntou:

— Qual o seu nome?

Ele então respondeu:

— Giancarlo.

A partir daquele momento o diálogo fluiu em torno da beleza do lugar, do clima gostoso que a noite trazia. Ambos se respeitavam tanto que receavam ousar nas palavras, mesmo que recheadas de afabilidades. Foi então que Antonella falou do adiantar da hora e que iria embora, pois sua casa ficava lá pelos lados do bairro colina, o que significava uma boa caminhada. Giancarlo temendo que nunca mais pudesse ver Antonella não titubeou, e as poucas palavras proferidas até então se somaram a outras que deram origem a uma pergunta crucial:

— Posso te acompanhar?

E minimizando o risco de receber uma negativa na resposta esperada, foi logo dizendo que morava no Barro Preto caminho para a casa dela.

Ela então aceitou e foram pelo caminho com assuntos variados regados a sorrisos e olhares insinuantes.

Quando passavam perto do local onde a rua Manoel da Costa Athaíde encontra com a Avenida Getúlio Vargas, há alguns metros do centro de convenções Alphonsus de Guimarães, Giancarlo já desenvolto diz a Antonella:

— Você é linda.

Ela sem jeito sorriu, e seu rosto ruborizou-se. Com o sorriso ainda pronto ela disse:

— Você também é lindo.

Por um momento se olharam fixamente. Giancarlo que estava à esquerda e emparelhado com ela, passou sua mão direita por detrás das costas de Antonella e segurou sua mão direita, o que configurou um abraço. Todo esse ato aconteceu sem que interrompessem a caminhada.   

Antonella perguntou:

— Porque não disse nada quando estávamos no “Jardim”? Se eu tivesse ido embora certamente não nos encontraríamos mais.

E ele calmamente respondeu:

— Tudo tem seu tempo e risco, e eu vivi todos eles. Assim são os caminhos do amor.

Eu te olhava desde o momento em que apareceu na rua João Pinheiro, vindo da Praça Minas Gerais caminhando devagar e linda. Foi a partir desse momento que meus olhos não quiseram mais se apartarem de você. Enquanto você olhava a fonte jorrar e os peixes coloridos, eu traçava o seu perfil. Você descansava o olhar sobre as maravilhas que via com a leveza de quem tem um coração de ouro.

Seus cabelos curtos deixando a mostra um brinco discreto, os ombros lindos e eretos davam a sensação de que estava flutuando. A mão na cintura lhe dava o equilíbrio perfeito. A blusa leve e a bermuda jeans eram detalhes diante de tão grande beleza. As sandálias simples que envolviam seus pés mostravam a leveza de quem queria caminhar entre o passado e o presente marianense. O sorriso era como se fosse a janela da alma, se formava sempre que algo a sua volta chamava a sua atenção. E de tão lindo encandecia meu coração, embora eu mantivesse uma postura inerte e contemplativa diante da maravilha que eu via.

Eu vi determinação e força, sensibilidade e altivez, tudo numa mulher de rosto lindo. E atendendo a um pedido do meu coração eu não desgarrei os olhos de você. 

O ápice dessa observação foi no momento em que meu olhar encontrou o seu. Foi como se uma chave passasse da posição off para on e despertasse todos os meus sentidos. Estava decretado que aquela mulher linda a minha frente estava em mim. Por isso hesitei até o último segundo, e como você disse que ia embora, não tive dúvidas que a hora era aquela.

Antonella chorava silenciosamente ao compreender a dinâmica dos acontecimentos, e já diante do prédio da prefeitura de Mariana deixou se levar por um longo e caloroso abraço. Era o sim de um pedido de namoro feito nas entrelinhas. Não se desgrudaram até chegar à casa dela e Antonella mais tranquila e segura confidenciou a Giancarlo a alegria de tê-lo encontrado e juntos fizeram um pacto de amor.  O de simplesmente se amarem.

Assim começou uma história de amor que foi sendo alimentada dia após dia, sem esquecer das idas ao coreto da praça Gomes Freire e da fonte que enfeita o jardim marianense.

Giancarlo e Antonella nunca mais se separaram e a receita para a longevidade do amor dos dois, era reparar um no outro a cada encontro, e descobrir algo novo a cada olhar.

Um Comentário

  1. Wanderléia 09/03/2023 em 08:46- Responder

    Adorei o texto ,com muito amor e perfeição, coreto com muita história de amor lugar mágico…

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