Convidados relatam desrespeito da Gerdau na demissão de cerca de 500 trabalhadores

Fechamento da usina em Barão de Cocais pauta debate na ALMG.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 05/07/2024, 13:28 - Atualizado em 07/07/2024, 11:11
Foto — Debate sobre o fechamento da usina da Gerdau em Barão de Cocais. Crédito — Alexandre Netto / ALMG. Siga no Google News

demissão de quase 500 trabalhadores com o fechamento de usina da Gerdau em Barão de Cocais gerou controvérsias em audiência pública nesta quinta-feira (4/7/24). Representante da empresa alega que tudo foi feito em diálogo com os empregados, os sindicatos e a prefeitura. Mas esses negaram, porém, e disseram terem sido surpreendidos pela decisão unilateral da Gerdau.

A reunião foi realizada pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Foram apresentados dados indicando que as demissões vão significar redução de 7,5% dos empregos do município. Em termos financeiros, 12,7% da massa salarial da cidade será perdida.

Representantes da Gerdau alegam baixa produtividade da planta de Barão de Cocais, instalada em 1988. De acordo com Guilherme Rangel Mattos, consultor jurídico da empresa, a usina é antiga e tem baixo nível tecnológico. Ele informou que, depois da decisão de fechamento, foram iniciados diálogos com todos os envolvidos e que se busca minimizar os impactos negativos da decisão.

Ele disse que a empresa tem buscado realocar alguns dos trabalhadores em outras plantas da Gerdau. Segundo Guilherme Rangel Mattos, estão abertas cerca de 200 vagas para esse arranjo e pelo menos cem empregados já aceitaram as propostas. Além disso, a empresa oferece cursos de capacitação para facilitar a reinserção no mercado de trabalho.

Como chamou atenção a deputada Beatriz Cerqueira (PT), a narrativa destoa da versão dos trabalhadores, sindicatos e representantes da gestão municipal. Todos eles negaram o diálogo e se queixaram de desrespeito da empresa. Segundo um dos empregados, Lúcio Bonifácio Pastor, eles foram “praticamente expulsos” da usina e vigilantes “supostamente armados” os escoltaram até a sala na qual foram avisados da demissão.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais, Elizeu Santa Cruz, acrescentou que a decisão surpreendeu em especial pelo histórico da empresa no município. Segundo ele, pelo menos desde 2012 a Gerdau tem retirado direitos e reduzido salários dos trabalhadores em negociações coletivas. Nessa, os empregados foram, segundo ele, coagidos a aceitar as perdas para que a empresa pudesse manter a planta no município.

Também o vice-prefeito, Lourival Ramos de Sousa, esteve presente e chamou de “injusta” a decisão da Gerdau. Conforme disse, a empresa não ofertou nenhuma alternativa ao fechamento e afirmou haver outras empresas interessadas na planta da usina. Ele sugeriu que seja feita a transferência para que os empregos sejam mantidos. O vereador Rafael Augusto Gomes acrescentou como outra alternativa estatizar a usina.

Os deputados Betão e Leleco Pimentel, ambos do PT, repudiaram a postura da empresa por apresentar informações inconsistentes na reunião. Também a deputada Nayara Rocha (PP) ressaltou que as informações de que houve negociações com trabalhadores e com a gestão municipal não são verdadeiras. 

Negociações só teriam começado depois das demissões

De acordo com alguns convidados, as negociações só começaram depois que as demissões se iniciaram. O representante do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Alberto Calazans, disse que foi informado da decisão no dia 26 de maio, um dia antes do início das demissões. “A decisão foi unilateral, não houve negociação”, afirmou.

Depois do início das demissões, ele afirmou que foram feitas reuniões com representantes da empresa para minimizar os impactos. Conseguiu-se, então, melhorar o acordo com os trabalhadores demitidos. Em primeiro lugar, eles receberão dois meses de salário, não apenas um mês como a proposta original. Além disso, receberão três meses de plano de saúde, quando inicialmente a empresa ofereceu apenas um.

Outra demanda que seria atendida pela empresa, segundo Calazans, é a manutenção de trabalhadores que estão próximos da aposentadoria. Seriam cerca de 80 empregados nessa situação, de acordo com levantamento da Gerdau.

Por outro lado, Calazans informou que a realocação de trabalhadores de Barão de Cocais tem se dado em Ouro Branco e em Divinópolis. Nessa última, já foram registradas 25 demissões, como informou o convidado, sugerindo que há substituição de profissionais.

Pesquisa questiona baixa produtividade da usina

Dados apresentados pela pesquisadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), Ana Letícia Godoi Silva, contestam alegação de falta de produtividade da empresa. Ela mostrou que, considerados os dados desde 2011, o faturamento da empresa deu um salto nos últimos três anos. Em 2020, esse faturamento foi quase quatro vezes maior se comparado ao ano anterior.

Segundo ela, esse aumento não foi consequência de maior produção, o que poderia resultar em mais postos de trabalho. O faturamento teria aumentado em razão do aumento dos preços do ferro, por causa do represamento da demanda durante a pandemia, e pela desvalorização da moeda nacional diante do dólar.

Nesse sentido, o aumento do faturamento sem aumento dos custos resultou em grande ampliação dos lucros e dos dividendos dos acionistas. Paralelamente, o número de trabalhadores ficou estável de forma que, de acordo com Ana Letícia Godoi Silva, em 2020 cada empregado foi responsável pela produção de quase R$ 1 milhão para a empresa. Ela questionou, portanto, a narrativa de que havia baixa produtividade. 

Anúncio do fechamento da usina, bem como os impactos econômicos e financeiros desse fechamento foram tema da Comissão do Trabalho. Crédito — Alexandre Netto / ALMG.

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