O projeto de lei que proíbe a utilização de celulares em escolas públicas e particulares foi sancionado e já está valendo para o ano letivo de 2025. Com isso, os aparelhos ficam fora da sala de aula, do recreio, intervalos e atividades extracurriculares, exceto quando utilizados pedagogicamente. A medida não agradou os estudantes e nem alguns responsáveis, mas para a psicóloga Luana Dantas, coordenadora do núcleo infantojuvenil da Holiste Psiquiatria, os novos limites são importantes para o desenvolvimento intelectual e emocional dos jovens.
“Quando o professor está dando aula e um estudante está mexendo no TikTok ou apostando no jogo do tigrinho, como já ouvimos em relatos, a função da escola é perdida. O espaço escolar procura educar, transmitir conhecimento, promover a sociabilidade, mas notamos que o uso de aparelhos individuais tira o foco, podem atrapalhar a tomada de decisão e a construção de uma responsabilidade em torno do próprio saber", explica a especialista em saúde mental infantojuvenil.
Não se trata de uma punição, mas um limite educativo
Para Luana Dantas, o termo proibição está ligado à uma ideia de punição, mas a medida é muito mais educativa do que proibicionista. “Nós usamos a palavra proibição, mas é interessante perceber que estamos colocando um limite no uso, não é um castigo. A rede social, os jogos, os grupos de mensagem vão continuar existindo e sendo utilizados, mas fora da escola. Os limites são importantes, eles ajudam a desenvolver ferramentas para lidar com a própria frustração", comenta.
Apesar de recente no Brasil, a limitação dos smartphones no ambiente escolar é uma realidade em outros países. De acordo com o Relatório Global e Monitoramento da Educação da Unesco, um a cada quatro países do mundo já proíbe o uso nas escolas. A França foi a pioneira em adotar a "medida de desintoxicação", como foi apelidada pelo governo do país em 2018, quando passou a valer, mas a proibição também acontece na Espanha, Grécia, Finlândia, Suíça e México.
O impacto na saúde mental
No que abrange a saúde mental de crianças e adolescentes, a psicóloga explica que a maturidade biológica cerebral só é concluída por volta dos 25 anos, isso significa que entre a educação infantil e o ensino médio os estudantes estão formando três fatores principais: a capacidade de tomada de decisão, a responsabilização pelo próprio conhecimento e o controle dos impulsos. Contudo, uma relação muito permissiva com o uso de dispositivos móveis desfavorece o desenvolvimento dessas habilidades.
Outro ponto levantado pela especialista é que a aparente conectividade na verdade atua para isolar os estudantes. “Esse isolamento é muito recorrente. Cada vez mais recebemos jovens, sobretudo pré-adolescentes entre 11 e 13 anos, que se isolam nos celulares mesmo dentro das escolas, não socializam. Em efeitos de saúde mental será muito interessante permitir que as crianças retornem para a escola sem a mediação do aparelho, sem olhar as redes sociais porque acham que a aula está chata, vamos ajudá-las a se concentrar no próprio desenvolvimento, inclusive acadêmico".
Quando a brincadeira vira compulsão
A psicóloga destaca que reações difíceis por parte dos estudantes são esperadas, reações de frustração. Nesse sentido, os professores devem estar preparados para guiar os jovens nesse momento. “A escola terá um grande desafio pela frente, não só no sentido de colocar limites, mas permitir com que os estudantes possam falar sobre a angústia que isso vai causar. Não existe receita de bolo, mas o diálogo é fundamental para construir estratégias para lidar com a ansiedade que a desconexão pode causar”.
Em casa, a intervenção dos pais também será necessária, sobretudo porque em alguns casos a relação com o celular já se tornou uma compulsão. Cabe aos responsáveis ficar de olho e se informarem sobre o problema sem minimizar a dificuldade dos filhos e nem a própria dificuldade em impor e sustentar limites. “Não existe um manual para criação dos filhos e caso sintam necessário, busquem apoio de profissionais de saúde mental", finaliza a coordenadora do núcleo infantojuvenil da Holiste Psiquiatria.
Quando o assunto é saúde mental, a informação é o primeiro passo para o tratamento. Para saber mais sobre os impactos do uso excessivo de celulares na saúde mental de crianças e adolescentes, acesse: https://holiste.com.br/
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