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Prova de moutain bike reúne 2000 ciclistas em Mariana-MG e ajuda a pensar o cicloativismo brasileiro

A 26ª edição do Iron Biker Brasil, considerada a maior prova de mountain bike da América Latina, chegou ao fim neste domingo (16).

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Por João Paulo Silva Publicado em 17/09/2018, 10:11 - Atualizado em 02/07/2019, 00:49
Todas as fotos são de autoria do repórter João Paulo Teluca Silva. Siga no Google News

Foto-Ciclistas se concentram na Praça Minas Gerais e aguardam a largada da prova
Crédito-João Paulo Teluca Silva

Elegantes, coloridas, sérias, modernas ou sutis. Aparentemente, frágeis. Faz-se necessário o demasiado número de adjetivos. Do contrário, seria impossível descrevê-las. E elas estavam por toda parte. Foram chegando de mansinho já na sexta-feira, 14 de setembro e, literalmente, tomando conta da primeira capital de Minas Gerais. Acompanhadas de seus (e suas) amantes, eram vistas pelas ladeiras, descansando nos meios-fios, nas portas dos estabelecimentos comerciais, espalhadas pelas praças. Um casamento perfeito entre a arte barroca e essas personagens que, para alguns, vai além de um mero meio de locomoção e passa a ser um estilo de vida: as bicicletas.

De acordo com os organizadores do evento, o Iron Biker é considerado a maior prova de moutain bike da América Latina. Este ano, em sua 26ª edição, o evento contou com a participação de nada menos que de 2000 ciclistas. Uma verdadeira multidão de apaixonados por bicicletas, do Brasil e de outros países. Da Praça Minas Gerais, Patrimônio Cultural do Estado de Minas, os ciclistas partiram rumo aos distritos de Mariana. Ao todo, quase duzentos quilômetros de belezas naturais divididos em dois percursos de encher os olhos, colocando à prova a resistência e o fôlego dos ciclistas.

Evento consagrado

Produtor de eventos consagrados do mundo das bikes, Gilberto Canaan, um dos organizadores do Iron, ressaltou a consolidação da prova ao longo dos anos. “Estamos falando de uma das maiores provas do planeta e a maior da América Latina. Estamos orgulhosos de poder receber atletas de todos os cantos do Brasil, estamos satisfeitos de termos conseguido o recorde de inscritos, e de, aos poucos, ir conquistando o sentimento de pertencimento dos moradores de Mariana em relação ao Iron Biker. Eles têm essa ligação forte com o esporte, com o ciclismo e com a prova. É motivo de orgulho para nós”, contou.

Canaan falou em nome de todos aqueles que deixaram suas cidades natais e embarcaram na Primaz de Minas a fim de disputar a prova que já nos idos 1993 se consolidou como uma prova de ferro, um verdadeiro desafio de resistência e velocidade. Porém o Iron Biker é mais do que uma prova de dois dias pelas montanhas das Gerais. O evento reflete uma tendência cada vez mais forte no país, o cicloativismo.

Cicloativismo

Em suma, o cicloativismo é o ativismo político voltado ao uso da bicicleta como meio de transporte nas cidades. Um dos principais argumentos daqueles que defendem o uso desse meio de transporte em detrimento dos veículos movidos a combustão interna, é o fato de a bicicleta ser um transporte limpo, que não gera poluentes, além de melhorar as condições do tráfico urbano e sobretudo a qualidade de vida de seus adeptos.

Doutor em ecologia, Paulo Moutinho estuda as causas do desmatamento na Amazônia e suas consequências para a biodiversidade, mudança climática e habitantes da região. Um dos veteranos do Iron Biker, Moutinho participa da prova desde 2000. Em setembro, o pesquisador da área ambiental realizou um pedal pela Amazônia. Foram mais de 1000 quilômetros percorridos em 20 dias.

“O bacana do evento é a responsabilidade ambiental. O que vimos hoje foi uma verdadeira aula do ecologicamente correto. Absolutamente nada de lixo espalhado pelas trilhas. De forma consciente, os ciclistas deram um show de conduta, carregando o próprio lixo para depois descartá-lo de forma correta”, afirmou o pesquisador.

