Suspeito da morte de Adriana Pascoal é preso em Mariana-MG

Feminicídio aconteceu em junho deste ano, no Bairro São Cristóvão, após saída da vítima de um evento na Arena

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Por João Paulo Silva Publicado em 30/08/2019, 17:04 - Atualizado em 02/09/2019, 16:40
Foto – Primeiras ações policiais após encontro do corpo, em junho 2019 Siga no Google News

O principal suspeito da morte de Adriana Aparecida Pascoal foi preso, na última quarta-feira (28/08), em Mariana (MG). O crime aconteceu na madrugada do dia 09 de junho de 2019. Adriana tinha 43 anos e foi empurrada de uma passarela localizada na Rodovia do Contorno, no Bairro São Cristovão, ao voltar de uma festa junina.

O suspeito é um homem de 35 anos, também morador da cidade histórica. De acordo com informações da Polícia Civil de Mariana, o mesmo já possui duas condenações por tentativa de homicídio, uma condenação por tráfico de drogas, além de três indiciamentos por posse de arma de fogo em João Monlevade.

Materiais apreendidos na fase de investigação, que teve início no mesmo dia do encontro do corpo, foram um dos facilitadores para que se chegasse à prisão do suspeito. Blusa de frio do suspeito, lata de cerveja, sandálias, aparelhos celular e gravações de circuito de câmeras e fotografias do evento foram provas importantes no trabalho da Polícia Civil.

Desaparecimento                                           

Os investigadores do caso relataram que a vítima Adriana Aparecida Pascoal participou de uma festa junina no dia 08 de julho, onde permaneceu até o final do evento, por volta das 23h40min. “A mãe de Adriana que sempre recebia seu contato em caso de demora, ou se esta fosse dormir fora, achou estranho a falta de contato, porém foi dormir normalmente”.

No dia seguinte, a família percebeu que Adriana não havia dormido em casa e houve tentativas de ligação para seu telefone. “Com a negativa em localizá-la, a família procurou a polícia para o registro de seu desaparecimento”.

Morte

“Nossa equipe tentou localizar Adriana, ainda esperançosos, tal como a família, de que ela estivesse na casa de algum amigo. Porém, seu corpo foi localizado três dias depois, cerca de 100 metros da sua casa”.

A equipe compareceu ao local e, juntamente da perícia, averiguou que Adriana havia sofrido um empurrão com sua queda da passarela que margeia a rodovia do contorno em direção ao Bairro São Cristóvão.

“Ela estava com um ferimento grande na cabeça. O exame médico legal confirmou a morte por politraumatismo, não havia indícios médicos de relação sexual, o que não descartava a tentativa de abuso”.

Investigação e coleta de provas

Foram quase três meses de investigação ininterrupta, onde foram ouvidas diversas testemunhas e pessoas que tiveram contato pessoal ou profissional com Adriana. Foi traçado o perfil da vítima, considerada pessoa muito conhecida na cidade e muito querida na região onde morava há mais de 20 anos. “Adriana era alegre e bastante comunicativa, gostava de participar de festas e de tomar sua cervejinha esporadicamente”.

Ainda durante a investigação, foram coletadas diversas imagens de circuito de câmeras próximas ao local do evento, horas de gravações foram analisadas. Até o momento em que no circuito de câmeras da Guarda Municipal foi possível definir hora e trajeto percorrido por Adriana, e, a partir dali passou-se a ter a informação de um homem acompanhando a vítima até a passarela onde ocorreu o crime.

Nas demais câmeras foi traçado o caminho percorrido por Adriana, que sai acompanhada por volta as 00h55 do estacionamento da Arena Mariana, passa em frente à uma padaria próxima, em frente a um colégio particular que existe no trajeto feito por Adriana, sobe em direção ao clube de lazer existente ali e caminha para rotatória que leva à passarela onde ela foi atirada pelo autor.

Identificação do autor

“Tínhamos toda dinâmica do crime, mas faltava a identificação do autor. Com as imagens, cerca de 3000, além de vários vídeos da organização do evento, foram procurados indivíduos com as características físicas e roupas identificadas nas outras gravações. Então, depois de conferir imagens de cerca de 1700 pessoas (dados obtidos com a organização do evento), nossa equipe distinguiu o autor no meio dos shows e em determinada fotografia em que é possível constatar que ele estava logo atrás de Adriana”.

Com a fotografia do suspeito em mãos, os investigadores passaram a divulgar entre as testemunhas já inquiridas, e de imediato obtiveram a identificação do suspeito: “indivíduo de extensa ficha criminal, porém, não conhecido pelos Investigadores por ter praticado seus ilícitos na Comarca de João Monlevade”.

O suspeito é irmão e cunhado de moradores antigos do bairro São Cristóvão e que moravam próximos a casa da vítima. Ele prestava serviços na região e morava em uma casa cerca de 150 metros da residência da vítima.

Primeiro contato com o suspeito

A Polícia Civil de Mariana informou ainda que em um primeiro contato com o autor este negou sua participação no crime e se limitou a dizer que havia ido ao show, permanecido lá sozinho e também voltado para sua casa sozinho.

“Ele nos disse que apenas cumprimentou um conhecido e viu Adriana tirando selfies. A companheira do suspeito também foi convidada para prestar suas declarações e primeiramente em nada acrescentou. Devido à notória tentativa de esconder informações foram pedidas ao suspeito e apresentados de espontânea vontade as vestes que utilizava no dia dos shows”.

Foram apreendidas uma blusa marrom de lã e gola alta, uma calça jeans e um sapato, estes dois últimos com suspeita de não serem realmente as vestes que utilizara, porém, quanto à blusa, segundo a polícia, não houve dúvidas.

Testemunhas informaram que o autor havia na verdade abordado Adriana e até mesmo comprado cerveja para ela no evento. Além disso, à certa testemunha, o autor teria dito que naquele dia “possuiria uma mulher a todo custo”, demonstrando a objetificação e menosprezo pelo gênero, caracterizando o feminicídio.

Frieza

O suspeito foi ouvido sempre acompanhado de seus procuradores, outras duas vezes sempre negando o crime, mas demonstrando seu perfil.

“Nos interrogatórios, nunca olhava nos olhos de seu entrevistador, sempre mantinha uma posição rígida, com braços cruzados, com resposta curtas e falas limitadas, demostrando sempre estar arquitetando suas respostas, todavia, nada nos contava”.

Mostradas as imagens aos suspeitos, este negou ser ele, indo na contramão de seu cunhado, sua companheira e vários moradores que o conheciam.

Sobe a motivação do crime, a Polícia Civil afirma “a tentativa frustrada de ter relação sexual com Adriana e seu arremessamento de cima da passarela ocorreu em um ataque de fúria”.

Confissão

De acordo com a Polícia Civil de Mariana, o suspeito foi preso em flagrante no dia 28 de agosto, após ameaçar de morte sua companheira e depois lhe confessar ter jogado Adriana Aparecida Pascoal, de cima da passarela.

Semanas após o crime, “o suspeito chegou ao cúmulo de prestar serviços na residência da vítima, à sua irmã, demonstrando seu desdém e sua ‘quase’ certeza da impunidade”.

O caso segue sob o comando da delegada Ana Carolina Ferreira de Freitas, apoiada pelos investigadores Eduardo Andrade Tostes, Welington Ferrarez Machado, Francisco Cesar de oliveira, Rodrigo Roberto Martins, Vanderlei Aparecido Arruda, Helder Pereira Jaques e pela escrivã Edna Trindade Teotônio.

Foto - Primeiras ações policiais após encontro do corpo, em junho 2019

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