Vídeo – Lula intervém para sanar vaias ao discurso do prefeito de Mariana

O prefeito de Mariana (MG), Juliano Duarte, foi vaiado durante seu discurso na cerimônia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira, 12 de junho. A reação do público levou Lula a intervir, pedindo respeito e destacando a importância histórica do evento. O presidente enfatizou que, apesar das diferenças políticas, o momento era institucional e que Duarte era um convidado oficial.

“Deixa eu pedir um favor para vocês, esse momento é histórico para a cidade de Mariana e Minas Gerias. Quando começar a campanha política, faça sua parte, mas hoje não. Hoje ele [prefeito] é nosso convidado, não tem sentido o presidente convidar uma autoridade e ele ser mal recebido. Não está proibida a liberdade de expressão, é só responsabilizando a liberdade de expressão”, disse Lula.

Após o ocorrido, o prefeito agradeceu o presidente e continuou sua fala sobre o impacto que o rompimento causou em diversas áreas da cidade.

“Eu moro em Mariana e vivi na pele o sofrimento da nossa cidade. Muitas pessoas perderam suas casas, muitas pessoas perderam as vidas, a economia de Mariana foi fragilizada, muitas empresas fecharam as portas. E, senhor presidente, desde o dia 5 de novembro de 2015, nem um presidente veio a Mariana”, disse Juliano Duarte.

Insatisfação

A insatisfação com o prefeito parece estar ligada à sua postura política ambígua, já que, há poucos meses, ele homenageou o deputado Nikolas Ferreira, um opositor de Lula, com a maior honraria da cidade na cerimônia da Medalha Pedro Aleixo. Isso gerou críticas e questionamentos sobre sua posição política.

Na época, internautas chegaram a questionar a homenagem por meio do site do Jornal Voz Ativa. “Só não entendi a indicação de Nicolas Ferreira para essa homenagem. Um “cidadão” que não faz nada de útil para a sociedade, muito pelo contrário, é um exímio divulgador de fake news, preconceituoso, homofóbico, pessoa sem um pingo de escrúpulos que dissemina ódio e a desinformação. Me admira o Município prestar esse papel! Indignada!”, disse uma internauta.

“Caramba! Pedro Aleixo deve estar revirando em seu túmulo ao saber que a câmara de mariana concedeu esta medalha ao "excrementíssimo" Sr. deputado federal Nicolas Ferreira, um ser abjeto, medíocre, mentiroso, na verdade, um crápula. Parabéns a que o indicou. Os afins se atraem”, disse outro.

Já o deputado foi sucinto em suas redes sociais em relação ao homenagem recebida em Mariana no dia 25 de março de 2025: “Recebemos hoje a Medalha Presidente Pedro Aleixo, principal honraria de Mariana-MG. Agradeço imensamente a todos pela homenagem”.

Na ocasião, o PSTU – Mariana chegou a publicar uma nota de repúdio à escolha de Nikolas Ferreira como homenageado pela Medalha Pedro Aleixo:

Não bastasse a falta de diálogo com os servidores públicos de Mariana ou a falta de mulheres na lista das pessoas homenageadas na cerimônia de hoje (21 de março), o Coronel resolveu homenagear um defensor da ditadura, da ultradireita, defensor da anistia aos golpistas do 8 de janeiro, condenado três vezes por transfobia e que, em todas as pautas econômicas a favor dos trabalhadores, vota contra, como pelo fim da escala 6×1.

Numa cerimônia que deveria honrar a memória de luta pelos direitos democráticos, com a Medalha Presidente Pedro Aleixo, o prefeito Juliano Duarte (PSB) entregou uma dessas medalhas ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL).

Pedro Aleixo, marianense, único a votar contra o endurecimento da ditadura no Brasil, o Ato Institucional n.º 5 (AI 5), tem sua memória manchada pela homenagem que carrega seu nome sendo entregue a um defensor da ditadura.

Uma verdadeira falta de conhecimento de história e da resistência do povo marianense aos avanços da ultradireita na região. Uma falta de respeito às vítimas de transfobia, crimes que aconteceram recentemente no nosso município. Este ato do prefeito de Mariana demonstra, mais uma vez, a quais valores está alinhado.

