Discurso do paraninfo Claudio Coração faz um chamado ao gosto pela leitura como ferramenta de transformação

Leitura aconteceu durante solenidade simbólica de colação de grau dos cursos do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) e do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, (ICSA), ambas do primeiro semestre letivo de 2023.

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Por Daniel Marcos Publicado em 14/11/2023, 11:02 - Atualizado em 14/11/2023, 17:24
Foto — Professor Cláudio Coração. Crédito — Reprodução. Siga no Google News

A leitura do discurso do professor Cláudio Coração aconteceu durante sua fala como paraninfo na solenidade simbólica de colação de grau dos cursos do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) e do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, (ICSA), turmas do primeiro semestre letivo de 2023.

A colação dos cursos de História, Letras, Pedagogia, Administração, Ciências Econômicas, Jornalismo e Serviço Social aconteceu no dia 10 de novembro no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

Coração é Professor de Comunicação e Teorias da Comunicação no curso de jornalismo da Ufop e emocionou a todos com um discurso que agora poderá ser lido e compartilhado por mais pessoas.

O professor cumpre a sua missão, deixando uma mensagem que nos motiva a valorizar a leitura e a universidade pública por meio da aprendizagem. São esses os nossos melhores valores no processo de transformação social e de cada indivíduo. A leitura nos fortalece, nos conecta e nos liberta. O Jornal Voz Ativa parabeniza a todos os formandos!
Boa leitura!

Discurso Paraninfo – Formandos 2023-2 (ICSA/ICHS) - 10 de novembro de 2023, por Cláudio Coração:

Boa noite a todas e todos, aos integrantes da mesa, ao público presente, às pessoas homenageadas, e, especialmente, o motivo deste encontro, às formandas e aos formandos da, e pela, Universidade Federal de Ouro Preto: nos cursos de Jornalismo, Serviço Social, Administração, Ciências Econômicas, Pedagogia, Letras e História.

Em entrevista ao portal Metrópoles, no dia 28 de agosto deste ano, o escritor Jeferson Tenório, autor dos romances Estela sem Deus e O Avesso da Pele, ao comentar sobre o seu contato com o universo das palavras e dos livros, diz:

Fui um leitor tardio, comecei a ler com 23, 24 anos. Foi quando li um livro inteiro de literatura. E quando entendi o que significava foi uma sensação de tentar resgatar todo o tempo que eu havia perdido por não ter lido. Eu comecei a comprar livros, a conviver com os livros. Foi uma sensação também de raiva muito grande da sociedade. Eu pensava: “Por que não me disseram que ler era tão bom, que mudaria minha vida? ”. A leitura muda sua percepção do mundo, e às vezes materialmente, como a Carolina Maria de Jesus (autora de Quarto de Despejo). Ela, Carolina, tinha essa noção de que a literatura, no sentido mais alargado, a salvaria da pobreza, como a salvou por algum tempo.

Podemos destacar vários aspectos para lá de instigantes da fala de Tenório, mas me importa aqui neste momento de celebração salientar que a universidade pública brasileira, gratuita, de qualidade (tão aviltada nos últimos anos), pode e deve dizer, com insistência e contundência, que ler, não só o texto, evidentemente, como também a paisagem, a comunidade, os números, enfim, o mundo que nos cerca, ler é muito bom. Nas melhores oportunidades, a universidade permite vermos o mundo com olhares mais generosos, candentes de transformação. Então, podemos dizer, que isso que estamos chamando de percepção do mundo não pode dissociar conhecimento de transformação social; de comprometimento com as questões da nossa vida.

Então, celebrar este momento muito, muito especial, repito, é também gritar à consciência de que o tempo pode ser compreendido com as nossas melhores aspirações, os nossos melhores sonhos. Nesse sentido, reelaborando um pouco um trecho da fala de Tenório, fujamos do tempo marcado meramente pela demanda funcional, árida, utilitária, perversa. O tempo é mais do que isso, é o “tecido de nossas vidas”, como disse certa vez o saudoso professor Antônio Candido.

