Garimpeiros protestam contra a interrupção das atividades após intervenções da Vale
Trabalhadores artesanais do Distrito de Antônio Pereira alegam que estão sendo impedidos de trabalhar pela mineradora em decorrência do descomissionamento da Barragem de Doutor. Vale se posiciona por meio de nota emitida ao Jornal Voz Ativa.
A extração manual de minerais é uma atividade comum e centenária em Ouro Preto. O distrito de Antônio Pereira é berço desta atividade. Além da mineradora Vale, o lugar convive também com a exploração artesanal de minerais por moradores que herdaram o ofício dos seus antepassados. No entanto, após o início do descomissionamento da Barragem de Doutor, da Vale, os garimpeiros denunciam que estão sendo impedidos de trabalhar em partes do Córrego da Água Suja e do Rio Gualaxo do Norte.
Com faixas, bandeiras e palavras de luta, dezenas de garimpeiros de Antônio Pereira foram às ruas do centro histórico de Ouro Preto na tarde desta terça-feira (3), para reivindicar ao poder público do município o apoio na inclusão dos trabalhadores no grupo de atingidos da mineradora Vale, e no reconhecimento do garimpo como atividade cultural de Antônio Pereira.
A manifestação também reivindicou o fim da transferência da administração dos serviços de água e esgoto da cidade para a Saneouro, um consórcio de empresas privadas. Antes a distribuição e gestão da água era feita pela autarquia Serviço Municipal de Água e Esgoto de Ouro Preto (Semae-OP). A empresa é alvo de uma CPI na Câmara Municipal de Ouro Preto que investiga o processo de licitação da transferência da gestão hídrica. Todos os serviços que estão sendo administrados pela empresa estão sendo investigados, inclusive a cobrança da água.
Os garimpeiros alegam que a Vale nunca dialogou com a comunidade e que a empresa, por meio de alguns funcionários, denunciam a atividade para a Polícia Militar Ambiental que impede a extração e apreende as ferramentas de trabalho.
Os trabalhadores se organizaram, criaram uma associação com aproximadamente 160 trabalhadores e entraram com uma ação no Ministério Público solicitando a continuidade do garimpo no local. Eles elaboraram uma petição pelo retorno das atividades do garimpo artesanal, e entregaram aos vereadores de Ouro Preto durante a 53ª Reunião Ordinária da Câmara, que ocorreu na noite desta terça-feira (3).
A garimpeira Ivone Pereira é moradora de Antônio Pereira e diz que é perseguida por realizar o trabalho que garante o sustendo de sua família.
“A Vale não deixa a gente garimpar mais. Ela manda a polícia para prender nossas ferramentas. Temos que sair correndo. A Vale está trazendo transtorno para os garimpeiros. Eu sou nascida e criada em Antônio Pereira. Minha mãe me criou trabalhando no garimpo, eu criei meus filhos trabalhando no garimpo […] Nós estamos aqui hoje porque nós queremos que a Vale […] devolve nosso direito de garimpar”, afirmou.
Cleiton Gonçalves é garimpeiro em Antônio Pereira e destaca o impacto na sua renda após a interrupção das atividades nas lavras.
“Nós, ouro-pretano, estamos sendo atingidos por pressões da Vale. Nós somos garimpeiros e estamos sendo prejudicados por não podermos cultivar a cultura do lugar. O garimpo é uma cultura antiga. […] Nós não podemos mais usufruir das terras que são nossas. […] O garimpo é a nossa fonte de renda. Quando as empresas que não são fixas e mandam a gente embora, a gente recorre ao garimpo. Então estamos aqui para reivindicar esse direito”, destaca Cleiton.
O SINASEFE IFMG está acompanhando e prestando apoio ao povo de Antônio Pereira, que enfrenta transtornos provenientes das operações na Mina Timbopeba e na barragem do Doutor, da Vale, que se encontra no nível 2 de emergência. O Sindicato colaborou com a logística do ato desta terça-feira e foi representado pelo diretor Daniel Neri.
Nota da Vale
A equipe de redação do Jornal Voz Ativa entrou em contato com a Vale nesta quarta-feira (04/08). Por meio de nota, a mineradora disse que "em razão da descaracterização da barragem Doutor e considerando os riscos relacionados, o acesso à Zona de Autossalvamento (ZAS) foi restrito até que o processo de descaracterização seja finalizado".
A Vale disse também que "concede auxílio mensal, a partir de decisão judicial em Ação Civil Pública, para as famílias evacuadas e pessoas que possuem terrenos na ZAS. As famílias evacuadas estão, ainda, alocadas em moradias escolhidas por elas próprias, sendo concedida cesta básica, bem como custeio pela empresa das despesas de IPTU, água e luz e gás".
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