Memorial Vale Itinerante leva heranças indígenas e afro-brasileiras para 10 cidades mineiras

Nova exposição “Oriará – Arte e Educação em Movimento” apresenta obras de artistas negros e indígenas de diferente regiões do Estado. Mostra percorrerá as cidades de Belo Horizonte, Belo Vale, Jaíba, Congonhas, Curvelo, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais, Brumadinho e Nova Lima durante o primeiro semestre de 2025.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 14/01/2025, 15:57 - Atualizado em 14/01/2025, 15:57
Foto – Reprodução. Crédito – HB Audiovisual. Siga no Google News

O Memorial Minas Gerais Vale apresenta sua nova exposição, “Oriará – Arte e Educação em Movimento”, que traz obras de seis artistas negros e indígenas, representantes de diversas regiões de Minas, propondo reflexões sobre temas como oralidade, território, linguagem, tecnologias e bem viver. A mostra, que integra o projeto Memorial Vale Itinerante, levará arte contemporânea e reflexões sobre as heranças culturais indígenas e afro-brasileiras a 10 cidades mineiras em uma carreta de 15 metros de comprimento, especialmente adaptada para o transporte e a exibição das obras. Além da exposição, cada localidade receberá diversas atividades culturais e educativas durante o período que a mostra permanecerá na cidade. A primeira parada de “Oriará” será no Parque Municipal, em Belo Horizonte, de 15 de janeiro até 08 de fevereiro com visitação gratuita de terça a domingo, das 9h às 17h.

Com curadoria do Programa Educativo do Memorial Vale, a exposição utiliza a arte como ferramenta de diálogo e encontro, buscando aproximar o público de perspectivas importantes sobre a história coletiva. Além da capital, “Oriará” visitará Belo Vale, Jaíba, Congonhas, Curvelo, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais, Brumadinho e Nova Lima, alcançando um público potencial de mais de 2,8 milhões de pessoas. “O Memorial Vale acumula em sua trajetória muitas experiências e práticas que privilegiam as tecnologias e as histórias dos povos originários e afro-brasileiros no território mineiro, como a exposição itinerante Africanidades e Mineiridades, ações com aldeia indígena Katurãma dos povos Pataxó e Pataxó Hã hã Hãe, a instalação educativa Sementes da Diáspora, dentre outras. A exposição Oriará oferece uma oportunidade única de conhecer a produção artística contemporânea mineira e aprofundar o conhecimento sobre as culturas indígenas e afro-brasileiras”, explica Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.

"Ori" é uma palavra que vem do Yorubá, cujo significado literal é cabeça. É raiz da palavra Orixá, que designa divindades africanas cultuadas nos territórios brasileiros. Pode-se considerar que "Ori" se refere a um orixá que vive dentro das nossas cabeças, manifestando-se como uma faísca de vida que nos habita. "Ará", conforme o dicionário Tupi-Guarani, tem alguns significados: dia, sol, nascer, surgir, todo ser vivente, tempo. "Oriará" abre caminhos para a transmissão de conhecimentos e compartilhamento de ideias, volta-se aos modos de vida e à própria presença dos povos indígenas e afro centrados. 

Para traduzir o conceito da exposição Oriará, a curadoria estabeleceu três eixos fundamentais: Cotidianos, com reflexões sobre o modo de viver e meio em que se vive; (Re)Existências, com estratégias para viver e existir, e Futuros, com elaborações sobre um futuro abundante construído a partir da ancestralidade. Tais eixos representam distintos pontos de partida para as discussões e os diálogos propostos, relativos à força e à importância das presenças indígenas e afro-brasileiras na sociedade. 

Obras e artistas

A exposição "Oriará" apresenta um conjunto diversificado de obras que exploram diferentes linguagens e abordagens, conectando o público com as ricas heranças culturais presentes em Minas Gerais. Edgar Kanaykõ Xakriabá, indígena Xacriabá e mestre em Antropologia, utiliza a fotografia como ferramenta de expressão, compartilhando momentos de cuidado, jogos e cultos de seu povo. A obra "Hemba" (fotografia sobre tecido) tensiona preconceitos e visões enrijecidas sobre os povos indígenas, revelando a importância de seus territórios.

