Pesquisa inédita revela riqueza botânica e espécies ameaçadas na Serra do Frazão, Ouro Preto-MG
O estudo, conduzido pelo biólogo Vitor Araújo da Silva, resultou em mais de 330 novos registros de plantas para a Serra do Frazão, 19 para o município de Ouro Preto e dois para o estado de Minas Gerais.
Um extenso levantamento florístico realizado na Serra do Frazão, localizada no distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto (MG), entre 2022 e 2024, escancarou a relevância biológica até então subestimada da região.
A pesquisa, conduzida pelo biólogo Vitor Araújo da Silva como parte de sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sob orientação da professora Livia Echternacht, catalogou uma biodiversidade surpreendente e identificou espécies endêmicas e ameaçadas de extinção.

O estudo resultou em mais de 330 novos registros de plantas para a Serra do Frazão, 19 para o município de Ouro Preto e dois para o estado de Minas Gerais. “Esses novos registros para o município e para o estado, são, principalmente, de Orquídeas. Uma das famílias mais ricas da flora brasileira e do mundo. A diversidade dessa família no Frazão evidencia a região como um importante refúgio para essas espécies, que possivelmente já não ocorrem mais nos arredores de Ouro Preto”, explicou o biólogo.

Segundo o pesquisador, ao todo, foram catalogadas 410 espécies em uma área de Campo Rupestre com aproximadamente 290 hectares.
Ainda segundo o pesquisador, dessas, 51 são endêmicas de Minas Gerais, ou seja, só ocorrem no estado, e 11 delas são exclusivas do Quadrilátero Ferrífero. A pesquisa também ampliou a área de ocorrência de sete dessas espécies, incluindo aquelas endêmicas de Ouro Preto e da Serra do Caraça (Catas Altas).

“No geral, esses achados são bastantes surpreendentes, pois, embora Ouro Preto seja historicamente uma localidade bem amostrada, até pelos antigos naturalistas, eles mostram que ainda temos muito a descobrir, especialmente em áreas pouco exploradas, como era o caso da Serra do Frazão,” destaca o pesquisador.
Segundo Vitor, a singularidade das espécies encontradas na Serra do Frazão se manteve evidente mesmo em comparação com duas áreas próximas e protegidas: a Serra do Caraça e o Parque Estadual do Itacolomi. “Esse dado reforça a importância da Serra do Frazão como uma área única, com relevância tanto regional quanto nacional”.

Dois achados particularmente preocupantes foram a identificação de duas espécies microendêmicas da Serra do Frazão – Paepalanthus atrovaginatus, da família Eriocaulaceae, popularmente conhecidas como sempre-vivas, e Barbacenia beauverdii, da família Velloziaceae, que inclui as chamadas canela-de-ema. Ambas estão sendo avaliadas e poderão ser classificadas como ameaçadas de extinção. “Isso nos alerta para a urgência de proteger a Serra do Frazão, já que essa biodiversidade única corre o risco real de desaparecer”.
No total, 33 espécies encontradas na serra já figuram em alguma categoria de ameaça, e os pesquisadores alertam que esse número pode ser ainda maior, uma vez que mais da metade das espécies catalogadas ainda não passaram por avaliação.

A Serra do Frazão, apesar de sua comprovada riqueza biológica, atualmente não possui nenhuma forma de proteção legal dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).
Os dados levantados pela pesquisa de Vitor Araújo da Silva, que atualmente cursa doutorado em Botânica na Escola Nacional de Botânica Tropical (Jardim Botânico do Rio de Janeiro), serão fundamentais para embasar uma proposta de criação de uma unidade de conservação na região.

Por fim, o pesquisador enfatiza a necessidade de que a população de Ouro Preto, especialmente a de Antônio Pereira, tome conhecimento dessa riqueza natural para que sua preservação seja garantida. “A ausência de investigação sistemática prévia fez com que a importância biológica da Serra do Frazão fosse subestimada por anos, inclusive em coleções de herbários, o que a presente pesquisa buscou corrigir, expondo a urgência de sua proteção”, conclui.

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