Iracema Tavares Dias: Pioneirismo feminino e marco histórico no Ministério Público da América Latina

Em 1935, época com participação limitada de mulheres no espaço jurídico e no serviço público, mineira Iracema Tavares Dias Nardi marcou a história.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 06/05/2025, 09:54 - Atualizado em 06/05/2025, 09:54
Há 90 anos, jovem mineira foi a primeira mulher nomeada como promotora de Justiça do MPMG e de toda a América Latina. Foto — Reprodução / MPMG. Siga no Google News

Há nove décadas, precisamente em 5 de maio de 1935, uma jovem mineira de apenas 23 anos, Iracema Tavares Dias, escreveu seu nome na história ao ingressar no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Sua nomeação para a comarca de Guaranésia, efetuada pelo então presidente do estado, Benedito Valadares, não apenas a consagrou como a primeira promotora de Justiça do MPMG, mas também como a pioneira na América Latina.

Para o atual procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, a investidura de Iracema transcende o pioneirismo feminino na instituição, representando um feito inédito em solo latino-americano. Ele ressalta que Iracema iniciou sua trajetória profissional em um período onde o acesso de mulheres ao serviço público e à esfera jurídica era significativamente restrito.

A importância do acontecimento ecoou na imprensa da época, estampando a capa do jornal Estado de Minas com a manchete: “Mais uma victoria do feminismo. Uma senhorinha nomeada promotora de Justiça da Comarca de Guaranésia. [...] pela primeira vez no Estado, nomeada uma mulher para o cargo de promotor de Justiça. A nova representante do Ministério Público é a bacharela Iracema Tavares Dias”.

Uma Trajetória Marcante

Nascida em 1912 em Guaranésia, cidade fundada por seu avô, o coronel e senador Júlio Tavares, Iracema era proveniente de uma família tradicional de proprietários de terras. Após concluir seus estudos primários na cidade natal e o ensino secundário em um internato em Muzambinho, aos 17 anos mudou-se para São Paulo, incentivada por um tio advogado. Na capital paulista, ingressou na renomada Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde compartilhou os estudos com a também mineira Amélia Duarte, que posteriormente seguiu carreira no Ministério Público do Rio de Janeiro.

Em 1937, Iracema uniu-se a Mário Nardi, de família italiana imigrante. O casal teve três filhos, sendo o primogênito, Antônio, também promotor de Justiça, trilhando os passos da mãe. Viúva em 1951, Iracema transferiu-se para Belo Horizonte, sendo promovida à terceira entrância. Em 1956, tornou-se a primeira curadora de crianças e adolescentes de Minas Gerais, função que exerceu com dedicação até sua aposentadoria em 1967, após 32 anos de serviço.

Em reconhecimento à sua valiosa contribuição à sociedade, Iracema foi agraciada em 2008 com a Comenda do Ministério Público de Minas Gerais Francisco José Lins do Rego Santos. Apesar dos desafios iniciais, Iracema recordava ter sido sempre respeitada no exercício de suas funções. Ela faleceu em 22 de abril de 2010, deixando um legado de pioneirismo, nove netos e oito bisnetos.

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