Maria Lira, artista autodidata do Vale do Jequitinhonha, trabalha com argila e pigmentos naturais, evocando sua ancestralidade afro-indígena. A obra "Sem Título - Pigmentos naturais sobre pedra” composta por pedras de formas variadas, pintadas com uso de pigmentos naturais que preenchem desenhos de bichos e plantas, os quais parecem remeter às pinturas rupestres existentes em muitas cavernas de Minas Gerais. As criações de Maria Lira apontam a um diálogo constante com a natureza, com os saberes aprendidos pela oralidade e com sua ancestralidade afro-indígena. 

Os Tikmũ’ũn, da Aldeia Escola Floresta Maxakali no Vale do Mucuri, apresentam a obra imersiva "O Que Tem na Roça" (animação digital, desenhos em caneta hidrocor e lápis de cor sobre papel). A obra retrata a diversidade de plantas cultivadas na aldeia e denuncia a destruição da mata, preservando saberes e memórias ancestrais.

Froiid, artista multidisciplinar, aborda o cotidiano popular a partir dos jogos. A obra "Os Petelecos” são jogos de tabuleiro feitos com madeira e pregos, que, na obra do artista, assumem vários formatos. Por meio da arte de jogar, o artista traz ao público um pouco da cultura periférica, de ruas e becos que dialoga fortemente com as heranças afro-indígenas de nosso país a partir dos ditos populares e regras de ser e pertencer a uma comunidade.

O artista visual Marcel Dyogo apresenta "Já Quase Esqueci Seu Nome" (caixas de papelão, papel manteiga e iluminação), uma obra sensível que questiona o apagamento de informações sobre as comunidades indígenas em Minas Gerais. As caixas reunidas formam conjuntos com nomes das 14 comunidades indígenas existentes no Estado.

Dayane Tropicaos, artista visual de Contagem, discute questões de gênero, raça e classe em suas obras. A instalação "Abre Caminho" (uniformes, serigrafia e vídeo) questiona os lugares impostos a populações subalternizadas na sociedade brasileira. A obra é composta por 10 uniformes de trabalho que referem-se a diversas ocupações profissionais que são vistas na sociedade como desvalorizadas.

Jorge dos Anjos, com formação na Fundação de Arte de Ouro Preto, transita entre desenho, pintura, escultura e design. “Obra” (pintura sobre lona de caminhão) combina símbolos geométricos e escritas ancestrais, conectando passado e presente.  Jorge intersecciona temporalidades que abarcam a genialidade e o requinte técnico desenvolvido pelos povos negros, incluindo a rede de comunicação estabelecida em diáspora, quando suas identidades se ressignificaram no Brasil.

Finalmente, o "Varal dos Saberes" é uma obra interativa que convida o público a refletir sobre os eixos curatoriais da exposição através de perguntas, imagens e um mapa digital com informações sobre a ocupação territorial de Minas Gerais por povos indígenas e comunidades quilombolas. Nesta obra os eixos curatoriais se manifestam a partir de seis perguntas, em que a curadoria oferece um grupo de palavras e imagens de celebrações, alimentos e experiências relacionadas aos povos indígenas e quilombolas.

Mais arte e cultura durante a Mostra Oriará – Arte e Educação em Movimento

A exposição itinerante Oriará, também levará ao Parque Municipal uma programação diversificada que inclui atividades culturais e educativas gratuitas para todos os públicos. A primeira atração será no dia 18 de janeiro, às 10h, com o espetáculo "Mininessa Sabi", das Makambas Brincantes, que mistura palhaçaria, cantoria, brincadeiras e contação de histórias com referências na cultura afro-brasileira, convidando crianças de todas as idades a vivenciarem uma experiência lúdica e interativa. Ainda no mesmo dia, às 14h, o Cortejo OriSamba traz a alegria das cores, toadas e ritmos afro-brasileiros em uma celebração que preserva e exalta tradições culturais de Belo Horizonte.

