Funcionários da Vale prestam depoimento na CPI da Barragem de Brumadinho

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Por João Paulo Silva Publicado em 21/05/2019, 20:09 - Atualizado em 04/07/2019, 23:24
Foto-Comissão Parlamentar de Inquérito da Barragem de Brumadinho ouve, funcionários da Vale S.A, sobre o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro de 2019. Crédito- Luiz Santana/ALMG. Siga no Google News

Funcionários da Gerência de Geotecnia da Vale, setor responsável pelo monitoramento das estruturas das minas, prestaram depoimento na CPI da Barragem de Brumadinho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na manhã desta quinta-feira (16/5/19). Todos trabalhavam na Mina Córrego do Feijão, que se rompeu em janeiro deste ano.

De forma geral, eles disseram que não foram identificados sinais claros da instabilidade da barragem nos meses anteriores e que não se sentiam inseguros trabalhando no local.

Alguns dos deputados consideraram as respostas dadas por eles evasivas. Os membros da CPI questionaram os três funcionários separadamente. As perguntas trataram especialmente de questões técnicas a respeito, especialmente, de medições e padrões de segurança utilizados e foram pautadas por declarações de convidados anteriores da comissão que apontaram para irregularidades em laudos.

Os funcionários ouvidos nesta quinta-feira, porém, disseram não ser responsáveis por atestar a estabilidade das estruturas, mas sim monitorá-las e realizar interferências recomendadas por outros setores.

Assim, Cristina Heloísa da Silva Medeiros, por exemplo, afirmou que os repasses feitos em relação à segurança eram de que todos os padrões legais nesse sentido eram cumpridos.“Não cabia a mim discordar dos laudos, a gerência de gestão de riscos que acompanhava isso”, disse.

O deputado André Quintão (PT) disse que há um “jogo de empurra” entre os funcionários dos diversos setores da Vale, de forma que nenhum deles se responsabiliza pelo rompimento da barragem. A deputada Beatriz Cerqueira (PT) chamou a estratégia de “blindagem pós-crise” da empresa.

Convidados afirmam que não souberam de sinais de instabilidade na barragem

O deputado André Quintão perguntou aos convidados sobre o fator de segurança, que teria que ser maior do que 1,3 segundo padrões consagrados, de acordo com convidada de reunião anterior.

Cristina Medeiros explicou que a medição diz respeito à condição não-drenada das barragens e que a legislação nacional estabelece como valor mínimo 1 – portanto, a medição de 1,09 encontrada em uma das seções da barragem estaria em conformidade com as normas. Outro funcionário da Vale, Artur Bastos Ribeiro, também confirmou que o padrão estabelecido pela lei é de 1 para o fator de segurança.

Os dois funcionários trabalhavam na área administrativa da Vale que foi coberta pela lama. Eles se emocionaram ao falar do acidente e dos colegas mortos.

Cristina Medeiros estava de folga no dia do rompimento e Artur Ribeiro estava no refeitório e conseguiu fugir, primeiro a pé e depois de carona em uma caminhonete que passou por ele e outros que tentavam escapar. Eles salientaram a todo o momento que não se sentiam inseguros trabalhando no local porque os laudos emitidos por consultores e auditores garantiam a estabilidade da barragem.

Perguntado sobre medições de piezômetros, que teriam indicado anormalidades em medições de colunas d’água dias antes do rompimento da barragem, o engenheiro Artur Ribeiro afirmou que ficou claro, na planilha recebida por ele no dia 23 de janeiro, que houve erro na anotação dos dados e não necessariamente alteração das variáveis que estavam sendo medidas.

automatização dos medidores, que estava em fase de implantação, estaria na origem dos erros, de acordo com ele. O engenheiro explicou que as medidas que constavam na planilha não eram fisicamente possíveis e, por isso, foram considerados como equívocos na anotação dos resultados.

utro ponto abordado pelos parlamentares foram indicações que drenos estariam entupidos e que havia liquefação na barragem, situações que teriam sido identificadas ao longo de 2018.

O gerente da área de geotecnia, Renzo Albieri Guimarães Carvalho, afirmou que foram problemas pontuais que acabaram resolvidos com intervenções na estrutura. Após tais intervenções, houve a constatação de que as questões tinham sido superadas e por essa razão não houve comunicação à Agência Nacional de Mineração e outros órgãos sobre os problemas.

O deputado Sargento Rodrigues (PTB) classificou como “evasivas” as respostas dos funcionários ouvidos. De forma geral, os parlamentares salientaram que, de acordo com técnicos que já estiveram na CPI, seria impossível um rompimento de barragem sem que fosse possível observar sinais disso com antecedência.

Os convidados reafirmaram, porém, que não tiveram conhecimento de sinais de instabilidade. O deputado Noraldino Junior (PSC) disse que considera os funcionários ouvidos responsáveis pela tragédia, uma vez que ações deles poderiam ter evitado o rompimento da barragem.

Vítimas – Assitiram à reunião parentes de pessoas que ainda estão sob a lama oriunda do rompimento da barragem de Brumadinho. A deputada Beatriz Cerqueira (PT) prestou solidariedade aos presentes, que estenderam fotos dos desaparecidos e uma faixa com os nomes de todos eles. “Eles não precisam ser encontrados, todos nós sabemos onde eles estão. Eles precisam é ser entregues às suas famílias para que possam, pelo menos, ser sepultados”, disse a deputada.

Assessoria de Imprensa da ALMG

Parentes de pessoas que ainda estão sob a lama acompanharam a reunião - Foto: Luiz Santana.

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