Quando eu era criança e fazia alguma peraltice, o que era coisa rara porque sempre fui um menino relativamente comportado, minha mãe, ao aproximar-se para me corrigir, sempre dizia em tom solene e ameaçador: “Se você não ouvir seu pai e a mim, a vida vai te educar!”. Hoje, depois de algumas décadas passadas, ponho-me a refletir sobre o papel educativo da vida. Será que as experiências multifacetadas da existência realmente nos educam? Será que aprendemos com os tropeços, erros, insucessos e decepções que a vida nos impõe?
Depois de quatro décadas de existência, posso afirmar que minha mãe tinha razão. As diversas experiências que fazemos ao longo da vida exercem um papel pedagógico em nossa existência. Aprendemos muito com os acertos, mas principalmente com os erros da vida. Errar também educa, ninguém aprende sem errar. Os erros fazem parte da vida humana e exercem um papel importante no processo de aprendizado humano. Neste sentido, ela - a vida - é uma mestra exigente: quando é preciso, corrige com rigidez; ela tende a nos ensinar através de situações inesperadas e doloridas; ela dá lições e cobra estas mesmas lições, tal como a professora da escola. Quem se deixar corrigir por ela, torna-se melhor e mais preparado para enfrentá-la.
Mas atenção! Para que a vida exerça a sua função pedagógica, são necessários alguns requisitos:
1º) Capacidade para reler a própria história numa ótica nova e potencializadora de possibilidades. Quem não tem o costume de rever a própria história com frequência, refletir sobre os acontecimentos existenciais e meditar sobre os rumos tomados, não consegue aprender com a vida. A vida educa na medida em que se faz uma releitura das experiências vividas, especialmente as negativas, na ótica das possibilidades existenciais que elas descortinam; a vida educa na medida em que os acontecimentos mais duros da existência são ressignificados na perspectiva de crescimento e amadurecimento.
2º) Humildade: é necessário humildade para olhar para a própria existência e reconhecer que fazemos escolhas erradas, tomamos caminhos incertos e tortuosos e, como consequência natural, não alcançamos a felicidade tão desejada. Somente a partir do reconhecimento humilde e sincero dos próprios erros e tropeços, torna-se possível crescer com eles e não repeti-los novamente. Diz o ditado popular que “errar é humano, mas permanecer no erro é burrice!”. Portanto, os erros quando são assimilados com humildade, podem ser uma inesgotável fonte de crescimento e de maturação da vida;
3°) Não ter medo de refazer o caminho da vida: O ser humano é o único ser capaz de fazer, desfazer e refazer. Em se tratando da existência humana, é necessário refazer a vida a partir dos erros e dos sofrimentos causados por eles. As frustrações da vida podem ser um ótimo impulso para o ser humano crescer, melhorar e percorrer um caminho existencial mais frutuoso. É necessário estar disposto a crescer e a melhorar sempre, por mais doloroso que seja este processo de ressignificação da própria vida.
Como se percebe, não se aprende a viver apenas lendo livros, frequentando os grandes centros acadêmicos ou ouvindo bons conselhos. A vida é uma escola riquíssima, cheia de aprendizado a oferecer. A sábia poetisa Cora Coralina afirmava: “O saber a gente aprende com os livros e os mestres. A sabedoria se aprende é com a vida e os humildes”. O ser humano alcança a maturidade psíquica e espiritual impulsionado também pelos grandes aprendizados coletados ao longo da existência, principalmente a partir dos duros golpes da vida. Mas atenção! As experiências boas e positivas da vida também educam e ensinam. “Se a gente cresce com os duros golpes da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma” (Cora Coralina). Conclusão: Só se aprende a viver, vivendo! Erros e acertos fazem parte da condição humana e podem ser rica fonte de humanização e de crescimento. Que na escola da vida, a grande mestra, sejamos bons discípulos: aplicados, dispostos a aprender e a dar saltos qualitativos na nossa limitada e curta existência.
*Padre Edmar José da Silva é Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto-MG
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