No dia 19 de janeiro, às 10h, a Aldeia Katurãma apresenta "Awê", uma imersão na cultura Pataxó, com histórias, danças típicas e demonstração de jogos tradicionais indígenas. Já no dia 25 de janeiro, em dois horários, às 10h e às 14h, o espetáculo "Rainhas" apresenta a força das Yabás, orixás femininas, em contação de histórias afro-brasileiras realizadas pelas artistas Elaisa de Souza e Jocasta Roque, promovendo a valorização da ancestralidade e da cultura afro. No domingo, dia 26 de janeiro às 16h, um show com roda de capoeira e samba de roda em homenagem a Mestra Mãe Ieda, capoeirista, benzedeira e ícone da cultura afro-brasileira de Belo Horizonte.

No dia 1º de fevereiro, às 14h30, Thiago Braz, em formato intimista de voz e violão, apresenta "Canto Ancestral – Som de Existência", com um repertório que homenageia a música negra brasileira e dialoga com a contemporaneidade. Em 2 de fevereiro, às 9h, o Cortejo Afoxé ÒGÚN DÉ transforma o Parque Municipal em um espaço de celebração, com ritmos, cantos e danças que emanam a força das tradições religiosas afro-brasileiras. Para fechar a programação, no dia 8 de fevereiro, às 11h, o show "Samba de Agô" une samba de terreiro, samba raiz e axé em uma vibrante celebração cultural.

Memorial Vale Itinerante

“Oriará – Arte e Educação em Movimento” integra uma etapa da renovação do Memorial Vale, que, enquanto realiza a revitalização de sua sede, continua com sua programação através do projeto Memorial Vale Itinerante. “Estamos levando a essência do Memorial para outros espaços, garantindo que o público continue a ter acesso às atividades culturais gratuitas e relevantes, enquanto são realizadas as intervenções de requalificação, como a criação de novas estruturas de acessibilidade e áreas para atender a multipúblicos, com o objetivo de valorizar ainda mais o prédio que abrigou a antiga Secretaria de Estado da Fazenda. Com exposições como esta, estamos cumprindo nosso papel de difundir conhecimento e promover experiências transformadoras”, afirma Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.

Além da mostra “Oriará”, o Memorial Vale Itinerante conta com outras iniciativas. Entre elas, o Quintal do Memorial que leva à Praça da Liberdade uma série de atividades culturais e educativas aos domingos.

Memorial Minas Gerais Vale

Um dos espaços culturais que integram o Instituto Cultural Vale, o Memorial Vale faz parte do complexo cultural Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. De 2010, ano de sua inauguração, até julho de 2024, o espaço recebeu mais de 1,5 milhão de pessoas. São mais de 3 mil eventos realizados, 106 exposições, quase 9 mil escolas e grupos atendidos e cerca de 240 mil pessoas recebidas em visitas mediadas.

Atualmente, o edifício-sede que abriga o espaço passa por obras de renovação para adotar uma nova estratégia de ocupação museográfica e infraestrutural. Criada a muitas mãos, a nova expografia permanente tem a curadoria de Isa Ferraz e Marcelo Macca e fará uma mistura inédita de obras de arte, objetos históricos e peças audiovisuais criadas especialmente para o Museu, propondo um diálogo entre o ontem, o hoje e o amanhã no qual o visitante é o protagonista.

SERVIÇO
ORIARÁ: ARTE E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO

Obras de Edgar Kanaykõ Xakriabá, Maria Lira, Aldeia Floresta Maxakali, Froiid, Marcel Dyogo, Dayane Tropicaos e Jorge dos Anjos, com curadoria e mediação do Programa Educativo do Memorial Minas Gerais Vale.
Abertura: Dia 15 de janeiro, quarta-feira.
Local: Parque Municipal Américo Renné Giannetti (Grande Gramado) - Av. Afonso Pena, 1377 - Centro, Belo Horizonte
Visitação: de 15 de janeiro até 08 de fevereiro de terça a domingo, das 9h às 17h.
Mais informações: www.memorialvale.com.br / @memorialvale

Entrada gratuita

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