Texto escrito em 2011
Eduardo Augusto (Edu Batista) é natural de Ouro Preto. É escritor, filósofo e educador parental, certificado em Disciplina Positiva pela Positive Discipline Association. É casado com a Ana e é pai da Clara (13 anos). Já publicou um livro infantil “Marioleia, a pulguinha que gostava de ler” e prepara um livro de crônicas para 2020. Já publicou seus textos em sites, jornais e revistas. Atualmente, dedica-se a apresentar a Disciplina Positiva e a Comunicação Não-Violenta para grupos de pais e pessoas interessadas.
Profeta Gentileza
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente José Datrino, o Profeta Gentileza, no início dos anos 80. Andarilho das cores e das dores desse mundo, por onde andava chamava a atenção das pessoas para que vivessem em harmonia. Um grande incêndio num circo, em Niterói, no final de 1961, deixou profundas marcas em seu ser e fizeram com que ele desse início à sua missão. Neste trágico acontecimento, adultos e, principalmente, crianças perderam suas vidas. No local, palco de tantas alegrias, ele plantou um jardim e uma horta e passou a confortar os familiares das vítimas com palavras de bondade. A partir de 1970 começou sua peregrinação, inicialmente entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Depois, passou por diversas cidades. A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, no Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5 km, onde colocou suas inscrições que falavam de Deus, da verdade, da vida e do amor. Anos depois elas foram pintadas de cinza, até serem recuperadas bem mais tarde.

Sua chegada a Ouro Preto – MG, terra de forasteiros e gente religiosa, causou grande repercussão. Como um novo Moisés carregava suas tábuas de madeira com inscrições em verde-amarelo onde estampava sua fé. Encontrá-lo por aquelas ruas históricas após as aulas da escola era uma grande festa. Dezenas de crianças e adolescentes ajuntavam-se à sua volta para escutar aquele insólito personagem. Ele também parecia se divertir!
_ Profeta, profeta, o que tá escrito aí? Sem perder tempo lia para aqueles olhos atentos cada uma das inscrições. A mais famosa delas: “gentileza gera gentileza” exclamava em tom solene! Ao final nos alertava: "Crianças, não fumem! Sabem por quê? Porque o cigarro é a chaminé do capeta!" Não tinha nada melhor pra aquela criançada. Todas as vezes em que nos encontrávamos com ele, sempre havia alguém para perguntar: “E o cigarro, Profeta?”
Minha mãe tinha uma pensão onde funcionava um restaurante. Certa vez ele apareceu no portão sem a túnica e o estandarte. Estava de camisa branca e calça social. Parecia um homem comum, exceto, pelos cabelos brancos compridos e a longa barba que revelavam algo de sua estirpe.
Tocou a campanhia. Fui atendê-lo.
_ Sua mãe está? Fale para ela por favor que quero almoçar aqui todos os dias! Pergunte a ela se posso. Fui para dentro de casa contar aos meus irmãos:
_ Vocês não acreditam quem está lá fora! O Profeta! Chegamos ao portão, com olhares curiosos. Ele cumprimentou meus irmãos e se dirigiu a mim novamente:
_ Menino, você falou com sua mãe?
_ Espera aí, vou chamar!
_ Mãe, o Profeta tá aqui! Ele disse que ta querendo pegar um rango todo dia!
_ Já vou, meu filho!
Dedico esse texto a essa figura fantástica que mesmo tantas vezes bravo pela “corrupção dos costumes” _ como dizia _ nos lembrou: “Gentileza gera gentileza. Amor, palavra que liberta!”
Eduardo Augusto
31/10/11
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