“Brasil e a desdolarização: uma oportunidade para fortalecer o real?”, por Emilio Moreno Plascencia

Mexicano estreia a coluna “Finanças para todos” no JVA.

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Por Emilio Moreno Plascencia Publicado em 19/02/2025, 15:14 - Atualizado em 19/02/2025, 15:14
Foto — Emilio Moreno Plascencia. Crédito — Reprodução. Siga no Google News

A desdolarização tem se tornado um fenômeno crescente em nível mundial, impulsionado por economias emergentes que buscam reduzir sua dependência do dólar no comércio internacional. Nesse contexto, o Brasil, como maior economia da América Latina e membro-chave do BRICS, tem adotado estratégias para intensificar o uso de moedas locais, especialmente com a China. Embora essa tendência represente uma oportunidade para fortalecer o real, seu sucesso depende de múltiplos fatores econômicos, financeiros e estruturais que devem ser analisados em conjunto.

Desde a crescente volatilidade do dólar até a necessidade de maior autonomia financeira, o Brasil busca alternativas para mitigar riscos e melhorar sua posição nos mercados internacionais. Como grande exportador de commodities, o país tem sido historicamente vulnerável às oscilações do dólar, afetando sua balança comercial e suas receitas externas. Para minimizar esses impactos, passou a realizar transações em yuans e reais com a China, reduzindo sua exposição à política monetária do Federal Reserve dos EUA e diversificando suas fontes de financiamento. Além disso, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) dos BRICS tem facilitado mecanismos que promovem a cooperação financeira sem recorrer ao dólar, o que representa um passo importante nesse processo.

No entanto, embora essas medidas possam mitigar certos riscos, também geram novas incertezas. A menor demanda por dólares nas reservas cambiais poderia desencadear reações adversas nos mercados financeiros, como a saída de capitais e o redirecionamento de investimentos para economias mais estáveis. Além disso, o uso do yuan no comércio bilateral, apesar de oferecer maior flexibilidade, implica uma crescente dependência da China, criando novas vulnerabilidades econômicas a longo prazo. Dessa forma, substituir o dólar por outra moeda estrangeira não garante, por si só, maior estabilidade, a menos que seja acompanhado por uma estratégia macroeconômica sólida.

Outro desafio da desdolarização é a infraestrutura financeira limitada do real. Diferentemente do dólar, amplamente aceito devido à sua liquidez e estabilidade, o real ainda carece de confiança e respaldo no mercado financeiro global. Isso dificulta sua adoção em acordos comerciais e reduz sua atratividade para investidores internacionais. Sem reformas estruturais que promovam estabilidade monetária, competitividade financeira e integração do real no sistema de pagamentos global, a desdolarização pode, paradoxalmente, aumentar a volatilidade cambial em vez de reduzi-la.

Para que a desdolarização realmente fortaleça o real e beneficie a economia brasileira, é essencial adotar medidas que garantam maior previsibilidade econômica. Isso inclui políticas fiscais e monetárias responsáveis, controle da inflação e uma política cambial estável. A confiança em uma moeda é construída com crescimento econômico sustentável, o que facilita seu uso no comércio internacional e atrai investimentos estrangeiros.

Além disso, para consolidar a posição do real nos mercados globais, é necessário ampliar sua aceitação em transações internacionais por meio de acordos bilaterais e multilaterais que incentivem seu uso. Reforçar a cooperação com a América Latina, África e Ásia permitiria ao Brasil diversificar seus parceiros comerciais e reduzir riscos decorrentes de uma dependência excessiva de um único mercado, como a China. Paralelamente, modernizar o mercado financeiro brasileiro, fortalecer a infraestrutura bancária para transações em moeda local e desenvolver um mercado de títulos soberanos em reais mais atrativo para investidores internacionais são passos essenciais. O uso do real no financiamento internacional, por meio do NDB e de outras instituições multilaterais, também contribuiria para consolidar sua estabilidade.

Em conclusão, a desdolarização apresenta tanto oportunidades quanto desafios para o Brasil. Caso o país consiga estabilizar sua economia, fortalecer a confiança em sua moeda e modernizar seu sistema financeiro, poderá reduzir sua dependência do dólar e posicionar o real como uma alternativa viável no comércio internacional. Entretanto, se o processo for conduzido sem uma base estrutural sólida, o real poderá enfrentar maior volatilidade e perda de credibilidade perante investidores, comprometendo sua estabilidade econômica a longo prazo. Assim, o sucesso da desdolarização dependerá da capacidade do Brasil de equilibrar sua autonomia financeira com uma integração eficaz no comércio global.

Sobre o autor

Emilio Moreno Plascencia nasceu em Guadalajara e tem 18 anos; atualmente, está cursando o quinto semestre do ensino médio na Itália. Estudou no México, em Portugal e na Itália, o que lhe proporcionou uma perspectiva multicultural e fluência nos idiomas inglês, francês, italiano, espanhol e português.

É fundador da Finca Don Emilio, uma empresa dedicada à criação de animais de alta qualidade. Graças ao seu foco na agricultura sustentável e à sua capacidade de gerenciar projetos empresariais desde cedo, adquiriu habilidades essenciais em administração, produção e liderança, consolidando-se como um jovem empreendedor com grande potencial e visão.

Além disso, escreve artigos sobre finanças e economia, compartilhando análises e perspectivas sobre mercados e estratégias financeiras.

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