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Lagartixa em casa: Por que elas aparecem? Amigas ou inimigas do lar?

Especialista tira dúvidas sobre o réptil.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 08/05/2025, 10:48 - Atualizado em 08/05/2025, 10:48

Apesar de, por vezes, causarem sobressaltos com seus movimentos rápidos e silenciosos pelas paredes, as lagartixas são visitantes comuns e, na verdade, aliadas importantes nos lares brasileiros. Contrariando o susto inicial, a presença desses pequenos répteis é um bom sinal, atuando como controle natural de pragas urbanas.

Segundo Miguel Trefaut Rodrigues, renomado professor e herpetólogo da Universidade de São Paulo (USP), a espécie mais frequentemente encontrada dentro de casa é a Hemidactylus mabouia, carinhosamente apelidada de lagartixa-de-parede. Originária da África, essa pequena criatura, com cerca de 7 centímetros de comprimento, provavelmente chegou ao Brasil a bordo de navios negreiros, disseminando-se por todo o território nacional.

Embora a lagartixa-de-parede seja a mais comum, outras espécies maiores também habitam o Brasil, como as pertencentes ao gênero Phyllopezus, típicas do Nordeste, e a Thecadactylus rapicauda, encontrada na Amazônia, que pode alcançar até 12 centímetros. O professor Trefaut Rodrigues ressalta a diversidade da fauna brasileira de lagartixas: “Existem no Brasil cerca de 35 espécies. Diferentemente das lagartixas domésticas, que escalam paredes graças às lamelas adesivas em seus dedos, outras possuem dedos simples e vivem no solo de matas ou em troncos de árvores. A grande maioria não habita ambientes modificados pela ação humana.”

Em Busca de Abrigo e Alimento:

Mas por que esses pequenos répteis buscam refúgio dentro de nossas casas? As lagartixas, de hábitos geralmente noturnos, são atraídas para o interior das residências em busca de alimento abundante, proteção contra predadores e uma temperatura mais estável, já que são animais que dependem do ambiente externo para regular sua temperatura corporal. Durante o dia, preferem esconder-se em locais escuros, emergindo à noite para caçar. A proximidade de fontes de luz é um atrativo extra, pois estas atraem diversos insetos, transformando o ambiente em um verdadeiro banquete para as lagartixas.

Aliadas na Guerra Contra Insetos:

Apesar da possível sensação de incômodo, a presença das lagartixas em casa traz benefícios significativos. Elas atuam como controladoras biológicas eficientes, reduzindo a população de insetos indesejados, incluindo aqueles que podem transmitir doenças, como o mosquito Aedes aegypti. “As lagartixas são animais inofensivos, adaptados à vida antrópica”, tranquiliza o pesquisador. Elas não representam perigo para a saúde humana, pois não são venenosas, não mordem e não causam doenças diretamente. Sua dieta é composta principalmente por mosquitos, baratas, pequenas mariposas, aranhas, escorpiões e traças, insetos frequentemente encontrados em ambientes domésticos.

Desmistificando a “Doença da Lagartixa”:

É importante esclarecer que a popularmente conhecida “doença da lagartixa” refere-se à platinosomose felina, uma parasitose que afeta gatos e é transmitida pela ingestão de lagartixas ou outros répteis infectados. Os sintomas em felinos incluem icterícia, vômito, perda de apetite e de peso, não representando um risco direto para a saúde humana.

Remoção Consciente:

Caso a presença das lagartixas continue a gerar desconforto, a solução não envolve machucá-las. “O ideal é capturá-las com cuidado e soltá-las em outro local”, orienta o herpetólogo, lembrando que as lagartixas possuem pele frágil e a capacidade de realizar autotomia caudal, ou seja, soltar a cauda como mecanismo de defesa.

O Mistério da Cauda Perdida:

A curiosidade sobre a cauda que se desprende é explicada por Trefaut Rodrigues como uma estratégia de sobrevivência: “A autotomia é uma adaptação para evitar a predação. O predador fica com a cauda, que continua se movimentando e desviando a atenção, enquanto o lagarto escapa. Uma nova cauda se regenera posteriormente.”

Longe de Serem Venenosas:

O mito de que lagartixas seriam venenosas é antigo e totalmente infundado. “Essa crença pode ter origem no termo 'osgas', nome popular das lagartixas em Portugal e em algumas regiões do Nordeste do Brasil. A ausência de pálpebras em algumas espécies, semelhante à das cobras, pode ter contribuído para essa confusão”, explica o pesquisador, desmistificando também outras crendices populares, como a de que lagartixa causa coceira ou que só larga a mordida durante uma trovoada.

Portanto, da próxima vez que avistar uma lagartixa em sua casa, lembre-se de que, apesar da surpresa, essa pequena visitante é uma aliada natural no controle de pragas, contribuindo para um ambiente mais saudável e livre de insetos indesejados.

Com informações do Estadão

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