“Tentando entender o amor”, por Roberto dos Santos

Por Roberto dos Santos Publicado em 20/06/2022, 13:43 - Atualizado em 20/06/2022, 13:43

Foto – Roberto dos Santos. Crédito – Arquivo pessoal.

A amizade de Anthony e Manuela se transformou em amor depois de um diálogo intenso na tentativa de explicar ou entender o amor. Uma conversa que surgiu do nada, inspirada pelas maravilhas encontradas numa agradável caminhada pelas ruas de Ouro Preto em Minas Gerais.

O que é o amor para você? Perguntou Manuela.

Anthony respondeu que era difícil definir em palavras, mas tentaria dar formas ao que pensava sobre o assunto.

Então disse:

─ O amor para mim não tem uma definição pronta e acabada, ele é mais para ser vivido do que falado.

Ela gostou da frase, mas quis saber o que verdadeiramente Anthony queria dizer.

Ela então fez outra pergunta:

Nós somos amigos de longa data, mas se fôssemos namorados o que você enalteceria em mim que por ventura tenha feito que se apaixonasse ou tem outra explicação para o amor?

Ele sorriu e disse:

─ Hoje você resolveu fazer perguntas difíceis hein!

Mas começou a responder a indagação de Manuela.

─ No amor existem coisas aparentes e coisas ocultas. Primeiramente você é uma mulher linda e já era motivo suficiente para se apaixonar.

Manuela o interrompeu dizendo que não era linda, que não tinha idade para essas coisas de beleza. Que o tempo havia passado e já não era como nos tempos da mocidade.

E seguiu dizendo que não concordava com essa parte.

Anthony então disse depois de ouvir suas palavras:

─ Isso é o que você pensa de si mesma, eu vou dizer o que eu estou pensado, e peço que ouça atentamente e entenda.

E prosseguiu:

─ A intensidade do amor não está ligada a ser jovem ou maduro, nem a questão da beleza em relação à idade.

As feições mudam com o tempo, existe oculto no semblante das pessoas traços que jamais se desfazem e quem se apaixona por esses traços quase imperceptíveis de tão suaves, na verdade se apaixonou pela essência, pelo que há de mais belo. É certo que a essência é algo central, dando uma ideia daquilo que vem de dentro, porém as minúcias desses traços são exposições da alma, o que significa o afloramento do âmago.

O tempo vai passar o rosto vai mudar, mudanças ocorrerão, isso é uma tendência natural. Mas o amor não se enquadra nessa dinâmica, por isso explica-lo torna-se quase que impossível. 

Você é uma pessoa assim Manuela.

Eu te conheci menina e para mim continua ainda hoje como era na mocidade.

A idade mostra o tempo vivido, e que bom que é assim. Isso é vida.

Manuela ficou atônita com essa explicação de Anthony, afinal isso mais parecia uma declaração de amor do que uma explicação sobre o amor.

E quis saber mais:

─ E tem mais alguma coisa sobre o amor que queria dizer para clarear ainda mais o que acabara de dizer?

Anthony balançou a cabeça sinalizando positivamente e prosseguiu:

─ Já que estou falando de você, gostaria de dizer outras coisas que te definem e que julgo ser algo especial no seu modo de vida.

Seus olhos parecem um lago, eu, por exemplo, quando mergulho neles preciso de alguns segundos para me refazer. Parece que é o tempo necessário para se chegar ao fundo onde estão os tesouros, na verdade esse fundo é seu coração. Dá para se chegar lá pelos seus olhos.

Você parece à natureza, em você tantas coisas se manifestam.

O vento nos seus cabelos parecem o bailar de um beija flor ou a dança das árvores.

Ao caminhar seu corpo parece o mar em calmaria, os delicados movimentos se harmonizam com tudo a sua volta. Sua voz se assemelha ao barulho das ondas na arrebentação.

Seu sorriso se assemelha a beleza da lua beijando o mar lá ao longe.

E você tem muito mais, mas creio que basta para entendermos essa questão levantada sobre o amor.

Depois de encerrar sua explanação acerca do amor tendo Manuela como exemplo, o silêncio pairou por alguns segundos.

Era difícil descrever as reações de Manuela depois de ouvir as considerações de Anthony a seu respeito.

Quanto ao moço, ficou um tanto quanto fora de si após proferir as palavras que sensibilizaram por completo a linda mulher.  Ergueu os olhos e viu Manuela com os olhos fixos nele.

Anthony ficou sem jeito e pensando que tivesse exagerado nas palavras. Pensou que sua sinceridade tivesse ofendido Manuela, afinal eram amigos há tanto tempo e aquele olhar não parecia nem um dos olhares que trocavam há décadas.

Ele baixou a cabeça por um instante para respirar fundo e buscar um lampejo de coragem para pedir desculpas a ela, mas de repente um braço envolveu seu pescoço fazendo-o erguer a cabeça rapidamente. Encontrou os lábios de Manuela a esperar o dele.

Sem palavras, apenas silêncio, um profundo silêncio, e os lábios se uniram num beijo recheado de sentimentos. Naquela hora foi como se entrassem numa máquina do tempo e de um segundo para outro os amigos se tornaram amantes. Os olhares, os abraços, os beijos, os carinhos, tinham o recheio do amor.

Manuela que pouco falou, continuava tentando entender o que acabara de acontecer, e emendou uma sequência de questionamentos a Anthony, o que demonstrava que o momento era novo, único:

─ Porque fizemos isso? Estamos convivendo há tanto tempo e nunca senti o que sinto agora. O que está acontecendo? Porque o que sinto agora me leva até você de forma diferente de antes?

Anthony disse a ela:

─ Acabamos de abrir uma porta que não dávamos importância a ela, o que encontramos dentro dela é o que agora nos envolve por inteiro.

Encontramos o amor que tentávamos entender, contudo ao encontra-lo continuamos sem entendê-lo por que o amor está na nossa face oculta.

O amor não tem idade, não tem forma, não tem receita, ama-se por que ama.

E quando os anos vividos for empecilho para se amar, nesse ambiente certamente não há e nunca haverá amor.

E assim Anthony e Manuela seguiram a vida juntos, agora de forma mais plena.

Os questionamentos de Manuela ficaram sem respostas concretas, afinal o que acabara de acontecer com eles mostrava que o amor acontece mesmo do nada, ou melhor, de um tudo encontrado no meio de um nada se assim podemos dizer.