Brumadinho: Nascituros vítimas da tragédia-crime da Vale recebem homenagem em espaço para brincar

Por JornalVozAtiva.com Publicado em 10/09/2024, 11:55 - Atualizado em 10/09/2024, 12:27

Foto — Reprodução. Crédito — AVABRUM.

"As estrelas que não brilharam na terra seguem brilhando eternamente em nossos corações." Com essa mensagem, a AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho) participou ontem, 09/09, da inauguração da Casa Lilian, um centro de apoio a vítimas de crimes em Belo Horizonte, idealizado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Dentre os espaços do local, destaca-se a Brinquedoteca Maria Elisa e Lorenzo, que homenageia os filhos não nascidos de duas vítimas da tragédia-crime da Vale em Brumadinho.

A iniciativa simboliza um avanço na luta dos familiares para que as 272 vidas perdidas sejam oficialmente reconhecidas e não reduzidas a 270, como consta nos autos de investigação.

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, resultou no maior desastre humanitário do Brasil. Desde então, as famílias das vítimas lutam incessantemente por justiça, memória, direitos dos familiares, prevenção de novos crimes e o encontro de Tiago Silva, Maria Bueno e Nathália Araújo, três vítimas ainda não localizadas. Entre essas batalhas, destaca-se o reconhecimento de todas as vítimas, incluindo os nascituros Maria Elisa Melo e Lorenzo Almeida Taliberti. Eles eram filhos de Eliane de Oliveira Melo, de 39 anos, e Fernanda Damian de Almeida, de 30 anos, ambas com 5 meses de gestação. Eliane era engenheira e trabalhava como projetista para uma empresa terceirizada da Vale, enquanto Fernanda morava na Austrália e foi a Brumadinho com a família para conhecer o Museu Inhotim.

"Para nós, é um momento muito especial que traz grande alento aos nossos corações.  Lorenzo e Maria Elisa, os dois nascituros da tragédia-crime da Vale, não são contabilizados porque não nasceram. Ter esse espaço que os reconhece é um marco na nossa luta por justiça para as 272 vítimas e nos conforta, sabendo que eles sempre serão lembrados", disse Josiane de Oliveira Melo irmã de Eliane Melo e tia de Maria Elisa.

Dr. Ricardo Moreira, médico legista que atuou no processo de identificação das vítimas e hoje é considerado um amigo próximo das famílias, fez um emocionante depoimento: "Tem gente que passa por este mundo para ser tronco, suportar o peso; e tem gente que é flor, vem para enfeitar e dar beleza e alegria a esse mundo tão sofrido. Embora mais efêmera que o tronco, a flor cumpriu a sua função."

A Brinquedoteca Maria Elisa e Lorenzo, localizada na Casa Lilian, foi idealizada como um espaço de acolhimento e memória, oferecendo um local para crianças brincarem e, ao mesmo tempo, carrega o peso de uma história que não pode ser esquecida. Cada brinquedo e detalhe remetem ao amor e cuidado que as famílias dessas crianças teriam oferecido se tivessem tido a chance. 

“A Brinquedoteca da Casa Lilian é uma homenagem a Brumadinho, às famílias e, especialmente, à luta pelo reconhecimento de duas joias que deveriam constar nos números oficiais: Maria Elisa e Lorenzo. Eles já tinham nomes, famílias e representavam muito amor. A história por trás da Brinquedoteca busca contar quem eram Maria Elisa e Lorenzo, e a grande perda que suas famílias sofreram ao serem privados do direito de nascer e serem reconhecidos como vítimas da tragédia. É uma oportunidade de dar voz a essas famílias e preservar a memória daqueles que amam", afirmou a coordenadora da Casa Lilian, promotora de Justiça Ana Tereza Giacomini.

No "Espaço de Memórias" do site do Ministério Público de Minas Gerais, é possível ler as histórias de Maria Elisa e Lorenzo, escritas pelas famílias como se fossem contadas pelos bebês, caso eles tivessem nascido. [Link para o Espaço de Memórias]

Sobre a Casa Lilian

A Casa Lilian, mantida pelo MPMG, é um centro de apoio integral a vítimas de crimes e atos infracionais. Criada para atender famílias e comunidades de todo o estado de Minas Gerais, ela se destaca por oferecer suporte às vítimas de crimes sexuais, homicídios, feminicídios, racismo, LGBTfobia e outros crimes de ódio. O espaço inaugurado hoje se une a essa missão, proporcionando um lugar de acolhimento e memória para todos que ali buscarem apoio.