Enquanto influenciadores prometem lucros milionários (e irreais) com apostas online e jogos de azar como o do “tigrinho” e afins, adolescentes sentem-se tentados a unir interesses em jogos e esportes para tentar ganhar dinheiro fácil. Nessa brincadeira, muitos acabam se viciando – e gastando muito dinheiro.
Desde que os celulares foram proibidos nas escolas, professores vêm notando que alguns alunos sentem muita falta de poder acessar o aparelho durante as aulas. Mas não é para entrar nas redes sociais ou se comunicar com os amigos, mas sim para apostar dinheiro nas mais variadas plataformas de bets e jogos.
Danielle Admoni, psiquiatra da infância e adolescência da Unifesp, explica que as bets e apostas online ativam os mecanismos cerebrais envolvidos em comportamento de dependência. “Se entrar nessas práticas precocemente, o adolescente corre um risco muito maior de desenvolver um transtorno relacionado ao jogo”, diz.
A proibição do celular nas escolas pode ser um bom momento para os pais conversarem com os filhos e explicarem os riscos antes mesmo de eles começarem a usar esse tipo de jogo. Além de explicar aos adolescentes que eles têm um cérebro que ainda está em desenvolvimento e são mais suscetíveis a entrarem em um comportamento impulsivo e sentirem mais dificuldade em parar de jogar, os pais podem também usar o argumento de que esse tipo de aposta pode levar a gastos excessivos e até a um endividamento na tentativa de recuperar o prejuízo, o que pode prejudicar a estabilidade financeira do jovem no futuro.
Além disso, o vício pode levar a alterações no humor, a prejuízos na autoestima e isolamento social. E os pais também devem contar aos filhos que muitos desses sites são ilegais e podem ser usados para aplicar golpes como esquemas de pirâmide, roubo de dados ou simplesmente não pagar os prêmios.
A médica orienta que os pais fiquem sempre atentos ao que os filhos estão fazendo na internet. “Se perceber que a criança ou adolescente já está gastando dinheiro nos jogos de aposta ou exibindo sinais de dependência, como não se interessar por outras atividades ou apresentar queda no rendimento escolar, o ideal é procurar uma ajuda profissional de um profissional de saúde mental para lidar com o problema”, afirma Danielle Admoni.
Jogos online do tipo do “jogo do tigrinho” são como cassinos. O jogador aperta botões e tem que sortear imagens iguais, como em uma máquina caça-níquel. Em janeiro deste ano entrou em vigor uma portaria que estabelece regras para que esses jogos possam funcionar no Brasil, ou seja, estão passando por um processo de regularização.
Já as chamadas “bets” são plataformas de apostas esportivas em diversas modalidades. Também estão passando por um momento de regularização e, até agora, 76 empresas obtiveram aval do Ministério da Fazenda para atuar no país.
De acordo com as regras, todos esses jogos não são permitidos para menores de 18 anos. Mas uma pesquisa do Datafolha divulgada em janeiro de 2024 apontou que quase um terço dos jovens entre 16 e 24 anos já fez apostas online.
Em junho do ano passado, o Instituto Alana formalizou uma denúncia no Ministério Público contra a empresa META, proprietária do Facebook e Instagram, após identificar no Instagram por volta de 50 conteúdos com anúncios ilegais de casas de apostas ou voltados para crianças e adolescentes, ou protagonizados por influenciadores mirins.
Por tudo isso, a recente proibição do uso de celulares nas escolas pode ser uma oportunidade para afastar os adolescentes dos jogos online, pelo menos durante o período letivo, reduzindo a exposição a esse tipo de conteúdo e incentivando atividades mais saudáveis no ambiente escolar.
Deixar Um Comentário