Curso de Engenharia Elétrica do IFMG forma seu primeiro estudante surdo

Aluno do Campus Itabirito apresentou um protótipo de automação residencial para surdos em seu trabalho de conclusão de curso. Conheça a história de Filipe Vieira Brison.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 14/07/2023, 11:22 - Atualizado em 14/07/2023, 11:22
Foto – Reprodução. Crédito – Arquivo pessoal Filipe Brison Siga no Google News

"Um estudante 'fora da curva'". Esta foi a definição encontrada pelo professor Elias Rezende Freitas ao descrever a trajetória do estudante Filipe Vieira Brison, do IFMG  - Campus Itabirito. Com apenas 31 anos e surdo, Filipe em breve receberá o título de bacharel em Engenharia Elétrica.

Intitulado “Protótipo Huet: automação residencial utilizando Libras”, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi apresentado neste semestre. Visando conectar objetos do cotidiano (eletrodomésticos, por exemplo) à internet, o protótipo Huet se diferencia por ser capaz de reconhecer alguns sinais de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para acionar equipamentos.

De acordo com Filipe, o protótipo Huet foi batizado em homenagem a Ernest Huet, professor surdo francês responsável pela criação da primeira escola para surdos no Brasil: o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ainda em fase inicial de desenvolvimento, o protótipo é composto de um nó central (um microcomputador de baixo custo) que realiza o processamento das imagens capturadas de forma descentralizada por várias plataformas microcontroladas e que podem ser espalhadas pela casa. "Ao identificar um determinado sinal de Libras pré-programado, o nó central envia uma mensagem via WiFi para outro microcontrolador que aciona/desaciona um relé, permitindo ligar ou desligar uma lâmpada ou um ventilador, por exemplo”, explica o estudante.

Orientador do TCC de Filipe e, também, do trabalho por ele desenvolvido durante um intercâmbio, o professor Elias Freitas o vê como exemplo de esforço, dedicação e sucesso. "Aprendi muito como professor, pois para mim foi muito novo dar aula e orientar uma pessoa surda, conhecer essa realidade e poder contribuir com a comunidade”, afirma o docente, que revelou a possibilidade de apresentar o protótipo do TCC em um congresso nacional.

Segundo o professor, os encontros de orientação eram acompanhados por intérpretes, além de outros recursos como a utilização de legenda automática e do Google Docs. “O final dessa jornada foi muito emocionante. Ver o Filipe apresentando o TCC com muita propriedade e desenvoltura, respondendo aos questionamentos da banca e, principalmente, buscando entender o que a banca estava propondo de melhorias foi algo marcante. Com certeza, o protótipo desenvolvido por ele será um passo na acessibilidade tecnológica para sua comunidade”, destaca Elias.

Ao ser perguntado sobre planos futuros, Filipe pensa em iniciar um mestrado e investir na carreira de engenheiro eletricista. Após passar um período como servidor público da Câmara de Itabirito, Brison hoje atua em Belo Horizonte, na área de elétrica e automação, desenvolvendo projetos de aterramento e de proteção contra descargas atmosféricas. (SPDA).  

Temporada em Portugal
Em 2019,  Filipe Brison foi o primeiro estudante surdo da Rede Federal a participar de intercâmbio acadêmico, uma iniciativa do Programa Internacionaliza, do IFMG. Durante cinco meses, o estudante esteve no Instituto Politécnico do Porto (IPP) trocando experiências e colaborando na pesquisa “Desenvolvimento de dispositivo para auxílio de pessoas surdas ou com deficiência auditiva capaz de captar e indicar o choro de bebês”. Durante o intercâmbio, Filipe foi acompanhado pelo tradutor de Libras, Paulo Mendanha, do Campus Itabirito, que esteve presente durante a maior parte de sua trajetória acadêmica.

“Filipe ingressou em 2016 na graduação e foi aprovado nas vagas de ampla concorrência, sendo o primeiro aluno surdo do ensino superior no Campus Itabirito. Com a entrada dele, professores e estudantes foram se adaptando e entendendo as necessidades de uma pessoa surda", relata o intérprete.

Foto - Reprodução. Crédito - Arquivo pessoal Filipe Brison

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