Prosa na Janela: Leia “Reencontro”, conto inédito de Roberto dos Santos

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Por Roberto dos Santos Publicado em 06/02/2023, 12:39 - Atualizado em 06/02/2023, 12:39
Roberto Santos, 49 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 15 anos. Siga no Google News

Vinte anos se passaram e Ayla continuava belíssima. O tempo para ela parecia não existir. A beleza que antes era notória, tomou proporções centuplicadas.

Eric encontrou Ayla quando fazia a viagem de Mariana para Ouro Preto, cidades vizinhas encrustadas nas belíssimas montanhas de Minas Gerais.

Eric morava em Ouro Preto, mas constantemente se deslocava até Mariana para resolver pendências relacionadas a sua ocupação profissional. Numa dessas idas e vindas encontrou Ayla dentro do ônibus que fazia a ligação entre as duas cidades.

Eric conheceu Ayla quando ainda morava em Mariana, trabalharam juntos por vinte anos numa mesma Empresa. Se distanciaram depois que Eric deixou o trabalho e se mudou para Ouro Preto, dando outros rumos a sua vida profissional.

O reencontro!

Eram 09h31min de uma sexta feira ensolarada quando ele embarcou em Mariana retornando para Ouro Preto depois de cumprir um de seus compromissos costumeiros.

Quando o ônibus parou no ponto da Travessa Santa Cruz, última parada antes de entrar na Avenida Manuel Leandro Corrêa, ela embarcou. Mas ele não a reconheceu de imediato, embora tudo levasse a crer que se tratava de Ayla, Eric não teve certeza. Ela tinha também um beija flor tatuado no lado esquerdo do peito percebido devido a roupa leve que usava em contraponto ao calor daquela manhã. Fato que confundiu um pouco a Eric, afinal lá no passado nunca havia visto aquele sinal belíssimo no corpo dela.

Ela sentou bem à frente de onde ficava o auxiliar de viagem, ele estava no lado oposto ao dela, porém na mesma direção. No exato momento em que ela o avistou, o ônibus passava bem em frente Escola Estadual Dom Silvério. Os olhares se encontraram e ambos esboçaram um sorriso que embora contido disse muita coisa. Imediatamente Eric perguntou?

— Ayla?

A resposta foi outra pergunta?

— Eric?

O que se viu na sequência foram expressões de surpresa e contentamento estampados num sorriso mútuo.  

Imediatamente Eric trocou de lugar e ocupou o assento vago ao lado de Ayla e seguiram a viagem relembrando os acontecimentos de vinte anos atrás. Ele então num ato de ousadia disse:

— Você está muito mais linda que a vinte anos!

Ayla então respondeu de pronto:

— Isso quer dizer que me achava bonita?

E Eric prosseguiu num tom ainda ousado:

— Eu sempre te achei uma mulher linda, já até ousei cogitar a possibilidade de tentar namora-la, mas não tive coragem. Pode acreditar!

Mas porque não tentou? Disse Ayla o instigando a dizer mais coisas.

 E mais uma vez perguntou:

— Você não está dizendo isso, simplesmente pela oportunidade desse encontro, está?

E Eric respondeu com toda sinceridade:

— Não diria simplesmente pela oportunidade do encontro, mas por ser a única vez em todo esse tempo que consegui falar com você sobre isso. Contudo o passado são tempos que não voltam mais, prefiro o presente, esse que agora vivemos.

E prosseguiu:

— Você está linda como nunca, o beija flor tatuado em seu peito, eu não conhecia, mas é certo que dá um toque especial e agrega um componente novo a sua estonteante beleza. A junção entre seu sorriso e o olhar trazem de volta a simplicidade que a diferenciava das outras mulheres. Talvez fosse esse o motivo do meu encantamento.

O seu cheiro avivou em mim todas as memórias dos tempos idos, e as imagens foram se formando como se fossem flashes a descrever uma linha do tempo.

E depois de ficar ouvindo Eric rasgar seu coração diante dela, Ayla rompe o monólogo empreendido por ele e declara em alta voz:

— Estou sem palavras, não sei o que dizer, confesso que não sei!

O silêncio pairou por alguns minutos. Eric fixou seu olhar nas coisas que via pela janela do ônibus, mas sem dar sentido a elas, Ayla baixou a cabeça e silenciou-se. Naquela hora ambos eram só pensamentos. Ainda sem romper o silêncio, Ayla inclinou a cabeça, aproximou seu rosto ao de Eric e o beijou suavemente. Ele não se opôs ao gesto, e de olhos fechados correspondeu ao beijo.

As palavras não foram necessárias naquele momento. A interação entre ambos se dava nas expressões de carinho movidas pelos impulsos aflorados naquele instante e atestava o interesse de um pelo outro.

Todos que estavam no ônibus aplaudiram aquela cena de amor.

Minutos depois chegaram a praça Tiradentes e desembarcaram. Ayla após pisar as pedras centenárias ouro-pretanas, tendo a seu lado Eric, perguntou:

— E agora?

Eric a puxou de lado, a tomou pela cintura, a abraçou, depois a beijou delicadamente e respondeu à sua pergunta:

— Agora vamos tomar um suco de maracujá para refrescar e acalmar nossa alma porque, começa agora os primeiros momentos do resto de nossas vidas.

E seguiram pela praça Tiradentes com o sorriso próprio de quem acabara de descobrir um grande amor.

Um Comentário

  1. Wanderléia 06/02/2023 em 17:32- Responder

    parabéns lindo perfeito adoroooo esse jeito peculiar com doçura e um romantismo sem igual algo mágico que fica no nosso subi consciente

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