No dia 05 de fevereiro de 2025, o desabamento do forro do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Salvador (BA), conhecida como Igreja de Ouro, causou a morte de Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, turista que visitava o templo e deixou cinco pessoas feridas.
Em Ouro Preto, cidade histórica de Minas Gerais e uma das primeiras tombadas pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938, a primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Mundial, conferido pela Unesco, em 1980, desde o dia 21/12/2024 um de seus templos históricos, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, com construção datada partir de 1772, está fechada.
O motivo do fechamento é o estado precário do forro do teto da nave, que contém elementos artísticos e apresenta a predominância de tons cinza e azuis, de caráter simples, representando a Ladainha de Nossa Senhora. Visivelmente comprometido, com tábuas soltas e aberturas, o forro do teto teve uma avaliação do IPHAN e Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que atestaram a necessidade de fechamento da Igreja, pelo risco que levava aos frequentadores.
Nos dias 12 e 13/02, acompanhamos o trabalho de escaneamento do teto do templo, feito por empresa contratada pela Prefeitura de Ouro Preto. Segundo Aldo Araújo, restaurador responsável pelo trabalho, é importante que se tenha imagens em altíssima resolução para se, porventura, acontecer algum sinistro no processo de restauro, haja a facilidade de se ter novamente a originalidade do forro.
O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, afirma haver atenção do município em relação aos templos via Funpatri- Fundo de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Ouro Preto, onde a prefeitura investe recursos vindos o ICMS Cultural - Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias do governo do estado.
“O governo de minas distribui valores para as prefeituras às terças-feiras e cada prefeitura tem uma cota de ICMS Cultural. Dentro desse imposto tem um valor adicional relativo ao patrimônio cultural. Quanto mais trabalhamos em defesa desse patrimônio e mais apresentamos resultados, mais recebemos” diz o prefeito.
“Quando entramos na prefeitura em 2021 estávamos entre os últimos lugares na escala de coleta de valores em relação ao patrimônio cultural. Voltamos ao segundo lugar. Estamos somente atrás de Mariana, porque há o distrito de Santa Rita Durão tombado pelo Iepha - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais e isso dá a primazia no ICMS Cultural para a cidade irmã. Mas Ouro Preto voltou ao seu lugar de destaque e está aplicando o dinheiro arrecadado em obras do patrimônio cultural,” afirma Angelo.
Assista vídeo com o prefeito de Ouro Preto sobre as ações. Matéria continua após entrevista.
O teto de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia será totalmente retirado num trabalho minucioso, peça por peça. Já está em andamento, pela secretaria de Cultura e Turismo, o processo para a contratação dos trabalhos.
Após o período carnavalesco deste ano, terá início o trabalho de retirada do forro, que será mapeado, passará por conservação preventiva, limpeza, fixação da policromia, desinfestação, processo de embalagem e acondicionamento até que os recursos definitivos sejam liberados para restauração final do forro e a recolocação com a sua originalidade. Após a finalização da remoção, o templo será reaberto para visitas e celebrações, mesmo sem o forro, o que está previsto para o mês de julho.
Outros dois templos passaram pelo minucioso trabalho em alta resolução de escaneamento e mapeamento dos forros e estruturas dos tetos e telhado. São a Igreja de São Francisco de Assis e a Basílica de Nossa Senhora do Pilar.
Na Basílica de Nossa Senhora do Pilar, segundo o restaurador Aldo, haverá uma análise comparativa, com imagens de dois anos atrás e atuais, porém as primeiras informações são de que não há alterações, sem movimentação de madeiramento, sem infestação e estável.
Segundo Carlos José Aparecido de Oliveira, diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, fatos históricos tranquilizam a situação do teto da Basílica de Nossa Senhora do Pilar, sendo um deles, uma estrutura de concreto, uma cinta, ao redor do telhado, instalada na década de 1940, após uma queda de parte da lateral direita do templo.
Assista entrevistas em vídeo com Carlos, abaixo. Matéria continua após entrevista.
Na igreja de São Francisco de Assis, após mapeamento, verificou-se, também, as boas condições, segundo o secretário de Cultura e Turismo da cidade, Flávio Malta. Ele relata ainda que havia a necessidade anterior de realizar o desmonte do forro da Igreja de Nossa Senhor das Mercês e Misericórdia, o que já estava programado.
Observando que poderiam ser contratados mais dois outros trabalhos de escaneamentos, o forro da Basílica de Nossa Senhora do Pilar e de São Francisco de Assis foram escolhidos, inicialmente, pela representação histórica e importância artística de cada um.
Ainda segundo o Secretário, diferentemente do caso da Igreja do Ouro, da Bahia, onde foi feito escaneamento após o desabamento, em Ouro Preto a prevenção está sendo realizada com escaneamento e mapeamento dos forros. “Cada tábua é um elemento artístico de um grande conjunto, de um grande quebra-cabeça e essa prevenção está sendo feita em caso de um possível acidente, mas as condições atuais dos forros Basílica de Nossa Senhora do Pilar e da igreja de São Francisco de Assis são excelentes” encerra Malta.
Conheça um pouco do trabalho de mapeamento realizado com vídeo fornecido pela empresa VIT, no trabalho da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Rafael Rigonni é um engenheiro que utiliza tecnologia de ponta para registrar e preservar a arquitetura e a arte barroca de templos históricos. Ele usa escaneamento a laser e fotogrametria para criar modelos detalhados das estruturas, incluindo partes ocultas do telhado, como mostrado no vídeo acima.
Esse trabalho é importante para preservar a história e permitir que especialistas, como arquitetos e engenheiros e restauradores possam analisar e agir com precisão para restaurar esses templos.
O Jornal Voz Ativa acompanhará os trabalhos em outros templos da cidade, por haver a necessidade de que sejam mapeados. O Iphan realiza vistorias anuais nos templos tombados.
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