Marcelo gostava de guardar por escrito tudo de bom que lhe acontecia.
E na primeira página de seu caderno escreveu:
— Boca adornada com um batom vermelho, lembrando uma apetitosa cereja mordiscada. Um olhar sapeca, um sorriso pronto, cabelos loiros, andar provocante, ombros bonitos, tatuagem na perna, vestido leve e colorido. Essa imagem descrita na primeira página tinha um nome, e se chamava Aline.
Continuou seu relato em forma de escrita dizendo:
— O céu estava claro, apenas algumas nuvens passeavam, se misturavam ao azul predominante que envolvia Ouro Preto naquela noite. O clima estava ameno regado a uma brisa leve que tocava os rostos dando uma sensação de carícias e um leve frescor.
A Rua Conde de Bobadela, conhecida popularmente como rua direita estava linda, os lampiões rústicos nas paredes das casas centenárias iluminavam levemente a enigmática noite. Um pisca pisca aqui outro acolá, informavam que era tempo de natal. E bem devagarinho nesse corredor de pedras, descia Aline solitária e bela. Observava tudo a sua volta, fotografava o que lhe chamava atenção, e prosseguia leve e solta na descendente. Só não sabia que lá embaixo onde a rua direita se encontrava com Rua Paraná e a Praça Reinaldo Alves de Brito (a praça do cinema), alguém a observava. Era Marcelo, que já algum tempo havia descoberto a linda mulher em passos lentos e suaves descendo a rua.
Na primeira fotografia, percebeu algo que lhe chamou atenção. Após um zoom visando melhorar a foto, deparou com a imagem de Aline que descia contemplativa. As outras fotos também tinham a imagem dela. Marcelo ficou parado até Aline passar por ele, mas antes, ela parou e quis fotografar a rua em visões diferentes, os mesmos ângulos que a pouco Marcelo fazia fotos.
O homem vendo a oportunidade de se aproximar daquela mulher lindíssima, já se sentindo rendido por ela, rompeu o silêncio e disse a Aline:
— Em dias de chuva, as fotos ficam exuberantes, por conta da incidência da pouca luminosidade sobre as pedras molhadas. Parece um imenso tapete de água com desenhos brilhantes e com vida.
Ela aproveitou e fez algumas perguntas sobre a cidade, e depois se despediu e foi embora. Marcelo também deu por encerrada a noite.
No dia seguinte voltou ao mesmo local, intuiu que Aline estaria lá, pois chovia mansamente. Imaginou que sua informação do dia anterior sobre o efeito das águas da chuva na calçada, tivesse aguçado nela o desejo de ir lá para conferir. A aposta de Marcelo se concretizou, e em minutos ela já descia a rua segurando uma sombrinha transparente. Fazia o mesmo trajeto do dia anterior, a única diferença era a chuva e a roupa que vestia.
Um jeans com caimento perfeito que desenhava suas curvas, uma camisa leve, já que chovia, mas não fazia frio. Ela não atinou para a necessidade de colocar um calçado menos escorregadio. Mas com cuidado redobrado chegou onde queria, e fez a célebre foto, onde a chuva provocava um magnífico efeito ao encontrar-se com a luz no piso escorregadio da rua conde de bobadela.
Marcelo conversou com Aline por muito tempo parados no encontro das ruas. Depois se dirigiram a Rua São José e num daqueles cafés aconchegantes tomaram algo quente.
Luzes de natal piscavam nas sacadas históricas, enquanto os dois saboreavam um chocolate quentinho.
O que aconteceu depois não se sabe. Os relatos que falavam desse encontro, se misturaram com outros acontecimentos de sua vida. Voltou a falar de Aline quase no final de seus escritos, e não usou muitas palavras.
As palavras que seguem são as últimas que escreveu:
Amor da minha vida
Luz que me ilumina
Infinito, é o que és.
Nada melhor como tê-la dentro de mim.
Eu te amo.
As palavras de Marcelo contidas nas folhas de seu caderno de forma sintetizadas sugerem um desabafo. Uma história romântica, mas é certo que não quis pormenorizar, ocultando acontecimentos de extremo amor.
E a mágica cidade de Ouro preto continua ainda hoje criando os mais belos cenários para que o amor nasça e se eternize.
Ouro preto é deveras sensacional.
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