Se o tempo é o tecido, o sonho é um direito. Muitas vezes negado, mas é um direito a ser reivindicado. A trajetória de vocês, culminada aqui e agora, é esse sonho materializado de direito. Por mais que vozes, muitas vezes, ditem a hostilidade como guia, é preciso ter uma dose de rebeldia para questionar e afirmar que o “sonho não acaba”. Assim, o sonho é também um dever.

Diante disso, o término dessa etapa vivida por vocês durante os anos da universidade é prenúncio de construção. Há muito a se construir. Ou a se reconstruir, bem sabemos. Cada fagulha acesa no pensamento íntimo de cada uma e cada um de vocês, aponta para desejos, caminhos arquitetados. Que se concretizarão. Construir novas etapas da vida (pessoal e profissional) daqui em diante é também um trunfo coletivo. Voltando ao início, é assim que se tece o tempo, é assim que se aprende a ler. Com o outro.

Celebrar, sonhar, construir, verbos que precisam ser ditos e afirmados neste instante de enorme felicidade. Que saibamos frente a força deles, desses verbos, a necessidade, também, de lembrarmos: de quem fortaleceu e possibilitou que essa conquista chegasse: nas trilhas, nos obstáculos, nas escolhas. A dedicação de mães, de pais, familiares, amigos na jornada, os abraços das partidas e das chegadas. Um salve e um viva para cada um desses gestos, dessas pessoas. Que também são fios do tecido do tempo que transcorre. Lembremos de pessoas queridas que aqui não estão, mas que precisam ser evocadas em forma de oração e festa.

Os sonhos se constroem coletivamente, já disse. A busca por uma sociedade igualitária, soberana, passa pelo insumo desse sentimento coletivo. Que as conquistas aqui celebradas sejam marcadas pela força inconteste que vocês aqui afirmam nesta FORMATURA, no sentido mais nobre e libertador do termo.

Os convívios inesquecíveis no ICSA e no ICHS vão ficar para sempre fixados na retina de vocês, queridas e queridos: a resenha com o colega em um cantinho específico, os lampejos no corredor, a fuga necessária para a cantina, para a Jamaica, para a Matchu Picho, as tretas dos trabalhos em grupo na biblioteca, o cardápio do ru e a comparação com o de joão Monlevade, os sabores das melhores aulas, os amores… Cada parte desses territórios, vividos e revividos, PRESENCIALMENTE, como tem de ser, será motor de lembranças e histórias.

A travessia das fronteiras do ICSA e do ICHS nos leva à ocupação do espaço público das cidades de Mariana e Ouro Preto: as festas, as repúblicas, os encontros, o jardim, as feiras noturnas, as feiras diurnas, os festivais, o luau etc. A descoberta das cidades (isso vale para os que aqui chegaram e para o que aqui já estavam) é outro propósito definitivo de troca com a comunidade que nos abriga… de novo, leituras, percepção, tempos.

Essas descobertas foram e são embaladas, tenham certeza, com a diversidade desenhada como projeto possível de país. Muita gente edificou, e edifica, essa ideia. Continuemos, portanto, esse embalo: em beleza, com convicção, com empenho, com zelo ético. Construir o futuro é ter a noção do chão que pisamos, de onde viemos, do que somos, pra onde podemos ir.

Ler é uma urgência, diz Jeferson Tenório. Celebrar o tempo (“um dos deuses mais lindos”) é condição vital de redenção e revelação, sempre e sempre. Com isso, a perspectiva de um Brasil mais justo e solidário, presenciado pelo brilho de cada uma e cada um de vocês, neste momento, seja espelhada, daqui para o futuro, nos versos da canção de Marina Lima e Antônio Cícero: “e tudo de lindo que eu faço, vem com você, vem feliz, você me abre seus braços, e a gente faz um país. Sejam altivas e altivos na lida e na vida! PARABÉNS!"

Foto — Reprodução. Crédito — Cronograma

Um Comentário

  1. Jacilene 14/11/2023 em 15:08- Responder

    Perfeito!!

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