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‘Índices de alcoolismo vêm crescendo entre mulheres’, leia entrevista com a psicóloga Ana Café

Ana Café é psicóloga clínica especializada na Prevenção e Tratamento da Dependência Química e em Saúde Mental da Infância e Adolescência.

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Por João Paulo Silva Publicado em 19/03/2019, 14:02 - Atualizado em 03/07/2019, 22:14

Imagem Ilustrativa
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Historicamente as mulheres exibem índices mais baixos de alcoolismo que os homens, mas isso está mudando rapidamente. O alcoolismo, ou dependência do álcool, é um problema crescente para as mulheres. No Brasil, de acordo com duas pesquisas recentes sobre Álcool e Drogas, realizados pelo INPAD (Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas), 39% das mulheres ingerem bebida alcoólica frequentemente. Ainda de acordo com o estudo, o padrão de consumo em “binge”, caracterizado por uma grande ingestão de álcool em um intervalo mínimo de duas horas, semanalmente ou mais, aumentou 36% entre as mulheres mais jovens.

Em geral, como explica a psicóloga Ana Café, idealizadora e diretora do Núcleo Integrado e uma das diretoras da Clínica Espaço Village em Guapimirim, no Rio de Janeiro, as mulheres são mais propensas ao alcoolismo em comparação aos homens, devido a sua composição corporal. “Como as mulheres tendem a pesar menos que os homens e o álcool permanece na água do corpo, uma mulher comum pode consumir a mesma quantidade de álcool que um homem comum, mas sofrer um impacto maior”.

Como resultado, o público consumidor do sexo feminino tende a experimentar efeitos adversos e desenvolver adicção relacionada ao álcool mais rapidamente do que o público do sexo masculino. Além disso, a mudança dos costumes sociais está tornando mais aceitável e, em muitos casos, encorajando mulheres de todas as idades a beber. “A combinação de mais mulheres bebendo com cada vez mais consumidoras sendo afetadas pelo álcool tem criado uma epidemia de saúde preocupante entre as mulheres”.

Mulheres e o “binge drinking”

“Binge drinking”, explica a psicóloga Ana Café, é o consumo de uma grande quantidade de álcool em um curto período de tempo. Para as mulheres, o consumo excessivo de álcool é definido como quatro ou mais doses em menos de duas horas.

“Bebo quase todos os dias. É muito comum nos reunirmos com a galera da faculdade depois das aulas no jardim de Mariana e sempre rola um ou dois litrões de cerveja. Frequentemente também vamos às festas em repúblicas, conhecidas como rocks. Mas sinceramente, não acho que tenho problemas com bebida. Eu bebo quando quero, mas já levei algumas broncas da minha mãe porque constantemente eu publicava fotos minhas com bebidas nas redes sociais”.

O relato acima é de uma estudante da Universidade Federal de Ouro Preto em um dos institutos situados na cidade vizinha, Mariana. Embora a garota de 21 anos tenha pedido para não ser identificada, o seu depoimento reflete a ‘cultura de beber’ nas duas cidades, seja em bares, praças públicas ou repúblicas.

Ana Café conta que o “binge drinking” é uma epidemia em bares e universidades e é um problema cada vez maior para as mulheres. Alguns dos maiores riscos do “binge drinking” para mulheres são: maior risco de abuso do álcool e alcoolismo; desidratação; más decisões; suscetibilidade à agressão sexual e violência doméstica; comportamentos imprudentes e arriscados; danos hepáticos; náuseas; questões legais como beber e dirigir; más decisões financeiras; embriaguez; coma alcoólico e morte.

“Muitas mulheres que praticam o “binge drinking” não são alcoolistas, mas são consideravelmente mais propensas a se tornar, especialmente se o beber exagerado for mantido por um longo e contínuo período de tempo”.

A Equipe de Redação do Jornal Voz Ativa entrou em contato com Ana Café e a entrevistou sobre os perigos do álcool ao público feminino.

Ana Café é Psicóloga Clínica Especializada na Prevenção e Tratamento da Dependência Química, Especializada em Saúde Mental da Infância e Adolescência. Capacitada pela SENAD, SEPDQ, Ministério da Defesa – Exército Brasileiro, Universidade Havana Cuba na Reabilitação do Paciente Crônico ‘a Sociedade.

Conselheira Municipal do COMAD Rio de Janeiro e Membro da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas. Pioneira numa Metodologia Clínica que atenda a Dependência Química e a Doença Emocional na precocidade de seu adoecimento, implantou o Núcleo Integrado como método de ação para atuar com uma equipe integrada em prol da prevenção primária, secundária e terciária.

Jornal Voz Ativa Álcool e mulheres: uma combinação devastadora? 

Ana Café – Sim, mulheres são bem mais vulneráveis do que os homens aos efeitos físicos e emocionais do álcool. O homem possui um índice metabólico maior do que o da mulher e em função disso geralmente o tempo para atingir o estado de embriaguez na mulher é bem menor que nos homens, fora as questões hormonais e emocionais que acabam predispondo a mulher a um desenvolvimento mais rápido de um quadro de alcoolismo. Num homem a doença em geral leva 10 anos de uso para se manifestar, já na mulher são necessários apenas 5 anos de uso abusivo.

Jornal Voz Ativa – “Mulher bebendo é feio? Feio é você quando estou sóbria!” – Esta frase de efeito está na boca da mulherada. É um mecanismo de defesa?

Ana Café – Acho que é uma forma de se defender, sim, de proteger seu direito, que é o mesmo dos homens. Homem bêbado também não é nada bonito nem adequado. Cada um na sua, mas com a consciência de que pior do que a exposição social é a ruína física e emocional que a doença leva. Não é uma doença de gênero, todos podemos desenvolver alcoolismo, o que muda é o tempo e a forma como a doença se manifesta nas mulheres.

Jornal Voz Ativa – Bebida alcoólica corta o efeito da pílula anticoncepcional?

Ana Café – Não tem nenhuma interferência, o que corta o efeito é que as meninas bebem e esquecem de tomar o comprimido. O problema com o uso do anticoncepcional e a bebida é que ambos são metabolizamos pelo fígado, causando assim uma sobrecarga para o mesmo.

Jornal Voz Ativa – Por que a maioria das mulheres prefere bebidas doces?

Ana Café – Acredito que o paladar das mulheres é mais adepto ao doce do que os homens. Geralmente mulheres que não gostam tanto da bebida e sim do efeito acabam aderindo mais as bebidas mais adocicadas, da mesma maneira que os adolescentes. As bebidas doces são uma estratégia da indústria de bebidas para atingir este público. E o pior é que funciona!

Jornal Voz Ativa – Álcool melhora o desempenho sexual e aumenta a libido: verdade ou mito?

Ana Café – Mito. O efeito do álcool reduz a censura, deixando as pessoas mais desinibidas, parecendo estarem mais dispostas e sexualizadas, mas o efeito é transitório. Esta crença baseada num efeito “fake” acaba sendo um verdadeiro problema porquê muitas mulheres quando deixam o álcool têm dificuldade em manter uma vida sexual normal, mas uma boa terapia resolve.

Conhecida por suas palestras interativas e vivências nas quais vem sensibilizando colégios e empresas para as questões pertinentes ao pleno desenvolvimento da criança, do adolescente, a estrutura de família e a prevenção em sua amplitude. Ana Café também é Fundadora e idealizadora do Núcleo Integrado.

Na foto: Ana Café no Congresso de 40 anos da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD).

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