Leia “Dona da minha cabeça”, por Roberto dos Santos

A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Confira!

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Por Roberto dos Santos Publicado em 11/09/2023, 15:57 - Atualizado em 11/09/2023, 15:57
Roberto Santos, 49 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 15 anos. Siga no Google News

Jandir caminhava pelas ruas da cidade de Ouro Preto despretensiosamente. Enquanto andava, ouvia através do seu fone de ouvido uma canção de amor. E na voz de Tom Jobim a canção dizia:

Eu sei que vou te amar.
Por toda a minha vida, eu vou te amar.

Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

Jandir lembrava de Lara, a mulher mais linda que havia visto. Seus pensamentos vagavam entre os casarões históricos de Ouro Preto, contido neles estava a imagem de Lara.

A cidade estava a todo vapor, som de vozes a contemplar o barroco, olhares espantados (no bom sentido) com a beleza das edificações centenárias. Pessoas atentas para não escorregar nas pedras que recobriam o chão da Rua conde de Bobadela, a famosa rua direita.

Eis que uma cena incomum foi percebida entre as belezas da Rua direita. Era Jandir próximo ao prédio dos correios bem na direção da última janela na perspectiva de quem sobe a rua em direção a praça Tiradentes. Já havia deixado para traz o cruzamento onde da direita se via a Ladeira Farmacêutico Antônio Vieira Brito e a esquerda a entrada para a praça Reinaldo Alves de Brito, a conhecida praça do cinema.

Aproveitando que a rua direita estava interditada, ele parou bem no meio dela, e olhava na direção da Praça Tiradentes imaginando a rua sem ninguém. Naquele momento muitas pessoas circulavam, não passava carros, por isso se posicionou na parte central da via. Um sereno frio se misturava a névoa branca e o vento espalhava as minúsculas gotículas, provocando um efeito parecido com o de uma cachoeira de queda longa e livre.

Depois de um certo tempo a observar tudo isso e o brilho da calçada molhada completando o espetáculo de beleza, Jandir fechou os olhos e sua imaginação trouxe para aquele cenário Lara. A musa dos seus pensamentos, aquela que estava em todas as canções de amor que ele ouvia, aquela que ele se encantou simplesmente por vê-la numa dessas noites lindas de ouro Preto.

Sua imaginação tirou todas as pessoas da rua, deixando apenas Lara a desfilar sua beleza. Descendo a rua lá vinha ela com seus cabelos longos a descansar nos seus ombros, passos miúdos dados com cuidado a deslizar na descendente, parecia flutuar. Jeito solto, sorriso já começado, ombros altivos, era Lara a desfilar nos pensamentos de Jandir.

Enquanto tudo se desenhava em sua cabeça, uma música suave que só ele ouvia constituía a trilha sonora dos seus pensamentos.

O cantor José Geraldo parecia descrever Lara na letra e acordes da canção:

Dona da minha cabeça quero tanto lhe ver chegar.

Quero saciar minha sede milhões de vezes, milhões de vezes

Na força dessa beleza é que eu sinto firmeza e paz.

Por isso nunca desapareça.

Nunca me esqueça, eu não te esqueço jamais

0s minutos iam passando e Lara desfilava na rua direita. Passarela que Jandir havia preparado para ela em sua apaixonada imaginação.

Os pensamentos eram imaginários, mas Lara era real. Ele havia visto a bela mulher poucas vezes, mas foi o suficiente para se enamorar.

Depois de uns quinze minutos sem se mover, Lara já havia percorrido quase toda a extensão da rua.  

Ele sorria, as lágrimas que passeavam pelo seu rosto eram disfarçadas pelos chuviscos de chuva que umedeciam sua face.

As pessoas se aglomeraram para saber o que se passava com Jandir, tentando saber porque ele estava imóvel com o rosto inclinado na direção da Praça Tiradentes.

Não tocaram nele imaginado que fosse uma meditação profunda. Mas permaneceram curiosos para verem seu despertar.

Quanto mais o tempo passava, mais ele transparecia felicidade e leveza. Seu rosto demonstrava, embora inerte e de olhos fechados, um êxtase inexplicável.

Quando fez vinte minutos que tudo transcorria, ele ficou frente a frente com Lara. Ninguém tinha a menor noção do que se passava em sua mente.

Ela sorriu para ele e o abraçou. As lágrimas não cessavam, o sorriso não se desfazia de tão real que era aquilo que se passava no seu imaginário. Sentiu todo o calor do abraço dela.

Ele sentia os cabelos longos de Lara encostarem em seus ombros e pescoço, a respiração ofegante dele era um imaginário tão real.

De repente as pessoas que estavam a observar Jandir, resolveram intervir. Antes de qualquer coisa ele pronunciou em alta voz:

— Você é linda

As pessoas pensavam que ele contemplava a beleza da rua direita, mas, na verdade, as palavras eram direcionadas a Lara que inebriava sua fértil imaginação.

E no fone de ouvido iniciou outra canção, e nela Caetano Veloso resumia a bela da vida de Jandir:

Você é linda

Mais que demais

Você é linda sim

Onda do mar do amor

Que bateu em mim

Ele de repente despertou da espécie de transe em que se encontrava, quando uma das pessoas que estavam ali tocou seu ombro.

Se assustou com tanta gente a olhá-lo e sorriu meio que desconsertado.

De repente alguém perguntou:

— Está tudo bem?

E ele respondeu sorridente.

— Esta Sim...tudo bem!

Enxugou as lágrimas e, ouvindo suas músicas românticas, subiu a rua direita. Seus pensamentos naquela hora era encontrar com Lara e viver nem que fosse uma pequena porção daquilo tudo que sua imaginação lhe proporcionara.

2 Comments

  1. Wanderléia 11/09/2023 em 16:40- Responder

    perfeito texto linda assim como a Bela Ouro Preto cidade da magia do amor 😍

  2. Nilce dos Santos pedroza 12/09/2023 em 08:51- Responder

    lindo o texto parabéns que venham muitos😍💗💕

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