Nós, do PSTU, nos somamos à indignação e ao repúdio das moradoras e dos moradores da cidade e da região, que entendem o que essa homenagem significa para a cidade e que, nas eleições, mostrou que não compactua com os discursos da ultradireita. O povo marianense não vai se alinhar com esse setor que, além de retirar direitos, quer silenciar a classe trabalhadora.

Por isso, diante desses fatos que mostram como os ricos e os políticos, sobretudo da ultradireita, têm tentando se construir na nossa região e no Brasil, precisamos continuar mobilizados contra toda forma de opressão, contra a transfobia, a LGBTIfobia, o machismo e o racismo e contra a exploração.

Precisamos continuar exigindo que os golpistas não sejam anistiados. E, para tudo isso, é preciso a luta coletiva do povo trabalhador, com independência de classe!

Não esqueceremos!

Coletivo Mães da (R)existência

Quem também divulgou uma nota de Repúdio contra a entrega da Medalha Pedro Aleixo a Nikolas Ferreira foi Coletivo Mães da (R)existência. Trata-se de um grupo que atua em Mariana, Minas Gerais, na defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+ e na promoção de políticas públicas voltadas à inclusão e ao combate à discriminação. O coletivo surgiu a partir da experiência de uma mãe que percebeu a necessidade de acolhimento e apoio para pessoas LGBTQIA+ na cidade.

Leia abaixo, a íntegra da nota:

Nós, do Coletivo Mães da (R)existência, manifestamos nosso total repúdio à homenagem que será concedida hoje, 21 de março de 2025, a Nikolas Ferreira com a Medalha Especial do Presidente Pedro Aleixo. É inaceitável que um defensor da anistia à tentativa de golpe de 8 de janeiro, apoiador da ditadura militar e condenado três vezes por transfobia receba tal honraria. Em uma cidade que tem enfrentado crimes de LGBTfobia e que instituiu leis e órgãos para promover a diversidade, essa homenagem representa um grave retrocesso.

O preconceito e a discriminação contra pessoas LGBT+ se manifestam de diversas formas, desde xingamentos e violências psicológicas até agressões físicas e homicídios. O Brasil segue entre os países que mais matam pessoas LGBT+, especialmente travestis e transexuais, evidenciando o ódio estrutural contra essa população. O poder público tem o dever de assegurar políticas de proteção e inclusão, garantindo o respeito aos direitos humanos, e não de enaltecer figuras que representam exatamente o contrário.

Defendemos a igualdade de gênero e combatemos qualquer tipo de violência contra minorias. A concessão desta medalha a uma figura condenada por transfobia é um escárnio à população de Mariana e contradiz os princípios democráticos que essa honraria deveria representar. Não podemos aceitar que homenagens públicas sejam concedidas a pessoas que propagam o ódio e a intolerância.

Não iremos nos calar diante dessa afronta. Continuaremos na luta por uma sociedade mais justa e inclusiva, nos posicionando firmemente contra qualquer tentativa de exaltar aqueles que não representam os valores de respeito e dignidade que defendemos. Seguiremos resistindo e denunciando toda forma de violência e retrocesso.

Sobre a Honraria

A Medalha Presidente Pedro Aleixo é a mais alta honraria concedida pelo município de Mariana, Minas Gerais. Ela reconhece personalidades que contribuíram significativamente para o fortalecimento do Direito e da Justiça, prestando relevantes serviços à sociedade.

A medalha leva o nome de Pedro Aleixo, ex-vice-presidente do Brasil e figura histórica que se destacou na defesa da democracia, sendo a única voz contrária ao Ato Institucional nº 5 (AI-5) durante a ditadura militar. A cerimônia de entrega ocorre anualmente e reúne autoridades e personalidades de diversas áreas.

Como dito acima, recentemente, a homenagem gerou controvérsia ao ser concedida ao deputado Nikolas Ferreira, conhecido por suas posições políticas de extrema-direita. A escolha provocou protestos e críticas, especialmente pela ausência de mulheres entre os agraciados.