Mulher trans é brutalmente agredida em Mariana e pede ajuda para encontrar casal que lhe ajudou

O intuito do vídeo, disse Inaiê, é encontrar o casal que auxiliou no primeiro momento para que possam testemunhar sobre o caso junto à polícia. Assista ao vídeo.

Home » Mulher trans é brutalmente agredida em Mariana e pede ajuda para encontrar casal que lhe ajudou
Por João Paulo Silva Publicado em 17/02/2025, 10:21 - Atualizado em 17/02/2025, 11:55
Foto – Inaiê gravou um vídeo pedindo ajuda para encontrar casal que lhe ajudou. Crédito — Reprodução / Instagram. Siga no Google News

“Eu nunca serei passável, porque eu sou travesti”. Foi com essa frase, expressando resistência e coragem, apesar de toda a brutalidade transfóbica sofrida, que Inaiê Vilhena gravou um vídeo buscando ajuda e denunciando o fato: na última madrugada do dia 14/2, ela estava numa festa na Rua Cônego Amando, bairro São José, Mariana (MG). O espaço fica a somente alguns metros de sua casa. Inaiê conta que saindo do local, decidiu ir caminhando sozinha, quando resolveu entrar em outro bar para pegar a última cerveja da noite.

“Quando eu pego a cerveja e me dirijo para a saída do bar, um homem de camisa vermelha começa a me xingar de "traveco" e "veado". Ao ouvir as ofensas, Inaiê pediu para que o homem a respeitasse e virou de costas. “Nesse momento, alguém puxou meu cabelo, eu caí no chão e comecei a ser espancada por mais ou menos cinco ou seis pessoas”.

Inaê conta que no momento em que estava sendo espancada, um casal a ajudou e a levou para o outro lado da rua. “Tentando me ajeitar e entender o que estava acontecendo, essas mesmas pessoas vieram novamente para me agredir, só que dessa vez eles estavam com o meu telefone”.

Após mais agressões, conta Inaiê, eles exigiram a senha do celular. Ela lhes passou uma senha aleatória e eles saíram de perto. “Ainda tentando me recompor para conseguir voltar para casa, eu ouço a voz da mulher, desse casal que me ajudou, dizendo para eu correr, pois eles [os agressores] estavam voltando”.

Inaiê até tentou correr, mas como estava de bota, acabou caindo e foi novamente alcançada. Desta vez, quatro dos homens e mais uma mulher a espancaram novamente, deixando suas pernas, rosto e braços todo machucados. Ela tem certeza de se tratar de um crime homofóbico, pois ao ser agredida, eles a xingavam o tempo todo de “traveco", "veado" e xingamentos desse tipo.

O intuito do vídeo, disse Inaiê, é encontrar o casal que a ajudou no primeiro momento para poderem testemunhar sobre o caso junto à polícia. O crime, segundo a Guarda Civil, foi identificado pelo sistema de monitoramento e eles atenderam o caso prontamente. Três suspeitos foram detidos, enquanto um permanece foragido.

Prefeitura de Mariana se posiciona

A Prefeitura de Mariana emitiu nota oficial repudiando o ocorrido e afirmou estar acompanhando o caso junto às autoridades competentes. Leia, abaixo, a íntegra da nota de repúdio:

“A Prefeitura de Mariana, por meio da Secretaria de Assistência Social e do Setor de Promoção à Diversidade, repudia com veemência o brutal ato de transfobia cometido contra Inaiê, mulher trans, residente do nosso município, na madrugada do dia 14. Inaiê foi covardemente espancada por quatro agressores. Um crime inaceitável. Informamos que a Guarda Civil de Mariana, por meio do sistema de monitoramento 24h, identificou a agressão e agiu de forma imediata. Três pessoas já foram presas e uma segue foragida. A Prefeitura se colocou e permanece à disposição para garantir que todos os responsáveis sejam identificados e severamente punidos. Mariana não tolera violência contra a população LGBTQIA+ e reafirma seu compromisso no combate à discriminação. Exigimos e buscaremos justiça, dando total suporte à vítima. A transfobia é crime e não será aceita em nosso município.”

A Prefeitura de Mariana informou também que segue em cooperação com os órgãos de segurança na apuração dos fatos. Além disso, afirmou que políticas públicas voltadas à inclusão e proteção da comunidade LGBTQIA+ estão sendo avaliadas e que o caso segue sob investigação.

Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Apesar da redução de 16% nas mortes em 2024, o Brasil lidera, pelo 16º ano consecutivo, os índices globais de assassinatos contra essa população. A maioria das vítimas são mulheres trans, jovens, negras e nordestinas, com crimes marcados por extrema violência. Os dados foram coletados por meio de dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Entre os elementos comuns compartilhados por essas vítimas é que os crimes ocorrem majoritariamente em locais públicos, como ruas desertas e à noite. Além disso, os casos acontecem em sua maioria com uso excessivo de violência e requintes de crueldade.

Outro ponto citado no dossiê, é a dificuldade para analisar esses casos, pois dificilmente as autoridades no momento de identificação das vítimas oficializam esse tipo de violência, como devidamente casos de pessoas transexuais ou travestis.

Crime no Brasil

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, que passaram a ser enquadradas pela Lei de Racismo. Na decisão, a Corte definiu como crime condutas que “envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém”. A pena pode ir de um a três anos de prisão, além de multa. E pode chegar a até cinco anos de reclusão se houver divulgação ampla do ato.

2 Comments

  1. Nick Silva 17/02/2025 em 21:46- Responder

    Na verdade nem é necessário a palavra do casal pois. A polícia viu as abrações pelo olho vivo, e tão dá para identificar os meliantes e ladroes, pois roubaram o celular dela tb

  2. Cláudia Martinha Barbosa 18/02/2025 em 15:01- Responder

    Nem sei o que dizer diante de tanta truculência e falta de respeito com o Ser Humano.
    Todos nós temos o direito de ser quem desejamos Ser e ser respeitados.
    Respeito.
    Esse fato não pode ficar impune.

Deixar Um Comentário