Ouro Preto busca apoio para recriar em julho o Triunfo Eucarístico, a maior festa do Brasil Colonial

No mês de julho, na comemoração dos 312 anos de Ouro Preto, a histórica Cidade Patrimônio Mundial pretende reviver um de seus momentos culturais mais gloriosos, o Triunfo Eucarístico, a maior de todas as festas do Brasil Colonial. O Triunfo Eucarístico foi uma festa apoteótica promovida em 1733 para a inauguração da Matriz do Pilar, o majestoso templo construído em torno da Capela erguida nos primeiros anos do século XVIII.

O Triunfo Eucarístico marcou a transladação do Santíssimo Sacramento, que saiu da Capela do Rosário para a nova Matriz, considerada uma das Igrejas mais ricas de Minas Gerais, com pintura interior toda folheada a ouro. Na época, foi realizado um cortejo monumental e uma programação cultural e artística que envolveu centenas de pessoas.

As estratégias para produção da releitura do Triunfo Eucarístico foram determinadas em uma reunião realizada em fevereiro deste ano, na Casa Paroquial do Pilar, com a participação do pároco, Padre Adilson Luiz Umbelino Couto, do diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, Carlos José Aparecido de Oliveira (Cajú), do jornalista, produtor cultural Gilson Antunes, e do escritor e produtor Victor Stutz. Em seguida, foi celebrado um acordo entre a Prefeitura de Ouro Preto e a Paróquia do Pilar, garantindo anuência ao projeto que foi elaborado, formatado, apresentado e aprovado na Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

Gilson Fernandes, da Holofote Cultural, empresa proponente do projeto, conta que o evento, além de celebrar o aniversário de Ouro Preto e os 290 anos do Triunfo, pretende comemorar também 10 anos da elevação da igreja do Pilar ao status de ‘basílica menor’, título concedido pelo papa Bento XVI: “Esse foi um pedido do Padre Adilson, pois, segundo ele, o título foi um momento importante que deixou de ser comemorado em razão do isolamento imposto pelo período pandêmico”. O produtor destaca que o Triunfo Eucarístico 2023 vem para exaltar ainda o Bicentenário de elevação de Vila Rica à Imperial cidade de Ouro Preto, título concedido por Dom Pedro I em 1823. Gilson explica que Ouro Preto é reconhecida como um dos mais importantes destinos turísticos brasileiros, e tem sua reputação reforçada por uma rica programação de eventos culturais, históricos e religiosos que, ao longo do ano, atraem turistas de todos os cantos, garantindo renda para a população. Porém, estima-se que as restrições decorrentes da pandemia do coronavírus atingiram diretamente cerca de oito mil pessoas que atuam nesse setor em Ouro Preto: “Isso faz com que a realização desta releitura do Triunfo Eucarístico seja extremamente importante para movimentar os mais diversos setores da economia, especialmente, aqueles que integram o conjunto de equipamentos turísticos de Ouro Preto e região”, afirma o produtor.

Victor Stutz, que foi convidado para atuar na elaboração do projeto e na coordenação artística do evento, espera contar também, na concepção da programação, com o apoio dos técnicos e profissionais da Fundação de Arte de Ouro Preto, entidade que é vinculada ao Governo do Estado: “Tivemos um encontro com a diretoria da FAOP, e juntos, lembramos que é importantíssimo envolver os grupos, movimentos e criadores ouro-pretanos, e que isso precisa ser feito de uma forma que todos se sintam criadores, e não figurantes do espetáculo. Essa é a mesma natureza estratégica da proposta dos tapetes da Semana Santa, e é assim que queremos fazer”.

Desde o início do ano, percebe-se aos poucos que Ouro Preto vem retomando seu lugar no trade turístico nacional, e já é possível notar essa reação nos resultados dos eventos mais recentes promovidos na cidade, como o Carnaval e a Semana Santa. Agora, com o término oficial da emergência sanitária global de Covid-19, decretado neste mês de maio pela Organização Mundial da Saúde (OMS) da ONU, a realização do Triunfo Eucarístico 2023 lança uma opção inovadora no cardápio de atrações locais, por reunir em sua programação aspectos positivos das maiores festas ouro-pretanas, conjugando religiosidade, cultura, arte com alegria e tradição.

SOBRE O TRIUNFO EUCARÍSTICO

Todos os detalhes da grande festa de 1733 foram registrados por Simão Ferreira Machado, em seu libreto publicado em Lisboa, em 1734. O autor conta que as ruas, as sacadas e as janelas das casas foram enfeitadas, enquanto espetáculos e serenatas aconteciam por toda a Vila Rica. Um cortejo artístico foi armado com uma complexa trama coreográfica e desfilou pela cidade envolvendo grupos de dançarinos, músicos, personagens a cavalo, alegorias mitológicas e cartazes com poemas. O evento atraiu milhares de pessoas vindas de diferentes partes da Capitania.

Na releitura comemorativa, em julho de 2023, todos os acontecimentos realizados no período colonial serão recriados de forma adaptada, com o envolvimento direto do maior número possível de artistas locais.