A volta parcial das aulas presenciais está provocando o uso equivocado do termo “Ensino Híbrido”. Vejam bem, se alguns alunos participam de aulas remotas, com atividades em vídeo, gravadas ou ao vivo, e outra parte da turma vai até a escola para assistir às aulas… Seria isso, o Ensino Híbrido? Com certeza, não!
Diferente do que muitos pensam, não basta gravar uma aula presencial na escola para que parte da turma assista em casa. O Ensino Híbrido só acontece quando o professor usa intencionalmente algum tipo de tecnologia digital para potencializar os momentos presenciais do ensino, personalizando o aprendizado para sanar defasagens e promovendo a integração entre online e offline para reforçar a autonomia e o protagonismo do aluno.
Outro equívoco é achar que esta modalidade de ensino nasceu agora, em função da pandemia. Muito antes da internet, o termo Blended Learning, ou ensino misto, combinado, surgiu nos anos de 1960, nos Estados Unidos, quando computadores foram incorporados à educação acadêmica. Mas foi a partir de 1970 que a aplicação do Ensino Assistido por Computador (EAC) foi iniciada. Na década de 1990, quando os computadores e periféricos tornaram-se mais acessíveis e populares, o Ensino Híbrido foi, enfim, consolidado nas instituições de Ensino Superior e, mais tarde, no Ensino Básico.
O maior impacto que o Ensino Híbrido provocou foram as mudanças no papel do aluno e, principalmente, do professor. Por isso, é importante começar pela formação dos professores, que precisam desvendar a fórmula de criar um ambiente de aprendizagem integrado com as tecnologias digitais. Hoje, existem novas formas de ensinar e os espaços escolares também precisam ser modificados, adaptados, ressignificados na sua essência. Esta mudança de cultura, se for bem trabalhada, pode gerar resultados excelentes, sim. Porém...
A pressa inimiga da Educação
Em conversa com os colegas que também são professores, concluímos que o termo “Ensino Híbrido” está sendo utilizado apenas para justificar um retorno apressado às aulas. Isso foi tentado no ano passado e não deu certo.
As escolas, mesmo as particulares, ainda não estão preparadas para fazer uso adequado das ferramentas tecnológicas disponíveis, mas se apropriaram da expressão para propagar um clima de “falsa normalidade” aos seus clientes.
Hoje, no Brasil, são pouquíssimos os colégios que conseguirão dar atenção real e simultânea aos alunos das aulas presenciais e remotas. Na rede pública, a situação é ainda mais complicada, pois a desigualdade no acesso à tecnologia acentua ainda mais o distanciamento entre as classes e a defasagem da aprendizagem.
Uma boa estratégia, talvez, seria primeiramente identificar os alunos que mais necessitam de suporte para planejar e implementar ações que possam atendê-los. A oferta de instrução especializada ou adicional, bem como a mobilização de profissionais especialmente preparados para oferecer tal suporte, podem ajudar na identificação das áreas onde mais ocorre essa defasagem.
A maioria dos professores ainda defende que o retorno das aulas presenciais só devia rolar quando houvesse um ambiente seguro, o que ainda não aconteceu. Principalmente para o público do Ensino Básico, que nem vacina recebeu. Esse retorno desesperado, por razões políticas ou comerciais, só amplia as chances de se criar um cenário propício para o avanço das novas variantes do novo coronavírus.
Sobre os autores
Victor Stutz é jornalista, escritor, autor de livros infantojuvenis e professor de Artes. Gilson Cesar Xavier Moutinho é professor de História e Filosofia do ensino básico e educador popular.
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