A semana de quatro dias parece estar virando o sonho de muitos trabalhadores ao redor do mundo, e também o pesadelo de outros. A parcela que deseja que isso realmente aconteça acredita que o formato seria mais justo, afinal, iríamos trabalhar quatro dias e descansar três, algo mais equilibrado. A outra parte, em sua maioria composta por donos de empresas, crê que um dia a menos de trabalho pode ser prejudicial para os resultados. Quem está certo?
O fato é que, os donos de empresas não deixam de ter um ponto que devemos levar em consideração: a partir do momento que “perdemos” um dia de trabalho, inevitavelmente faremos menos tarefas durante a semana, pois não teremos tempo hábil para conseguir executar tantas atividades quanto antes. A questão então passa a ser, como não deixar com que isso gere um impacto negativo na produtividade?
Para que a semana de quatro dias possa ser aplicada de maneira funcional, é preciso entender como esse novo modelo vai funcionar, pois não adianta nada tirar um dia se o expediente dos outros será maior e mais longo. Na prática, é o que vai acontecer no início e, acho, por um longo período. É provável que isso acabe desestimulando os colaboradores com o passar do tempo, pois terão que trabalhar ainda mais horas e ficarão mais cansados, o que não é algo saudável.
A semana de quatro dias começou na Nova Zelândia, em 2019, e foi se expandindo para outros países de diferentes continentes, sob a gestão do movimento 4 Day Week Global, que é uma comunidade sem fins lucrativos. E tem dado certo em muitos desses lugares, porém, surgem alguns questionamentos: será que pode se tornar uma realidade aqui no Brasil? Funcionaria mesmo?
No início deste ano, 21 empresas brasileiras aceitaram participar de um projeto piloto da semana de quatro dias, que prega o modelo 100-80-100, ou seja, os profissionais recebem 100% do salário, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% de produtividade. Dados divulgados pela 4 Day Week Brazil em conjunto com a Reconnect Happiness at Work, a consultoria que lidera o projeto no Brasil, mostram que os resultados estão sendo positivos.
Entre os dados mais relevantes, estão as melhorias com relação à energia dos profissionais no trabalho (82,4%), execução de projetos (61,5%), criatividade e inovação (58,5%) e redução do estresse (62,7%). Com a proximidade do final de 2024 e esse projeto piloto chegando ao fim, as empresas participantes esperam que todo o investimento em novas contratações e tecnologia seja revertido em atração de talentos e mais produtividade.
Por essa razão, é fundamental que as companhias que adotarem esse formato, criem um planejamento estruturado com estratégias de produtividade, que visem o engajamento do time e o cumprimento de suas funções em um prazo que seja de acordo com a escala atual de trabalho. Além de também estarem preparadas para gastarem um pouco a mais do que estavam acostumadas anteriormente para fazer o modelo funcionar.
É claro que não será fácil mudar algo tão enraizado na cultura trabalhista do mundo inteiro e requer paciência durante o processo. Existem inúmeros desafios a serem superados para fazer a semana de quatro dias funcionar - seja no Brasil quanto em outros países -, porém, vale a pena a tentativa, principalmente se conseguirmos seguir trabalhando por resultados, sem perder a produtividade e o engajamento, e priorizando a nossa qualidade de vida.
Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs. Já movimentou com seus projetos mais de R$ 2 bi e é responsável, dentre outros, pelo case da Nextel, maior e mais rápida implementação da ferramenta nas Américas. Mais informações acesse: http://www.gestaopragmatica.com.br/
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