Vá de Bike

A organização mundial da saúde (OMS) recomenda a prática de atividades físicas com regularidade. Ainda de acordo com a OMS, uma das maiores causas de afastamento no trabalho são provocadas principalmente por problemas na coluna e estresse. Com o passar dos anos, a tendência é o aumento da frota veicular tanto nas grandes quanto nas pequenas cidades.

O número de carros não para de crescer no país. O Brasil já contabiliza um automóvel para cada 4,4 habitantes. São 45,4 milhões de veículos do tipo. Há dez anos, a proporção era de 7,4 habitantes por carro. Os dados, divulgados em 2017, são do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) baseados nas estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por isso, ter mais bicicletas nas ruas é sinônimo de mais segurança, mais saúde e um meio ambiente mais sustentável. “As pessoas deveriam trocar o carro pela bicicleta. Eu por exemplo, vou de bike para o trabalho quase todos os dias. A ideia é não mudar o clima do planeta, melhorar a mobilidade urbana e ainda ganhar saúde”, sugere Moutinho.

Ciclismo: tendência em Mariana e Ouro Preto

Além de grandes eventos de moutain bike realizados em Mariana e Ouro Preto, é muito comum encontrar adeptos do esporte pela região das cidades históricas. Em Mariana, a paixão pela bike é tão grande que um grupo de ciclistas em seus treinos para competições e passeios tomaram a iniciativa de criar uma associação de ciclistas no município. A associação de ciclismo de Mariana tem o intuito de unir os atletas e fomentar a prática do desporto no município.

Para alguns que encaram a prática como um hobby, é difícil viver sem ele. É o caso da funcionária pública, Cida Peixoto, de 58 anos. “Há 30 anos eu era a única mulher de Cachoeira do Campo pedalando. O fato de ter filho pequeno na época nunca foi um empecilho. Eu o carregava comigo na cestinha para todo o lado. Ia para a faculdade e ao trabalho de bicicleta. Hoje eu não vivo sem a bike, ela faz parte da minha vida”, conta.

Como se vê, a bicicleta é uma dádiva não somente para aqueles que vivem locais extremamente urbanizados ou em cidades de grande porte. Competidora do Iron Biker, residente em Belo Horizonte, a engenheira Cláudia Guedes tem motivos de sobra para defender a prática. “A bicicleta desobstrui os espaços públicos, economiza nossas rendas, melhora a nossa saúde e além de tudo isso, ainda nos dá autonomia e agilidade”, defende.

Atividade elitista?

Comparadas a carros de luxo, bicicletas podem chegar a custar R$ 75mil. Nos espaços reservados aos expositores no Iron Biker, podia-se encontrar bicicletas variando de R$1500 a R$16 mil. O profissional de marketing, Éder Oliveira explicou que os mais caros são os modelos fabricados com fibra de carbono. “A tecnologia faz com que elas fiquem mais leves e tenham um ótimo desempenho”.

Dono de Specialized, uma das principais marcas de bike do mundo, o advogado carioca Sandro Gurgel afirmou que o prazer do ciclismo está na simplicidade. “Pedalar está ficando muito elitista, as pessoas não deveriam levar as coisas tão a sério. Lembra da sua primeira bicicleta na infância? Não precisávamos de muito para sermos felizes, não é mesmo? ”, indagou.

Mais do que estimular uma concorrência desenfreada e alimentar a fome humana de vencer sob todas as formas, eventos como o Iron Biker são verdadeiros espaços de sociabilidade. De acordo com informações da Polícia Militar (PM) não houve nenhuma ocorrência grave durante os três dias de evento. O Corpo de Bombeiros também não confirmou nenhum acidente de graves proporções.

O que se via eram pessoas confraternizando, compartilhando a paixão pelo esporte e falando das belezas da região. Nem a chuva que caiu forte na maior parte do evento parece ter tirado a empolgação dos ciclistas. O empresário Felipe Rodrigues Tiseu afirmou que o clima acabou ajudando no seu desempenho. “Não acho que a chuva tenha atrapalhado, ao contrário, ela só abençoou”, disse sorrindo, coberto de lama. A endorfina parece mesmo fazer um bem danado.

Todas as fotos são de autoria do repórter João Paulo Teluca Silva.

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