Por que o Irã quer mudar sua capital?: razões econômicas por trás de uma decisão estratégica

“Finanças para todos”: Leia o novo artigo do colunista mexicano Emilio Moreno Plascencia.

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Por Emilio Moreno Plascencia Publicado em 24/03/2025, 14:01 - Atualizado em 24/03/2025, 14:01
Foto — Emilio Moreno Plascencia. Crédito — Reprodução. Siga no Google News

A intenção do Irã de transferir sua capital administrativa para fora de Teerã reflete um esforço para enfrentar desafios estruturais que ameaçam a continuidade do funcionamento estatal e a estabilidade econômica do país. A capital atual concentra de forma excessiva a população, os serviços públicos e a atividade produtiva, o que sobrecarrega a infraestrutura, encarece o custo de vida e amplia vulnerabilidades operacionais.

Um dos fatores mais críticos é o risco sísmico, pois Teerã está localizada em uma das regiões mais suscetíveis a terremotos. Essa condição geológica, somada à poluição atmosférica, à escassez de água e à mobilidade urbana deficiente, eleva significativamente o custo de operação para empresas e instituições públicas enquanto compromete a qualidade de vida da população.

Além disso, o modelo centralizado impõe custos crescentes ao desenvolvimento nacional, pois restringe a diversificação econômica e mantém outras regiões à margem dos investimentos públicos. Nesse contexto, a descentralização administrativa surge como estratégia não apenas para reduzir riscos, mas também para fomentar uma redistribuição territorial mais eficiente do crescimento econômico.

Entretanto, a principal barreira para a implementação desse plano está na sua viabilidade fiscal. Em um cenário marcado por sanções internacionais, inflação elevada e acesso restrito a crédito externo, o governo encontra severas limitações para realizar investimentos estruturais em larga escala. A execução do projeto exigiria aportes significativos em capital fixo, como edifícios públicos, infraestrutura logística, serviços essenciais e habitação funcional, o que pressionaria ainda mais um orçamento já fragilizado.

Sem acesso a financiamento multilateral ou a novos fluxos de investimento estrangeiro direto, o Estado dependeria quase exclusivamente de recursos internos. Isso implicaria emitir dívida doméstica, remanejar o orçamento ou reduzir despesas em outras áreas prioritárias, opções que poderiam aumentar o risco fiscal e abalar a confiança dos agentes econômicos. Consequentemente, qualquer avanço na iniciativa deve ser tecnicamente planejado e financeiramente calibrado para não comprometer a estabilidade macroeconômica.

O modelo proposto pelo governo, inspirado em experiências internacionais, prevê uma transferência gradual de funções estatais para cidades como Qom ou Isfahan. A ideia não é substituir Teerã como capital nacional, mas criar um centro administrativo complementar que descongestione estruturas já saturadas e promova a dinamização econômica no interior. Para isso, seriam necessários incentivos fiscais, expansão da conectividade e investimentos em infraestrutura e serviços.

Se conduzido com responsabilidade orçamentária e visão estratégica, o projeto pode representar uma inflexão positiva rumo à modernização institucional e ao equilíbrio territorial. Caso contrário, tende a aprofundar desequilíbrios existentes, tornando-se mais um fator de incerteza para as finanças públicas. A decisão de desconcentrar a administração não se resume a uma resposta a ameaças naturais, mas expressa uma tentativa de reorganizar o funcionamento do Estado e aprimorar a eficiência do gasto público em um momento de severas restrições externas.

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