Desmemoria
Pouca a pouca foi se esquecendo das coisas:
dinheiro, receitas, caminhos, lugares, rostos…
Os filhos, ávidos por fazê-la lembrar, improvisavam um turbilhão de novas impressões,
mostrando-lhe fotografias.
Nesse estado, as fotografias são uma tortura por não fazerem lembrar, da mesma forma que
são desconfortáveis os sorrisos e o alarido do ajuntamento de gentes estranhas
Pouco a pouco foi se esquecendo
e pouco a pouco também se ia
e nós também
Indo e esquecend
Sobre o colunista
* Márcio Messias Belém é carioca e graduado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pós-graduado em Ensino de Língua Portuguesa aos Surdos como segunda língua pelo INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos). Atualmente, faz mestrado em Educação Bilíngue (libras e português).
Filho de pais surdos, o filósofo carioca Márcio Messias Belém se utiliza da crônica, do conto e mesmo da prosa para tratar de forma delicada e ao mesmo tempo descontraída de um tema que deveria ser mais discutido na sociedade, a Inclusão, principalmente voltada às pessoas com deficiência.
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