20 de fevereiro é celebrado o Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo, agenda importante para refletirmos e colocarmos em pauta caminhos de prevenção e tratamento. Segundo dados das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), cerca de 35 milhões de pessoas de todo o mundo sofrem transtornos resultantes do uso de drogas.
Nos últimos anos, a compreensão sobre a dependência química tem evoluído, e com ela, a busca por tratamentos cada vez mais eficazes e humanizados. Nesse contexto, a Educação Física surge como uma ferramenta essencial atuando de forma complementar aos tratamentos tradicionais e ajudando a promover a recuperação de maneira mais eficaz.
A relação entre o corpo e a mente nunca foi tão evidente quanto agora. Estudos recentes comprovam que a prática regular de atividades físicas tem um impacto direto na saúde mental, contribuindo para a redução dos sintomas de ansiedade, depressão e, principalmente, no controle do estresse, condições que muitas vezes estão associadas à dependência de substâncias.
Um estudo publicado no Journal of Affective Disorders, realizado por pesquisadores do Instituto Israelita Ensino & Pesquisa de São Paulo, do Hospital Israelita Albert Einstein, e da Universidade Nove de Julho, apontou que manter uma rotina de atividade física, mesmo em nível leve, pode ser benéfico para a saúde mental e para combater sintomas de depressão. Além disso, a liberação de endorfinas durante a atividade física ajuda a gerar sensação de bem-estar, substituindo parcialmente os efeitos temporários do uso de substâncias.
Durante longos anos de atuação na área com a utilização de métodos multidisciplinares, seja em hospital psiquiátrico ou Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) de São Paulo, pude observar o impacto transformador da Educação Física nos pacientes que lutam contra a dependência química. A inclusão de esportes e atividades físicas nos programas de tratamento oferece aos pacientes uma alternativa saudável para lidar com os desafios emocionais e psicológicos. O exercício promove a melhoria do humor, aumenta a autoestima e ajuda na reintegração social, ao mesmo tempo em que contribui para o controle dos impulsos e a prevenção da recaída.
Estudos também indicam que, além dos benefícios psicológicos, a prática inserida no tratamento de dependência química melhora a qualidade do sono, um dos aspectos frequentemente comprometidos em pessoas com transtornos relacionados ao uso de substâncias.
Outro aspecto importante é a criação de um ambiente socializador e de pertencimento. Muitas vezes, a dependência química isola o indivíduo, afastando-o de suas relações interpessoais e aumentando o estigma em torno de sua condição. A Educação Física, ao promover atividades em grupo, estimula a interação social, criando um espaço de empatia e apoio mútuo. Isso tem um efeito poderoso no processo de recuperação, pois a pessoa se sente acolhida e parte de um grupo que compreende seus desafios.
Entretanto, é crucial ressaltar que a Educação Física não é uma solução isolada. Ela deve ser parte de uma abordagem multidisciplinar no tratamento da dependência química, que envolva psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e outros profissionais da saúde. A integração de diferentes áreas do conhecimento e a personalização dos tratamentos são essenciais para que o paciente tenha as melhores chances de recuperação.
A chave para o sucesso está no cuidado integral do indivíduo, que passa a compreender que a recuperação não está apenas na ausência de substâncias, mas no fortalecimento do corpo e da mente. E é nesse processo que a Educação Física exerce um papel fundamental e indispensável.
*Fernanda Martins é profissional de Educação Física especialista em saúde pública com foco em dependência química - CREF 081503-G/SP
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